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Diversão e Arte

Reformuladas, as comédias românticas voltam a estar em alta

As comédias românticas estão se reciclando e recuperando o lugar de destaque, seja no streaming, ou no cinema. Mas o batido final feliz está mantido

"Chato", ;filme para gente sensível;, ;devagar;. Há alguns anos os adjetivos que definiam as comédias românticas não eram muito positivos. Após um período de ouro ; especialmente até o fim da década de 1990 ;, o gênero sofreu uma queda brusca nos números de faturamento desde o começo dos anos 2000. Mas parece que agora o panorama está mudando.

Seja na grande oferta original do streaming, seja derrubando blockbusters do topo da bilhetaria, as comédias românticas não voltaram ao gosto popular do nada, pelo contrário. O Correio conversou com alguns especialistas e profissionais do cinema que apontaram uma reciclagem do gênero, que sai da clássica receita de amor não correspondido para enredos mais detalhados e apostas na novidade. O streaming também teve papel importante para a retomada das comédias românticas.

Em 2001, os lucros das comédias românticas em bilheterias batiam a casa de mais de US$ 1 bilhão. Cinco anos depois, em 2006, essa bilheteria caiu para pouco mais de US$ 668 milhões; em 2011 desceu mais ainda, para US$ 654 milhões, e em 2016 bateu o menor número em mais de 20 anos: pouco mais de US$ 212 milhões, de acordo com os dados do Box Office Mojo.

Não é de se espantar que a queda nos lucros tenha assustado a produção nos estúdios. Ainda de acordo com a consultoria, em 2006, quatro comédias românticas entraram no ranking dos 50 filmes mais vistos do ano (O amor não tira férias ;18;, Separados pelo casamento ; 19;, Dois é bom, trés é demais ; 42; e Armações do amor ; 43;). Dez anos depois, apenas uma produção entrou na mesma lista (O bebê de Bridget Jones, na 39; posição).

Entretanto, é cedo demais para decretar a morte das comédias românticas na bilheteria, que estão voltando e não só ao cinema. Entre 2017 e 2018, a Netflix apresentou seis produções originais: O plano imperfeito, Quando nos conhecemos, Ibiza: Tudo pelo DJ, A barraca do beijo, Alex strangelove e Para todos os garotos que já amei. Não é possível ponderar os ganhos desses filmes ; tendo em vista que a empresa não divulga o número de audiência, entretanto, o número de produções em um curto período de tempo indica uma predisposição para o gênero pelos usuários do serviço.

Primeiro lugar

No cinema, há dois fins de semana a comédia romântica mostrou que ainda tem força. O filme Podres de ricos ultrapassou em bilheteria a promessa de blockbuster Megatubarão nos EUA. Enquanto Megatubarão alcançou US$ 21,5 milhões em 3.384 salas de cinema na terra do Tio Sam, Podres de ricos conseguiu pouco mais de US$ 25 milhões no fim de semana de estreia na América do Norte (17, 18 e 19 de agosto). Pode não parecer uma diferença muito grande à primeira vista, mas é importante lembrar que Megatubarão teve um orçamento bruto de US$ 150 milhões, e foi derrubado por uma comédia romântica que custou apenas US$ 30 milhões.

Megatubarão já chegou ao Brasil e Podres de ricos está programado para estrear ainda em 2018 por aqui. Lembrando também que até o fim do ano outras comédias românticas prometem brilhar nos cinemas, como Operação supletivo e Alma da festa.


A "nova" comédia romântica

Enquanto Podres de ricos tem um elenco majoritariamente asiático, e uma protagonista que se propõe a não abaixar a cabeça para a família rica do noivo, Para todos os garotos que já amei ; o mais novo lançamento da Netflix ; aposta em um enredo com importantes reviravoltas, e Alex strangelove apresenta uma história de descoberta sexual, além da clássica paixão adolescente.

À primeira vista, a grande impressão que fica é que parte das novas comédias românticas estão apostando em uma nova vertente de atuação. Entretanto, o professor do Departamento de Audiovisual da Universidade de Brasília (UnB) Pablo Gonçalo defende que se trata mais de uma tendência, que mira em um público mais internacionalizado, e não é necessariamente uma mudança na receita original do gênero.

;Eu acho que é uma tendência. As comédias estão mais abertas a um publico internacional, seja com personagens, ou histórias, e isso quem influencia muito é a Netflix. Ela trabalha coproduções de uma forma que Hollywood nunca trabalhou. Isso gera o que eu percebo como uma roupagem diferente. Contudo, as regras de gênero, que envolvem conflito, aquele final feliz, é ainda muito engessado;.

Gonçalo ainda aposta que a tendência é vermos mais das comédias românticas nesta nova roupagem, e inclusive com uma dinâmica de maior poder frente aos grandes filmes de ação: ;Atualmente, o termo blockbuster está defasado, o modelo de interação é outro, você contabiliza o sucesso de forma diferente. O efeito das grandes produções está baseado em grande parte na força de exportação, mas quando ocorre um fenômeno de organizadores de conteúdo, com uma lógica da internet, fica tudo mais dinâmico;.

O cineasta Felipe Gontijo também aponta o papel dos serviços de streaming para a retomada das comédias românticas. ;Se tiver um público com mais tendência nesse contexto, elas (as empresas, como Netflix) apostarão no formato. O raciocínio, nesse contexto, é que os desafios vão surgindo durante o tempo e as pessoas vão se adaptando. É como na música, os riscos da inovação são muito bem balanceados pelas empresas de audiovisual. Esse é um gênero que está em constante evolução, você não pode esperar que todos os filmes sejam maravilhosos, mas a tendência é melhorar;, aponta Gontijo.

*Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader