Sete dias de encontros com autores e artistas da cidade em bares espalhados pelo Plano Piloto marcam a segunda edição da Movida Literária, que tem início hoje com apresentação de poesias e debate. Se, no ano passado, os idealizadores apostaram no financiamento coletivo do Catarse, este ano eles fizeram tudo apenas com apoio e colaborações. O sarau de poesia antes do início das mesas será dedicado a uma poeta mulher do Distrito Federal. Ela terá 30 minutos para falar e declamar.
Gaúcho radicado em Brasília, Jeferson Assumção, idealizador da Movida e um dos curadores ao lado de José Rezende Jr. e Nicolas Behr, percebeu que os versos estão entre as expressões literárias mais praticadas na capital. ;Essa é a grande característica da literatura em Brasília, é a poesia. A cidade se expressa muito pela poesia, tem muitos grupos.;
A curadoria ficou por conta de Nicolas Behr, que convidou apenas mulheres, boa parte da periferia, e cujos nomes ainda são pouco conhecidos na cidade. As exceções são Meimei Bastos, que encerra o evento, e Carla Andrade, que abre a Movida e tem quatro livros publicados. ;Mas as outras são pessoas que não são conhecidas do meio, do circuito;, avisa Behr.
Na lista de autores convidados entram alguns dos nomes mais importantes da produção literária contemporânea brasiliense.
João Almino e Nicolas Behr abrem a Movida hoje no Beirute da Asa Sul com um encontro mediado por João Vianney Cavalcanti Nuto. Duas vezes finalista do Prêmio Jabuti e segundo colocado no ano passado por Enigmas da primavera, Almino é autor de sete romances, sendo cinco deles parte de uma série que tem Brasília como cenário e, eventualmente, como protagonista. Behr está entre os poetas mais conhecidos da cidade, que também é tema de boa parte de seus versos.
Amanhã, é a vez de Gustavo Pacheco e Roberto Seabra. Convidado da última Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e autor do celebrado Alguns humanos, Pacheco é antropólogo e diplomata. No livro de estreia, apresenta um conjunto de contos nos quais o humor negro, o estranhamento diante do comportamento humano e a ironia são instrumentos para falar de um universo quase kafkiano de fatos inspirados na vida real. São narrativas que, de certa forma, fazem uma crítica à sociedade contemporânea. ;Não só à sociedade contemporânea, mas às limitações de pensamento em geral. O desafio é fazer isso de maneira convincente e a maneira mais fácil de fazer isso de maneira convincente, é trabalhar com base na realidade, nessas histórias que parecem inventadas, mas não são;, explica o autor, em entrevista ao Pensar em julho último.
A experiência humana também é material para Roberto Seabra, jornalista e servidor da Câmara dos Deputados, autor de Silêncio na cidade, sobre o assassinato da menina Ana Lídia, em 1973. Entre os convidados também está José Almeida Jr., autor de Última hora, ganhador do Prêmio Sesc de Literatura. No livro, Almeida Jr. reconstitui a vida de um jornalista na redação de um dos jornais mais emblemáticos dos anos 1950.
Além dos autores de ficção e da poesia, Assumção também quis jogar uma luz sobre os coletivos literários da cidade. Os integrantes da Dente ; Feira de Publicações e do Coletivo Transverso têm encontro marcado na quarta-feira, no Objeto Encontrado. A mediação fica por conta do Subplano, coletivo de 10 autores da cidade. ;Trouxemos o pessoal que está fazendo literatura não apenas nos livros, mas na internet, nos muros da cidade, fazendo hip hop, rap;, avisa Assumção. ;Essa é a ideia da movida, dar uma mexida tanto do ponto de vista geográfico, porque as atividades acontecem em diferentes áreas, quanto do ponto de vista de envolver outros atores para dentro do evento, atores que fazem literatura em outros suportes.;
Movida Literária
De hoje a sexta, das 19h30 às 21h30, em bares da cidade. Confira programação no www.correiobraziliense.com.br
POETAS
Carla Andrade ; Jornalista, publicou quatro livros de poemas, Caligrafias das nuvens, Conjugação de pingos de chuva, Artesanato de perguntas e Voltagem. Hoje, às 19h30, no Beiture da Asa Sul
Kika Sena ; Arte-educadora, escritora e performer, natural de Alagoas, representou o Distrito Federal no slam BNDES da Festa Literária da Periferia (FLUP), em 2016. Mulher trans e feminista, é mestranda em artes cênicas e mediadora de exposições. Escreveu Periférica, publicada pela Padê Editorial. Amanhã, às 19h30, no Bar Padim.
Natália Cristina ; Produtora cultural, arte educadora e coordenadora editorial da AVÁ, uma editora artesanal. Estreou com a autopublicação Emaranhados e tem vários poemas publicados em revistas e zines. Segunda, às 19h30, no Sebinho.
Joyce Viana ; Estudante do curso de letras da Universidade de Brasília, é atriz, poeta e perfomer, ativista negra e integrante do coletivo Culto das malditas e Cosmologia preta. Faz o blog Nevoeiro de troca. Terça, às 19h30, no Ernesto Café.
Nanda Fer Pimenta ; Moradora de São Sebastião, finalista do slam DF e autora de Sangue, publicado pela Padê, é arte ativista. Vai dividir o sarau com Inês Catão, médica e psicanalista, integrante do coletivo Subplano. Quarta, às 19h30, na Objeto Encontrado.
Thais Rodeiro ; Estudante de letras da UnB, publica poesia nas redes sociais. Quinta, às 19h30, no Martinica Café.
Memei Bastos ; Nascida em Ceilândia, aluna do curso de artes cênicas da UnB, é coordenadora do Slam Q;Brada e conselheira de cultura de Samambaia. É autora de Um verso e mei, publicado pela Malê. Sexta, às 19h30, no Beirute da Asa Norte.