Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Cenário musical se renova pelos novos lançamentos de bandas

Música brasiliense ganha fôlego, pela renovação de artistas. Conheça os trabalhos dos grupos Esquina, YPU e Cabra Guaraná

Há alguns anos, a capital voltou a viver momentos de efervescência da cena musical. Novas bandas, artistas e projetos apareceram e ganharam espaço no cenário. O Diversão & Arte selecionou três grupos que vêm se destacando. Conheça a seguir o trabalho das bandas Esquina, YPU e Cabra Guaraná.


Esquina
Composto pelos irmãos Bood (vocal e teclado) e Moriah Rickli (bateria e vocal), o duo foi formado oficialmente há um ano, mas era um projeto que já fazia parte do dia a dia dos músicos há mais tempo. ;Como somos nascidos de uma família de músicos, a vontade de tocar sempre foi uma rotina. O início da banda, de fato, se deu por conta das composições que começaram a surgir de forma despretensiosa. Aos poucos, fomos vendo que tínhamos algo a falar, e que a música era a linguagem que melhor sabíamos usar. Depois de muitas tentativas, formações, ensaios e planos, o Esquina surgiu da forma que existe hoje;, explica Rickli.

Em maio deste ano, o Esquina lançou o primeiro EP da carreira, o álbum De dentro pra sempre. O disco tem canções que haviam sido compostas pelos irmãos há alguns anos e mostra a sonoridade que eles buscavam, um rap brasileiro com batidas mais orgânicas e influenciado por ritmos como jazz e neosoul. ;A principal intenção desse lançamento foi soltar aquilo que tava guardado na mochila para poder andar pra frente;, revela Moriah Rickli.

Há duas semanas, os irmãos anunciaram o segundo EP, intitulado Cês não tão entendendo nada, que já teve um dos singles lançado, a faixa Modo avião. O nome da canção também deu origem a um projeto de websérie no YouTube, em que Moriah e Bood compartilham o processo de composição das novas faixas que foram feitas durante uma viagem à Europa. ;Cada música veio de um sentimento diferente: tristeza, saudade, alegria; enfim, a gente quis mostrar ao nosso público o contexto no qual cada uma dessas músicas foi criada pra levá-los a viver aquilo que a letra diz, e não só ouvir;, completa o vocalista e baterista. Terça-feira (4/9), a partir das 21h, o duo lança mais uma canção do projeto em seu canal no YouTube (/esquinarap).
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Entrevista / Esquina

O rap é um estilo que tem um espaço importante no cenário musical do DF. Como tem sido para vocês a introdução nesse cenário já que tem influências de outros estilos também? O que os atraiu no rap?

Bood: A gente ainda tá tateando por qual porta entrar. Vou tomar como exemplo a banda Ataque Beliz, que tinha um som parecido com o nosso e veio bem antes da gente. Se você for conversar com a galera do rap, pouca gente acompanhava e conhecia de fato essa banda, e foi uma das melhores bandas que Brasília já teve. Então eu sinto que o público do rap ainda tá assimilando essas formas diferentes de se fazer rap. Por outro lado, públicos de outros estilos encontram no nosso som algo especial. A gente ouve muito comentário do tipo "ah, esse tipo de rap eu gosto". Eu fico meio incomodado, porque pra mim as outras vertentes do rap merecem respeito e são tão musicais quanto a nossa, mas por outro lado fico feliz de ver que a pessoa ouve algo novo, algo diferente no nosso som. O que mais me atrai na música rap é o canto falado, isso prende muito o ouvinte. Parece um diálogo, uma conversa muito direta, um tipo de conselho, que acaba prendendo muito a atenção de quem escuta, e atenção nos dias de hoje é algo muito valioso.

Quais são as principais influências e inspirações do Esquina?

Bood: Dentro do rap, quem mais inspirou a gente foram artistas Kamau, Emicida, Criolo, Rashid, Rael, Ogi, Don L, Marechal. A gente cresceu tocando música brasileira e jazz no geral, então vira e mexe você vai encontrar no nosso som algum elemento que remeta a algum ritmo brasileiro, algum tipo de acorde que remeta ao jazz... Um artista que influenciou muito nossas harmonias nos últimos lançamentos é o Jordan Rakei, um cantor e pianista inglês que faz um som num estilo neosoul, que se aproxima muito do que a gente faz. Isso até então, porque todo dia a gente busca conhecer músicas novas, novas formas de compor, então influências e inspirações estão sempre mudando e se renovando.

Quais são os projetos atuais e futuros da banda?

Moriah Rickli: Apesar de já termos muito tempo de projeto (a ideia da banda praticamente nasceu com a gente), temos apenas um ano de Esquina. A proposta a partir de agora é tocar, tocar e tocar. Queremos estar no palco, levar nossas ideias pra todos os tipos de pessoa. Queremos mostrar que o rap pode falar de qualquer coisa, em qualquer formato, pra qualquer classe social, em qualquer situação. Esse início é difícil, mas a gente tá trabalhando muito pra tornar tudo isso real.


YPU
Com experiência em diferentes projetos musicais de Brasília, como Joe Silhueta, Almirante Shiva e Aiure, os músicos Ayla Gresta e Gustavo Halfeld decidiram unir as trajetórias no duo YPU. A dupla surgiu após os artistas terem sido convidados para o filme Ainda temos a imensidão da noite, do cineasta brasiliense Gustavo Galvão com produção do norte-americano Lee Ranaldo, membro fundador da banda Sonic Youth. No longa-metragem, eles interpretam os integrantes de um grupo fictício, Animal Interior.

;O YPU deriva da banda Animal Interior, que tivemos que montar em três ou quatro meses para o filme. Atuamos e rodamos cenas do filme ao vivo;, explica Gustavo. ;É um filme que trata bastante dessa questão das bandas de Brasília, de como é o ;rolê; de ter uma banda e ser músico na cidade. Foi filmado aqui e em Berlim, quando partimos para a Europa começamos a compor as músicas (que deram origem à YPU);, completa Ayla.

Da banda do filme, a dupla trouxe a instrumentação com ruído. Da trajetória musical dos artistas, veio a experimentação. Assim, eles criaram o conceito de ;música visual; do YPU. ;O projeto tem esse lance de canção forte, a bagagem do jazz e também algo que está muito presente é o lance cinematográfico de performance, que é outra área que Ayla já vinha desenvolvendo;, revela Gustavo.

Em junho deste ano, a dupla lançou o primeiro EP, que é formado por três faixas (Nightflight, Ilmesmühle e Song to let go) e revela uma instrumentação com guitarras, trompete e detalhes eletrônicos com influência de noise e dream pop. O disco foi lançado pelo selo Quadrado Mágico e foi gravado durante a passagem pela Europa e pela Ásia entre novembro do ano passado e abril de 2018. ;Depois do filme, ficamos soltos e com uma mochila, um microfone e um computador, por onde passamos, a gente gravou. Foi meio que um retrato dessa vivência;, conta Gustavo.

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Após o lançamento do EP, a banda foi convidada para o festival Vaca Amarela, que será realizado em 7 de Setembro em Goiânia, onde se apresentam ao lado de nomes como Letrux, Rubel e Lupa. O duo também já tem datas em novembro na Cervejaria Criolina e estão confirmados na edição de dezembro do PicniK. Além disso, também farão parte de um EP em parceria com outros artistas de Brasília produzido pela casacájá.
Cabra Guaraná
Em junho do ano passado, o músico Tynkato viu a banda da qual fazia parte, Lista de Lily, terminar. Assim que o grupo acabou, ele decidiu se juntar com o amigo, o também músico Maurício Barcelos, da MDGNHT MDNGHT, e criar um projeto eletrônico que ganhou o nome de Cabra Guaraná. ;No começo, a pegada não era muito o funk. Queríamos fazer um esquema mais Gorillaz, mas eu sempre fui meio funkeiro e nessa época estava pesquisando muito sobre funk e começaram a sair as músicas de funk;, explica Tynkato.

;Quando começamos a fazer show, a gente já tocava as músicas mais funks e tinha uma repercussão bem maior, porque fazemos esse funk meio diferentão;, classifica Tynkato. Estilo esse que está no primeiro EP do duo, Pochete divulgado em maio nas plataformas digitais e lançado pelo selo Cena Cerrado, de Uberlândia (MG). Com 16 músicas, o material começa com um manifesto de Mr. Catra contra a criminalização do funk e tem canções que bebem da fonte de outros estilos musicais também, com o hip-hop, o rap e reggaeton, sempre com letras bem-humoradas.

Ao se assumir como uma banda funkeira formada por roqueiros, a Cabra Guaraná conquista um espaço interessante na cena brasiliense. ;Estamos tentando trazer essa cena de funk, não só de funk, mas uma coisa de Brasília mesmo. A gente tem que ter esse orgulho. Sou de Taguatinga, escrevi todas as letras das músicas e achei que a gente precisava falar mais da nossa cidade mesmo, levantar a bandeira;, conta e cita a música Asa Norte koreana.

Atualmente, o projeto tem sido tocado apenas por Tynkato, que tem feito shows em Brasília e também em locais como Goiânia, Uberlândia, São Paulo e Uberaba. ;O Maurício deu uma parada. Então, estou levando sozinho. Temos dois formatos: um formato que sou só eu sampleando e outro com dançarino;, explica.
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