Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Fotógrafo de guerra espanhol, Ricardo Vilanova, expõe em Taguatinga

O fotojornalista de zonas de conflito passou mais de seis meses sequestrado pelo Estado Islâmico em 2013


Registros da violência que, por sete anos, tem arrasado a Síria foram expostos nos muros da Galeria Olho de Águia, onde Ricardo Garcia Vilanova apresenta a série de fotografias Ascent and fall of the Isis (Ascensão e queda do EI). Premiado internacionalmente, o espanhol estará em Taguatinga para a abertura do projeto Imagem sem fronteira a convite do dono do local e também fotojornalista Ivaldo Cavalcante.

;Eu acredito que devemos mostrar o que acontece, porque são essas imagens que despertam a sociedade para o horror da guerra;, defende o espanhol em entrevista ao Correio Braziliense. Acostumado ao risco, Vilanova é especialista em registrar zonas de confronto e de crises humanitárias. A missão de cobrir a Síria o levou a ser sequestrado por agentes do Estado Islâmico em 2013. Ele esteve aprisionado em cativeiro por mais de seis meses.

Sobreviveu, ao contrário de dezenas de colegas jornalistas. O conflito na Síria provocou a morte de mais de 500 mil pessoas e a expatriação de outras seis milhões. Entre as vítimas, quase 200 jornalistas estrangeiros e locais foram assassinados pelas mãos dos extremistas islâmicos, segundo levantou a ONG Repórteres sem Fronteiras em abril deste ano. Países em zonas de confronto, como Líbia e Iraque, também passaram pelas lentes de Vilanova.

Limites


Não há tempo para vaidade estética em meio ao fogo cruzado. ;Minhas fotos são muito intuitivas;, diz Vilanova. Ele conta que o fotógrafo tem de estar muito atento a tudo ao redor para que ainda consiga transmitir a sensação de urgência do momento, informação e um bom enquadramento ; tudo em questão de milésimos.

Para saber se o registro passou de informativo para desrespeitoso, o fotógrafo recorre a truque simples: põe-se no lugar do protagonista da cena e avalia se gostaria de que a própria família visse aquilo. A negativa faz com que descarte a imagem. ;Sei que isso é bem subjetivo, e que está condicionado à cultura e à educação de cada um de nós, mas, para mim, esse seria o limite definitivo.;



;Nossa responsabilidade como fotógrafos é transmitir imagens, contar histórias e fazer com que sejam registradas pela retina do espectador. Todos os dias, somos inundados por milhares de imagens e nossa missão é filtrá-las para assegurar a transmissão da mensagem. Para mim, isso é alcançado quando o fotógrafo provê três elementos: a captura do momento, a capacidade informativa e uma composição impecável;, completa Vilanova.


Sem fronteiras


Esta é a segunda edição do Imagem Sem Fronteiras, projeto idealizado por Ivaldo Cavalcante com objetivo de promover intercâmbio com fotojornalistas de destaque mundial. A exposição de Ricardo Garcia Vilanova ficará instalada até 30 de setembro, a partir de quando dará lugar a de Pep Bonet, cineasta e fotojornalista cujos trabalhos vão de clipes do grupo Motorhead a registros das consequências da guerra em Serra Leoa, além de trabalhos com foco em soropositivos.



Ivaldo Cavalcante, fotojornalista de currículo impressionante que na carreira também fotografou ambientes hostis e desprovidos de dignidade humana, vê grande nobreza em registrar guerras. ;São pessoas que se doam, que se colocam em risco para mostrar as atrocidades provocadas por esses conflitos;, elogia.

Exposição Imagem sem fronteira II
Ascensão e queda do EI. Quarta (12/9), às 21h, na Galeria Olho de Águia (CNF Ed. Praiamar, Taguatinga Norte; 99996-2575). Entrada franca. Classificação indicativa livre.

*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira