Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Sem diálogos, peça usa elefantes para metáfora sobre ser humano

São 12 cenas marcadas pelo movimento e pela expressão corporal

A estreia do espetáculo Quando os elefantes saem para passear será hoje, às 20h, no Teatro Garagem da 913 Sul, e promete um enredo pouco convencional para trabalhar a expressão de uma forma lúdica, e ao mesmo tempo, histórica. A apresentação, que também ocorre amanhã, não conta com diálogos, mas usa de vários elementos cênicos para que o público possa mergulhar em uma verdadeira catarse de emoções.

Marcela Hollanda, renomada dramaturga teatral ; que trabalhou com dois outros espetáculos sem diálogos ; e diretora da peça, explica um pouco mais sobre o enredo da história. ;São três atores, temos um semi-humano e duas elefantas. Serão apresentados em 12 solos, não há diálogos, mas há a interpretação de imagens dramáticas. A metáfora do elefante se refere a nós mesmos, de como neste mundo difícil a gente pode ir criando essa casca, uma distância. Mas, ao mesmo tempo, a gente também consegue manter uma ternura interna;, assinala.

A diretora, que leciona teatro há mais de 20 anos, também acredita que a mensagem teatral não precisa necessariamente ficar presa à linguagem, pelo contrário. A força do movimento e da expressão corporal, associada a elementos cênicos podem compor uma apresentação de forte impacto. ;É como se fosse um sonho, que às vezes não tem palavras, mas tem textura, e nos emociona. Esse é um espetáculo que espero que emocione, que as pessoas possam sentir. Eu trabalho com uma pauta musical que ajuda o público a alcançar esses sentimentos propostos, é uma trilha que vai de Bach até as músicas mais minimalistas, além de toda a iluminação;.


Entrega

No palco para as apresentações, estarão os atores Karla Juliana, Marcelo Lucchesi e Renata Cardoso. O Correio também conversou com Renata para entender um pouco mais da construção do espetáculo na prática. ;Foi um processo de muita entrega, eu nunca tinha feito nada tão intenso assim, ao mesmo tempo essa foi uma das grandes dificuldades. (O espetáculo) tem uma profundidade de emoções muito grande, mas essa volta aos palcos com ele me atraiu muito, principalmente porque a gente trata muito do peso e da leveza. A imagem do elefante te traz essa doçura, mas, ao mesmo tempo, tem esse peso muito grande;, argumenta a atriz.

;É muito engraçado por que as pessoas quando vem falar da peça comigo, a primeira coisa que perguntam é: ;e de quem é o texto?;. E a gente fica tipo: ;então, não tem um texto;. Se tornou muito comum a gente, no teatro, ter essa coisa da necessidade de uma base escrita, a necessidade do decorar, de falar alto, eu mesma estranhei no começo, mas com o tempo o meu corpo foi se adaptando a essa falta da linguagem e focando no olhar, na respiração, e agora eu fico, caramba, minhas expressões também podem passar uma mensagem;, avalia Renata ao comentar sobre a singularidade da falta de diálogos em Quando os elefantes saem para passear.

Tal particularidade, de acordo com a atriz, é mais acentuada especialmente se comparada com o atual contexto de profundidade sentimental da sociedade ; ou a falta dela: ;Eu sinto as pessoas muito superficiais, eu conheço o quanto o que é exposto em redes sociais não é necessariamente a verdade, as pessoas estão, cada vez menos, querendo lidar com sentimentos negativos, com qualquer sentimento na verdade, eu acho. Ter de lidar com isso parece que vai deixar as pessoas vulneráveis, mas o que falta perceber é o quanto essa vulnerabilidade é importante;.

* Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira


Quando os elefantes saem para passear
Hoje e amanhã, às 20h. Teatro Garagem (Sesc 913 Sul). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 14 anos. Haverá outras sessões nos dias 28, 29 e 30 de setembro, e 5, 6 e 7 de outubro, com preços e horários semelhantes, no Espaço Cultural Ary Barroso (Sesc 504 Sul).