Diversão e Arte

Cinema universitário amplifica voz de minorias no Festival de Brasília

Público que foi ao Festival Universitário reclama de horário dado à mostra de estudantes de cinema

Robson G. Rodrigues*
postado em 16/09/2018 19:43
Gabriele Fernanda é a única representante do DF com ColoriráO segundo Festival Universitário de Cinema de Brasília (Festuni) terminou neste domingo (16/9). Durantes dois dias, a mostra realçou o pensamento contemporâneo de jovens cineastas no Brasil. Estudantes de 10 estados e do Distrito Federal demostraram inventividade e senso crítico nos trabalhos focados em grupos desprivilegiados socialmente em diferentes âmbitos.

Realizada desde o ano passado, a mostra integra a programação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Os 20 curtas selecionados foram exibidos no primeiro fim de semana do festival. Depois das sessões, realizadores e público tiveram oportunidade de debater a exibição. Os filmes concorrem ao Troféu Candango em três categorias do Festuni: melhor filme, melhor direção e escolha do público. Os vencedores serão conhecidos na festa de encerramento do Festival, em 23 de setembro.

Sem amarras

;Não pensamos em selecionar filmes porque tratam de gênero ou de raça. Eram os melhores filmes da leva que recebemos para esta edição. Foram os filmes que sentimos mostrar a diversidade da produção universitária hoje;, comenta Caíque Novis, membro curador da mostra e professor na Universidade de Brasília (UnB).

Assim como na primeira edição, o festival é organizado por alunos da UnB, sob orientação das professoras e cineastas Dácia Ibiapina e Érika Bauer. Além de Bauer e Novis, a curadoria é composta pelos cineastas Glênis Cardoso, Mike Peixoto e Viviane Ferreira ; também ligados à instituição federal.
Mike Peixoto, Glênis Cardos, Dácia Ibiapina, Caíque Novis e Érika Bauer
Bauer crê que o cinema universitário preserva liberdade que dá força aos filmes. Para ela, essa qualidade é atenuada com o passar do tempo na vida de realizadores. ;Os filmes de estudantes mostram a genuinidade do que se passa no imaginário atual dos jovens. Demonstram essa liberdade para expor problemas e inquietações. Não existe compromisso com o mercado, existe compromisso consigo mesmo e com a própria produção;, opina.

;A velhice é reacionária;, brinca Dácia Ibiapina, que competiu na edição passada com o curta-documentário Carneiro de ouro, pelo qual conquistou o júri popular do festival. ;Eu acho que a juventude tem mais uma libido, uma energia, um desejo de transformar e uma frustração. Os filmes selecionados relevam esse estado de alma;.

Recém-formadas

O filme Colorirá foi o único representante do Distrito Federal e do Centro-Oeste no Festuni. Foi dirigido pela recém-graduada em cinema na UnB Gabriele Fernanda, 27 anos. O curta aborda racismo na infância e também participará da mostra infantil do 2; Festival Internacional de Cinema de Realizadoras (Fincar), em Recife.

;É uma emoção ver pela primeira vez o filme em uma tela grande e sentir a reação do público;, conta Gabriela. Ela colocou na narrativa a experiência traumática que sofreu de não aceitação do próprio cabelo. Recorria a alisamentos, tal como aprendeu desde pequena. ;A avó alisa o cabelo da mãe, que faz o mesmo com a filha. Se a gente não quebrar esse círculo, a filha passará para a neta. E é importante quebrar ainda na infância, pois a transição é libertadora, mas é muito difícil;, reflete.

A cearense Kamila Medeiros, de 28 anos, emplacou no 28; Cine Ceará e no Festuni o primeiro filme que dirigiu, Capitais. ;Foi primeira realização no cinema, então estou muito feliz. Sou diretora, roteirista, montadora e atriz no filme;, conta a moça. Ela é formada em publicidade pela Universidade Federal do Ceará e aluna de cinema no Porto Iracema das Artes. ;Que bom termos essa visibilidade de participar dessa mostra dentro de um dos mais importantes festivais no Brasil, se não for o mais importante;, celebra. ;Essa interação com cineastas de outros lugares é maravilhosa. Eu e um pessoal do Nordeste que conheci aqui estamos até pensando em fazer uma coprodução;, conta a publicitária que prepara o segundo filme.

Horário difícil

O horário do início da sessão do Festuni, às 9h de sábado e às 9h de domingo, não agradou ao público que compareceu ao Cine Brasília para prestigiar a mostra.

;É muito cedo. A gente chega e a produção ainda está arrumando várias coisas;, queixa-se o estudante de comunicação Maurício Ferreira, 23 anos. O brasiliense acredita que o horário desprivilegiado não faz jus à qualidade das produções e desmotiva o público.

A organizadora da mostra Glênis Cardoso diz que nos próximos anos tentarão fazer com que ela seja contemplada em dois fins de semana. ;Teríamos sessões mais curtas e que começariam mais tarde;, almeja.

*Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader

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