Diversão e Arte

Confira a crítica de 'Luna', filme da mostra do Festival de Brasília

Longa-metragem foi exibido na Mostra Competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Ricardo Daehn
postado em 19/09/2018 06:30
Cena do filme Luna: Descobertas juvenis travadas pelos perigos da web
Marcos para a irradiação da temática da juventude brasileira nas telas de cinema, Houve uma vez dois verões (2002) e Nome próprio (2007) não acessavam (ainda que um se fixasse na internet como meio de expressão) um tema caro ao díptico atualmente nas telas: Ferrugem (melhor filme, no Festival de Gramado) e Luna, de Cris Azzi, concorrente a prêmios Candango no Festival de Brasília. Ambos lidam com as consequências de desastrosas exposições de corpos juvenis na internet.

Luana (Eduarda Fernandes) e Emília (Ana Clara Ligeiro) quase que, de imediato, afinam a cumplicidade, ao se conhecerem na escola. Ritos e rituais abraçados pelas moças convergem para a iniciática sessão de vivências (entre as quais, experimentar drogas). Na base da curiosidade, acatam estímulo de um dos personagens que vê todos como ;matéria em transformação;, ao mesmo tempo em que destaca que ;esse mundo é muito pouco;.

Ainda que traga breves traçados políticos ; há personagem que estampa, na camiseta, ;amar sem temer;, e se coloca em debate sobre golpe e sobre a possibilidade de o ;jogo democrático sair vitorioso; ;, Luna especula, na verdade, sobre jogos da formulação de identidade sexual e o vigor dos rompantes e das atitudes nas personagens que caminham para a segunda idade. Pela proximidade e dada a solidão compartilhada, Luana e Emília flertam, se tocam das realidades sociais díspares (em barreiras prontamente quebrada) e desviam dos padrões que Luana seguiria para ser a ;filha perfeita;. Luís Abramo, diretor de fotografia, exacerba a unicidade das moças em belos enquadramentos à la Persona (1966).

Cena do filme Luna

Badalação, beijo triplo, masturbação e demais descobertas prazerosas são quebradas, tal qual Ferrugem, pelo despontar da perversidade da divulgação de vídeo íntimo de Luna (o codinome de Luana na internet). ;Forte e determinada;, como descrita numa cena revoltante, às vias de quase ser molestada, em que é examinada (aos moldes de uma escrava), Luana, desnorteada, tem nas mãos a possibilidade de uma guinada social. Com motes questionadores, a trilha sonora intervém, na toada da ótima interpretação das atrizes estreantes. Se valendo de aspectos da natureza (que remete a Os famosos e os duendes da morte), o diretor organiza um tenso quadro que junta maternidade, agressões e reações. A cena final é, desde já, arrebatadora e emblemática para o cinema nacional.

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