Diversão e Arte

Performances sobre mobilidade tomam conta de espaços públicos

Artistas pesquisaram o transporte na cidade para conceber as obras

Nahima Maciel
postado em 20/09/2018 06:46

O Setor Comercial Sul (SCS) e espaços públicos de três regiões administrativas se transformaram no palco para um grupo de quatro artistas se debruçar sobre o tema da mobilidade. Até sábado, Gu da Cei, Marcela Campos, Thalita Perfeito e Allan Rut apresentam obras e performances resultantes de uma residência realizada entre agosto e setembro como parte do programa Residência Móvel, realizado pela secretaria da Cultura com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

Coordenada pela artista Cecília Bona, a Residência Móvel promoveu o encontro entre os artistas e especialistas em mobilidade, urbanismo e representantes do Rodas da paz para falar sobre os desafios do transporte nas grandes cidades. Cecília queria colher o ponto de vista dos artistas para uma questão que a preocupa há anos. Residente do Plano Piloto, ela optou por se deslocar, sempre que possível, sobre duas rodas.

Depois de morar um tempo longe do centro da cidade, a artista se deu conta da dificuldade de circular entre as regiões administrativas e o Plano Piloto. O deslocamento solitário, as distâncias e a precariedade do transporte coletivo ficaram evidentes e foram propostos como temas aos quatro artistas convidados. ;Se pudesse, não usaria carro nunca;, explica Cecília. ;Fico pensando no que falta para que tudo possa ser diferente, para que a gente entenda que o carro não é indispensável.;

Os artistas fizeram descolamentos de bicicleta durante a residência

Aprovado dentro do edital de residências do FAC e com uma verba de R$ 40 mil, o projeto contou ainda com Luísa Gunther na comissão de seleção e Marília Panitz e Matias Monteiro como curadores. A partir das conversas com os especialistas e de deslocamentos propostos por eles, os artistas convidados criaram obras fundamentadas em diversas linguagens. ;Essa questão do transporte virou quase uma metáfora para o que é circular, como circulamos e por que circulamos;, avisa Luísa Gunther que, no sábado, também realizará duas performances em frente à Casa da Cultura da América Latina (CAL) como participação especial no projeto. Além de serem apresentadas no SCS, as intervenções vão circular por Águas Claras, Ceilândia e Planaltina.

Gu da Cei, o único dos quatro artistas que há tempos pesquisa a questão do transporte, criou a performance Motorista (karma) para falar das formas de locomoção, possíveis e imaginárias, e das perspectivas de observação da cidade geradas por essa ação. ;Faço uma reflexão sobre o transporte público, mas pensando nessa limitação física e no lugar desse transporte;, explica. A contraposição entre mobilidade e imobilidade faz parte da performance, que inclui vestir asas e subir ao topo de prédios e construções altas. Na Ceilândia, onde se apresenta hoje, Gu escolheu a caixa d;água. Vestido de cobrador de ônibus, ele quer levar o público a fazer associações entre as ações automáticas do cotidiano e a observação de detalhes que passam despercebidos. ;Sempre busco lugares altos para ter perspectivas de outros modos de ver a cidade. Voar seria uma possibilidade de locomoção autônoma, uma utopia;, diz o artista, que também usará drones durante a performance.

Gu da Cei já pesquisava mobilidade antes do projeto

Os pombos oferecem a perspectiva proposta por Allan Rutt em Arrulho ; joguetes para observação e interpretação dos pombos e da cidade. ;É uma proposta de observação de beiradas com ações para sensibilizar para o lugar onde dois ou mais espaços se encontram;, descreve. ;São lugares que a gente acaba encarando como de transição entre espaços.; Os pombos, ele diz, estão em todos os lugares, mas são praticamente invisíveis. Há pouca interação entre os corpos das aves e dos humanos. ;A proposta é que a gente olhe para coisas que estão do nosso lado e não vemos;, garante. O joguete do título da performance remete à ideia de que diferentes peças de um tabuleiro podem ganhar novos significados a partir de seus posicionamentos.

Para Marcela Campos, o cotidiano forneceu os elementos de Inconstante mobilidade formicidade. No vídeo, que será projetado na Rodoviária de Planaltina, a artista acompanha o trajeto de formigas e marca o caminho com lápis de cor. O áudio, recolhido na própria Rodoviária, registra o burburinho do deslocamento humano. Relacionar questões como o transporte e o trabalho faz parte da intenção da artista que, durante muito tempo, morou em Valparaíso e hoje realiza deslocamentos constantes entre Sobradinho e Plano Piloto. Marcela calculou ter gasto, em média, dois meses por ano dentro dos ônibus, um tempo que ela considera morto. ;É meio mórbido, a gente não conta esse tempo dentro da nossa vida. Eu queria pensar em como isso reflete no inconsciente do trabalhador, o que ele sente, o que faz durante esse tempo, dorme, lê, vai acordado, já vai jantando? Essa questão do transporte público em relação ao trabalho é de massacre mesmo. É uma condição muito precária;, lamenta a artista.




Dias e locais das performances

Artista: Gu da Cei
; Motorista (karma). Hoje, das 15h às 17h30, na Caixa D;Água da Ceilândia. Sábado, das 15h às 17h30, no Setor Comercial Sul (SCS)

Artista: Marcela Campos
; Inconstante mobilidade formicidade. Amanhã, das 16h às 18h, ao lado da Casa da Cultura da América Latina (CALunb|) no Setor Comercial Sul (SCS)

Artista: Allan RUT
; Arrulho ; joguetes para observação e interpretação dos pombos e da cidade. Hoje, das 9h às 11h30, na Estação Arniqueiras (Águas Claras). Amanhã, das 16h às 17h30, no Setor Comercial Sul (SCS), próximo ao Museu Correios, de frente para o Setor Hoteleiro Sul

Artista: Thalita Perfeito
; Título sem obra. Amanhã, a partir das 7h, no Corredor de Circulação Central do Setor Comercial Sul (SCS)

Participação especial

Artista: Luísa Günther
; Se Cildo (vassorário). Sábado, na Casa da Cultura da América Latina (CALunb|), no Setor Comercial Sul

Dispersão como demanda
; Sábado, no Corredor de Circulação Central do Setor Comercial Sul

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