Elizeu Chaves Júnior Especial para o Correio
postado em 02/10/2018 06:40
Nova York ; Reconhecida como um dos principais centros gastronômicos do mundo, Nova York conta com um mercado dinâmico que abriga milhares de restaurantes de variadas culturas e tradições. Quando comparada com outras cidades americanas também famosas pela boa comida, como Chicago, Miami, Nova Orleans e São Francisco, Nova York sobressai justamente pela diversidade de opções associadas à qualidade e ao dinamismo. Obviamente, a grande competição e os altos custos de manutenção do varejo na cidade provocam uma rotatividade que também atingem lugares de excelência.
Nao à toa, desde o começo do ano, a cidade que aliou sua condição de centro global de gastronomia e cultura, e passou a contar com um museu inteiramente dedicado à alimentação. Ainda em fase de consolidação, o MOFAD Lab ; Museum of Food and Drink, localizado no Brooklyn, foi criado para explorar a história, as diversas tradições e hábitos alimentares e se define como o primeiro museu independente no mundo dedicado ao tema da alimentação.
O espaço conta com peças e utensílios ;históricos;, como uma das primeiras geladeiras domésticas, de 1919, máquinas utilizadas para produção de cereais e edições antigas do legendário Guia Michelin, as quais permitem ao visitante acessar o passado e conhecer processos de produção de alimentos de diferentes culturas e países.
Atualmente, o MOFAD possui uma exposição dedicada à gastronomia chinesa, principalmente com foco na imigração chinesa e em como esse fenômeno permitiu a diversificação e adaptação da culinária chinesa em cidades americanas.
Fenômeno
A mostra retrata o primeiro restaurante chinês nos Estados Unidos, aberto em 1849, e conta com menus antigos de restaurantes de Chicago e Nova York permitindo visualizar como algumas receitas foram reinventadas para satisfazer ao paladar local.
O caso do ;chop suey; (prato com carne, ovos, cozido com verduras, como broto de feijão e bambu e repolho em um molho à base de amido) foi anunciado em 1900 pelo New York Times como novo fenômeno e possivelmente o primeiro prato sino-americano. O chop suey inspirou-se na culinária trazida por imigrantes da província de Guangdong, na China e, mais tarde, foi popularizado nos EUA e em várias partes do mundo.
Também está presente na exposição a máquina para fabricação em larga escala dos ;biscoitos da sorte;, cuja produção se ampliou nos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, mais de 3 bilhões de biscoitos são produzidos no mundo mas, curiosamente, o maior fabricante está em Nova York ; a Brooklyn Wontons Food.
Temperos
Provavelmente um dos principais atrativos do museu é o fato de ser uma experiência sensorial. As pessoas podem optar por fazer uma refeição no local, cujo cardápio reflete o tema em exposição. Uma geringonça permite ao visitante sentir cheiros de vários produtos e temperos, podendo ainda criar misturas conhecidas ou pouco usuais (sob sua própria conta e risco olfativo).
Chama a atenção, também, um mapa em que os visitantes podem retratar comidas de seus países de origem. Os dois primeiros itens do Brasil a constar no lugar são, não por coincidência: pão de queijo e arroz com feijão.
O MOFAD é uma empreitada ainda pequena mas bastante promissora, na qual é possível ver como ;estar à mesa; é uma prática unificadora, que aproxima os povos e as culturas. O Brasil, que passou pela tragédia de ter visto um dos seus principais museus destruídos, mereceria ter algum dia um local com o propósito de valorizar nossa cozinha.