Robson G. Rodrigues*
postado em 03/10/2018 06:20
Responsável pela efervescência cultural iniciada dos anos 1970, a geração mimeógrafo viria a impactar diversos âmbitos entre a música, o cinema e a poesia, com ar espontâneo e coloquial. Essa última teve marcante representatividade em Brasília, sobretudo graças à editora Semim. Com José Sóter à frente, a marca completa 40 anos resgatando versos de figuras ligadas ao movimento.
Na retomada como editor, Sóter assina o relançamento de três livros de poesia do professor, poeta e compositor Climério Ferreira. A caixa que chega às prateleiras hoje carrega as obras Memórias do Bar do Pedro e outras canções (1975), Canto do retiro (1976) e A gente e a pantasma da gente (1978).
;São ainda muito atuais. É uma visão lançada nos anos 1970, mas muito permanente, que serve para qualquer época;, opina Sóter, que cita a poesia Estaca zero, gravada por Ednardo como um dos sinais do reconhecimento alcançado por Climério. ;Muitas das poesias dele foram também perpetuadas em músicas de Nara Leão, Fagner, entre outros vários cantores;.
Admirador e amigo de longa data de Climério, Sóter destaca características do trabalho do autor. ;Os poemas dele são muito trabalhados em função de ele ser acadêmico. Sendo professor da UnB (Universidade de Brasília), ele traz essa formação para a poesia. São altamente elaborados, quase que cinematográficos. Beira um pouco a narração teatral;, comenta.
A editora optou por usar as mesmas capas originais na atual edição. Preserva ainda o mesmo prefácio assinado pela cineasta Vladimir Carvalho numa das obras. Ícone do Cinema Novo, Carvalho inspirou A gente e a pantasma da gente.
;É uma leitura poética da filmografia de Vladimir Carvalho que tomou inclusive o mesmo nome de uma mostra de curtas do cineasta;, elucida Climério Ferreira. Para o escritor, o trabalho de recuperar artistas daquela geração feito por Sóter recoloca em circulação importantes documentos da produção independente na capital.
Quanto à própria escrita quatro décadas depois, ele acredita que pouco tenha mudado. ;Como não tenho um estilo facilmente identificável, passeando do humor ao amor, fixando-me no sentimento humano e solidário, não acho que tenha mudado muito;, diz.
A arte que fez nos anos 1970, para ele, segue jovem. ;A poesia, como a vejo, se desprende do tempo, atravessa modas, e não perde sua atualidade. Quando a gente a lê é sempre como se fosse hoje;, conclui.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Climério Ferreira
Lançamento de caixa com livros de poesia de Climério Ferreira. Hoje, às 18h30, no Beirute (109 Sul; 3272-0123). Entrada Franca. Classificação indicativa livre.