Irlam Rocha Lima
postado em 09/10/2018 06:50
Desde a inauguração, há 12 anos, o Clube da Bossa tem recebido grandes nomes que tiveram destacada participação na Bossa Nova, entre os quais Roberto Menescal, Carlos Lyra, Marcos Valle e o extinto grupo Os Cariocas. Músicos e cantores brasilienses, porém, marcam presença majoritária na programação da entidade, desenvolvida sempre aos sábados, entre 11h30 e 13h, no Teatro Sílvio Barbato do Sesc, térreo do Edifício Eurico Dutra, no Setor Comercial Sul.
Uma vez por mês, o clube abre espaço para não profissionais da música, mas que têm o canto como hobby. Elas participam do projeto Palco Aberto e, naquele momento, recebem o mesmo tratamento dado aos artistas. Na interpretação da composição escolhida, por exemplo, são acompanhados por uma banda formada por instrumentistas de ofício.
Em todas as edições há a apresentação de 13 cantores amadores. Cada um interpreta uma canção, entre as sugeridas pela produção ; predominantemente, clássicos da bossa e da MPB. "Na última edição, em dezembro, os 10 melhores, escolhidos pela comissão formada por diretores do Clube da Bossa e Nilson Lima, e pelo agente cultural do Sesc, fecham a programação", conta Marizan Fontenele, produtora artística e uma das apresentadoras do projeto.
Quase todos os participantes do Palco Aberto são assíduos frequentadores do Clube da Bossa, alguns, inclusive, na condição de sócios. O engenheiro e músico Dickran Berberian, criador da instituição, justifica a expressiva presença dos espectadores nas atividades do clube. "Alguns fatores os levam a prestigiar a nossa programação, mas prefiro enfatizar a música de qualidade, o ambiente informal, que possibilita o bom convívio. Ao longo do tempo, têm sido criados vínculos de amizade; e já houve até casos de pessoas que se conheceram aqui e passaram a viver juntos".
Terapia
Servidora pública, a brasiliense Lucimar Rodrigues, de 58 anos, diz que frequenta o Clube da Bossa há sete anos e, desde então, tem tomado parte no Palco Aberto. "A música sempre fez parte da minha vida. Fiz aula de canto, participo de corais, como o São Francisco e o do TCT-CAPES. Cantar para mim é uma espécie de terapia, de libertação", revela. "O Palco Aberto é uma diversão. Sou fã de Dolores Duran e quase sempre canto músicas dela. Mesmo quando não me apresento, estou lá para aplaudir os outros participantes", acrescenta.
Carioca, residente em Brasília desde 1974, Ana Studart, aposentada da Câmara dos Deputados, diz que seu gosto pela música foi desenvolvido no âmbito familiar. "Meu pai, Luciano Studart, era pianista, tocou em bares da Zona Sul do Rio e chegou a lançar discos. Depois que me aposentei, me matriculei na Escola Brasileira de Choro, onde faço aulas de violão e de prática de conjunto", comenta. "Há dois anos, por sugestão de um amigo, comecei a ir ao Clube da Bossa e a cantar no Palco Aberto. Como sou exigente comigo mesma, tomei a Márcia Tauil como professora de canto. A bossa nova é uma das paixões da minha vida, mas gosto muito também do samba-canção sofisticado de Dolores Duran, Tito Madi, Lúcio Alves e Dick Farney", destaca.
Sócia n; 16 do Clube da Bossa, Anna Thereza Horowitz, 81 anos, é ligada à música desde a infância. Ela ainda era criança, quando participou pela primeira vez de um programa de calouro em Andradina, no interior de São Paulo. "Só não tornei cantora profissional porque meu pai proibiu. Cheguei a Brasília em 1962 e logo comecei a participar de rodas de violão no Country Club. Lá, conheci o Leon, e com ele sou casada há 57 anos", recorda-se. "Frequento o Clube da Bossa, desde o começo e com o o advento do projeto Palco Aberto, me tornei participante assídua. Gosto muito de cantar canções do repertório de Ângela Maria, a eterna rainha do rádio, que nos deixou recentemente".
Serestas
Mozart Branco, 79 anos, aposentado da UnB, que canta desde a adolescência, agora tem o Palco Aberto como o local em que exercita um dos seus maiores prazeres. "Quando morava em Nova Iguaçu (RJ), participava com frequência de programas de calouro numa rádio local. Ao vir para Brasília, há 57 anos, continuei cantando em programas do gênero na TV Nacional e na TV Brasília", rememora. "Me faço presente no Clube da Bossa desde o início das atividades, na Livraria Bohumil (Avenida W3 Sul). Canto em serestas, em reuniões de amigos e não perco por nada o Palco Aberto, onde além de cantar, convivo com pessoas que, assim como eu, não vivem sem a música".
O paulista Carlos Spina, 75 anos, radicado na Capital Federal há quatro décadas, canta desde a juventude. Ele deixa claro que tem um gosto musical eclético. "Apreciava o trabalho de cantores da era de ouro do rádio, como Nelson Gonçalves, Orlando Silva e Cauby Peixoto; e dos que vieram depois, entre eles Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo e Altemar Dutra. Mas também tenho admiração pelo pessoal da bossa nova. A obra de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Marcos Valle tem um valor imenso", frisa. "Minha ligação com o Clube da Bossa vem desde o começo. Por consequência, me juntei aos que se apresentam no Palco Aberto, projeto bem-vindo para quem gosta de cantar, mas sem pretensão de ser um profissional da música", conclui.