Diversão e Arte

Dia Nacional da MPB celebra a originalidade e a singularidade

Ao longo dos anos, estilos diversos foram surgindo, promovendo a diversidade da música popular brasileira, como ela é hoje

Irlam Rocha Lima
postado em 17/10/2018 06:37
Toquinho: eternização de muitas canções que nasceram clássicas

Historicamente, as raízes da música popular brasileira são do período colonial, com sementes brotando nos séculos 18 e 19. Naquela época, a integração de ritmos e sons promovida por brancos, negros e índios disseminou em diferentes classes sociais, nas grandes cidades, determinando o surgimento do que veio a ser conhecida como MPB.

Num tempo em que as mulheres não tinham espaço na política e nas artes, Francisca Edwiges Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, pioneira na participação de causas sociais, surgiu destacadamente como compositora, pianista e regente. Em suas criações misturavam-se elementos do tango, do choro e da marcha.

Séculos depois, em 9 de maio de 2012 foi criado o Dia Nacional da MPB, a partir do Decreto-Lei n; 12.624, outorgado pela então presidente Dilma Rousseff. A escolha de 17 de outubro para a comemoração foi determinada por ser a data do aniversário da carioca Chiquinha Gonzaga, tida como a primeira compositora brasileira.

Ao longo dos anos, estilos diversos foram surgindo, promovendo a diversidade da música popular brasileira, como ela é hoje. Num país continental como o Brasil, ritmos originários de diferentes regiões, engrossam o denso caldo cultural, que faz nossa mais popular manifestação artística ser assimilada e prestigiada em todo o mundo.

Em 58 anos de existência, Brasília acolheu brasileiros de todos os rincões, que trouxeram importante contribuição à música feita aqui. Ouve-se na Capital Federal gêneros diversos, criados e interpretados por compositores, cantores, instrumentistas, grupos e bandas, formados por brasilienses de várias gerações.


Produto de exportação

Um dos fundadores e presidente do Clube do Choro, Henrique Santos Filho, o Reco do Bandolim , vê a música popular brasileira como algo que faz o país ser respeitado e aplaudido no exterior. ;Tenho verificado isso nas muitas apresentações com o grupo Choro Livre por diversos continentes. Da China aos Estados Unidos, passando pela Europa e América Latina, o trabalho do nosso conjunto é acolhido com manifestações de entusiasmo;, comemora.

Reco faz um adendo. ;A diversidade da música feita no Brasil é algo inquestionável e que deve ser exaltada. Mas, por outro lado é necessário que a qualidade desse nosso produto de exportação receba a devida atenção da mídia, mais propensa a oferecer espaços maiores ao modismo, aos gêneros voltados para e entretenimento, que não contribuem para o enriquecimento da nossa cultura;.

Cantora, compositora e violonista, que transita com familiaridade entre o samba e o jazz, a baiana-brasiliense Rosa Passos foi influenciada por João Gilberto no início da carreira que começou, oficialmente, em meados da década de 1970. Ao longo da trajetória tem sido reverenciada por distintas plateias na Europa e nos Estados Unidos. Mais recentemente foi aplaudidíssima no Lincoln Center em Nova York, onde se apresentou a convite do icônico jazzista Wynton Marsalis.

;Impressiona como, em todo o mundo, a música que faço receba tanta atenção do público e da crítica. Todos se curvam à excelência da MPB de qualidade;, constata. ;Mas, infelizmente, cada vez mais esse tipo de música vem perdendo espaço em sua origem. Preocupa-me o fato de, nos tempos de agora, os grandes artistas brasileiros não terem o seu trabalho reconhecido no próprio país;, frisa, sem esconder o descontentamento.


Mineiro radicado em Brasília há quatro décadas, o compositor e violeiro caipira Roberto Corrêa exalta a riqueza e o aspecto diverso da Música Popular Brasileira. ;É, certamente, o nosso maior bem cultural. ;Somos um país rico musicalmente. Trabalho num campo em que a canção é a matéria-prima de tudo o que produzimos;, observa. ;Gostaria que a música caipira viesse a ser mais conhecida, além dos limites do interior, como ocorre com outros gêneros que têm grande aceitação no litoral, nas grandes metrópoles;, acrescenta.

Outra artista mineira, moradora na cidade há oito anos, Márcia Tauil , é uma profissional da música desde meados dos anos 1988. Cantora, compositora, professora de canto, ela tem trabalhado com grandes nomes da MPB. No fim da semana passada, fez show com o pianista Cristovão Bastos, no Feitiço Mineiro e, neste sábado, se apresenta ao lado de Roberto Menescal e Abel Silva, no Clube da Bossa.

Para Márcia, a qualidade da música define o país. ;O respeito que nossa música tem no exterior é algo que tem de ser destacado. Essa diversidade rítmica, tão elogiada, vem da junção de melodia trazida pelos colonizadores europeus e dos sons percussivos criados pelos índios e os escravos na senzala, nos primórdios. Isso resultou na riqueza da Música Popular Brasileira;.

Ganhador do Prêmio da Música Brasileira de 2017, na categoria melhor disco regional, o cantor, compositor e violonista Alberto Salgado entende que a Música Popular Brasileira tem poder de retratar a sociedade em notas, arranjos, ritmos e letras. ;Isso mostra o quanto somos diversos. Todos os estilos musicais existem porque tivemos compositores como Pixinguinha, Noel Rosa, Ari Barroso, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Chico Buarque e tantos outros;, afirma.

;A fusão de ritmos também deve ser evidenciada. Alguns funks, por exemplo, começaram a ser compostos com melodias de samba enredo. Entre chorinho, samba, baião e maracatu, no Brasil há mais de 300 ritmos diferentes catalogados. A MPB consegue quebrar todo o preconceito, mostrando que é a melhor música do mundo;, alardeia.

Brasiliense ligada à música há 20 anos, a sambista Kris Maciel acredita que a importância da MPB vem do fato de ela ser a expressão artística mais popular do país. ;O brasileiro tira som de qualquer objeto, até do corpo, como faz Hermeto Pascoal. A música é ouvida em todo lugar, tem função cultural, faz parte da nossa vida. É por isso que estou sempre cantando, para alegrar as pessoas e a mim mesma;, salienta a cantora.



Vozes da MPB

Desde sempre, Brasília recebe os maiores nomes da Música Popular Brasileira. Shows de grandes artistas nacionais têm sido apresentados nos mais diversos locais da capital ; em teatros, ginásios de esporte, estádios e em espaços abertos como a área externa do Museu de República, a Praça da Torre de TV, o Complexo Cultural da Funarte e a Esplanada dos Ministérios.

Em breve, a cidade vai acolher o espetáculo Vozes da MPB, protagonizado pelos cantores, compositores Toquinho, Ivan Lins, João Bosco e pela cantora Tiê. Esse encontro inédito ocorrerá no palco do auditório máster do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no dia 8 de dezembro. Os ingressos já estão à venda no G2 do Brasília Shopping.

Parceiro de Vinicius de Moraes em incontáveis sucessos, Toquinho diz que Música Popular Brasileira é a que o povo conhece e gosta. ;Em meados da década de 1960, surgiu a sigla MPB, designando a fusão entre a música tida como sofisticada, oriunda da bossa nova e aquela considerada de raiz;.

Segundo Toquinho, as raízes da Música Popular Brasileira estão em muitos sucessos cantados por inúmeros intérpretes. ;No histórico disco Chega de saudade, marco inicial da bossa nova, João Gilberto canta Rosa Morena, de Dorival Caymmi e É luxo só, de Ary Barroso. Ao cantar Nada além, de Mário Lago, Gal Costa eterniza, à sua maneira, o clássico popular renovado e valorizado;, lembra.

Toquinho considera que Ivan Lins, João Bosco e ele pertencem a uma geração privilegiada. ;Carregamos em nossa trajetória musical toda a beleza da estrutura melódica da bossa nova. Soubemos conservar essa qualidade, fazendo com que ela se perpetue;, acentua. ;Tiê, com sua voz suave e seu timbre sempre afinado, completa no palco e nas interpretações a atmosfera intimista do show Vozes da MPB;, complementa. (IRL)

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