Irlam Rocha Lima
postado em 17/10/2018 07:13
O arquiteto e poeta cearense Fausto Nilo tem uma antiga relação com a Universidade de Brasília. Integrante do movimento estudantil, em 1968, estava no Instituto Central de Artes, no Minhocão, quando houve a invasão do câmpus por agentes da ditadura militar que resultou na prisão de Honestino Guimarães. Tempos depois, a pedido dos alunos, foi contratado pela Faculdade de Arquitetura, onde foi professor por quatro semestres, entre 1971 e 1972.
Ao retornar a Fortaleza, se juntou a Fagner, Belchior, Ednardo, Amelinha, Roger e Teti, numa espécie de movimento que se tornou conhecido como Pessoal do Ceará. Quase todos eles se radicaram posteriormente no Rio de Janeiro, onde Fausto morou de 1975 a 1979. Sem nunca perder o vínculo com a terra natal.
Em 2013, ao retornar à capital federal, ele se apresentou no Feitiço Mineiro e, no ano seguinte, dividiu o palco daquela casa com o compositor e cantor piauiense-brasiliense Clodo Ferreira. Amigos e parceiros há mais de 40 anos, se reencontram ali para show hoje e amanhã, às 21h30, como parte da programação comemorativa dos 29 anos do bar e restaurante da 306 Norte.
Dividido em três partes, o show vai ser aberto por Clodo. Acompanhado por seus filhos João Ferreira (violão) e Pedro Ferreira (percussão) e pelo contrabaixista Vavá Afiouni, ele mostra canções consagradas de sua obra, como Revelação, Ave coração e Mentira da saudade. Em seguida, Fausto, coautor de vários clássicos da MPB, leva ao público alguns deles, tendo ao seu lado o violonista Sardinha. No final, em duo , Clodo e Fausto fazem cinco músicas.
Parceria
Embora o ofício de arquiteto ocupe um tempo maior no dia a dia de Fausto Nilo, a música nunca é deixada de lado por ele. Parceiro de nomes destacados da MPB, ele contabiliza algo em torno de 400 músicas compostas, e a maioria gravada por cantores diversos.
Fagner é o parceiro mais frequente. "Temos umas 30 canções, entre elas Lua do Leblon e Vento forte", ressalta. "As mais conhecidas do público, porém, eu fiz em parceria com Geraldo Azevedo (Dona da minha cabeça, Quando fevereiro chegar e Você se lembra), Moraes Moreira (Chão da praça, Coisa acesa e Meninas do Brasil), Pepeu Gomes (Eu também quero beijar) e Armandinho Macedo (Zanzibar)", acrescenta.
Há outros cearenses, além de Fagner, que são parceiros de Fausto. "Tenho músicas com Belchior (Romança) e Petrúcio Maia (Dorothy Lamour), gravada por Ednardo", lembra. "Já o Clodo é meu parceiro em Barco de cristal, que fizemos em 1976, na época em que ele passou uma temporada em São Paulo e morou na casa de Rodger e Teti. Os dois gravaram essa música que vamos cantar no show do Feitiço", anuncia.
O que aproximou ainda mais os dois foi a homenagem que Fausto fez a Clodo e aos irmãos dele, Climério e Clésio, ao compor com Fagner e Nara Leão Cli Cle Clo, gravada pela cantora no LP Romance popular, lançado em 1981. "Naquele tempo, Nara tinha um namorado em Brasília, para onde ia com alguma frequência. Foi quando conheceu Clodo e os irmãos e se tornaram amigos", recorda-se.
Mesmo não sendo exatamente um cantor, Fausto Nilo gravou quatro discos. Em 2010 saiu pela Biscoito Fino uma coletânea com canções das quais é coautor, intitulada Quando fevereiro chegar, que tem a participação de Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Elza Soares, Fernanda Takai, Fagner, Geraldo Azevedo, Ivan Lins e Moraes Moreira.
Fausto Nilo e Clodo Ferreira
Show hoje e amanhã, às 21h30, no Feitiço Mineiro (306 Norte). Couvert artístico: R$ 35. Não recomendado para menores de 18 anos.