Ricardo Daehn
postado em 20/10/2018 07:00
A hora do pesadelo, protagonizado pelo assustador Freddy Krueger e suas garras, nos anos de 1980, rendeu cinco filmes. Com o dobro de produtos cinematográficos derivado, a franquia Sexta-feira 13, capitaneada pelo vingativo e mascarado Jason, chamou a atenção até mesmo do midas da indústria Michael Bay, que recauchutou a trama, em filme de 2009. Gerido nos anos de 1970, O exorcista teve por mérito se tornar a mais rentável série de fitas derivadas, com sucesso estendido até 2004, com direito a prequel, uma espécie de prelúdio de enredo.
Com tanta criatividade em termos de matriz de horror reservada às décadas de 1970 e 1980, natural que haja ansiedade para uma dobradinha de futuros longas baseada tanto em Brinquedo assassino (criado por Don Mancini e com novo filme assinado por Lars Klevberg, o mesmo do ainda inédito Morte instantânea) quanto em Halloween (com estreia em 25 de outubro), que rende a impressionante marca de 11; continuidade nas telas, se considerada a primeira versão batizada de Halloween: A noite do terror (1978).
Tirar rentabilidade do medo das pessoas ao longo deste ano tem se afirmado como empreendedorismo de liquidez certeira. No Brasil, o sétimo filme mais assistido nos cinemas ainda está em cartaz ; é o A freira, que, pelo mundo, já arrecadou US$ 360 milhões. Megatubarão, que faz lembrar uma carona no êxito de 1975, Tubarão, trouxe aos cofres de produtoras e exibidoras quase meio bilhão de dólares. Fator de enorme definição de sucessos à vista, o fim de semana de abertura para o lançamento de um produto pode vir a surpreender: nos primeiros dias, só nos Estados Unidos, aos final de 2017, o fenômeno It ; A coisa viu a entrada de US$ 123 milhões.
Com quase 4,5 milhões de pagantes, no Brasil, It (que já tem sequência em desenvolvimento) viu incrementada a renda internacional, que bateu na casa dos US$ 700 milhões. Com praticamente metade do montante, Um lugar silencioso, filme dirigido pelo ator John Krasinski, também surpreendeu, ao demarcar a nona posição entre os longas mais assistidos pelos norte-americanos em 2018.
Às vésperas de estrear, nos Estados Unidos, o longa Suspiria guarda na produção ingredientes que conferem mais do que mero interesse para os aficionados por terror. Toda a linhagem do filme de horror ; que faz uma imersão no processo criativo e nos sustos que cercam uma norte-americana destacada para atuar em importante companhia de dança alemã ; denota um apuro criativo, à perfeição para cinéfilos mais exigentes, mesmo em se tratando de um um exemplar do gênero giallo, em que um assassino dá trabalho desmedido para policiais, com vítimas sequenciadas e que protagonizam mortes chocantes.
Exibido no Festival de Veneza, sob a direção de Luca Guadagnino, Suspiria adapta obra de 1977 do cultuado Dario Argento. O longa segue sem data definida para o Brasil, mas dificilmente deixará de entrar em circuito. Sem grandes coordenadas ; nem mesmo o conteúdo é sabido ;, Us promete ser outro terror de grife, a começar pelo time montado para a produção: além de contar com a direção de Jordan Peele (Corra!), a fita contará com as atrizes Lupita Nyong;o (12 anos de escravidão) e Elisabeth Moss (The handmaid;s tale). ;Um thriller com fundo social; tem sido a mais completa descrição do projeto ultrassecreto de Peele. Para completar o desenho de um terror, Jason Blum ; produtor da milionária franquia Atividade Paranormal ; está por trás do filme.
Renovar foi preciso
Por mais que tenha chamariz no nome do produtor Jason Blum (presente em obras como A morte te dá parabéns e A primeira noite de crime), Halloween ; uma promessa que estreou ontem nos Estados Unidos e em outros 22 países tem retorno projetado de US$ 70 milhões ; se vale mesmo é da cancha do consultor criativo John Carpenter, ninguém menos do que o pai da franquia. Continuação direta do longa original, que contrapôs o silencioso e mortal Michael Myers, com onipresentes máscaras e nervosa faca em punho, com a babá nada indefesa Laurie Strode, papel que consagrou a atriz Jamie Lee Curtis.
;O personagem Michael Myers é um poder implacável da natureza. Ele está simplesmente vindo, e você tem que sair do caminho dele;, avaliou, em material de divulgação, o próprio John Carpenter. À frente de filmes com fundo romântico, entre os quais Prova de amor (2003) e O que te faz mais forte (2018), o diretor Daniel Gordon Green foi escalado para tirar parte do mofo da trama e injetar fôlego inesperado para o longa de terror que tem pouco menos de duas horas de duração.
Nada, porém, acusa mudanças extremas de curso. Desde a inesperada música (criada em sintetizador por Carpenter) que foge à sonoridade de um terror até a participação do ator Nick Castle (do filme de 1978), num papel dividido com o dublê James Jude Courtney, há muita reverência em jogo.
Com direito a um psiquiatra mais do que aplicado chamado Sartain (Haluk Bilginer), Michael Myers encontrará pela frente, quase 40 anos depois, uma Laurie, bem mais experimentada do que aquela, no passado, munida tão somente com cabide e agulha de tricô. A lado da filha Karen (Judy Greer, de Homem-Formiga), Laurie também ganha a companhia da neta Allyson (a estreante Andi Matichak). Sem se deixar abater, a personagem, em cena, admite toda uma preparação, estendida a familiares, para o inevitável reencontro.
A atriz Jamie Lee Curtis, distante 16 anos, desde a última encenação de Laurie, enfatizou, para a mídia internacional, que, na vida real, nunca precisou se colocar na linha de frente ;tal qual um policial ou bombeiro;. Ao passo em que completa: ;Mas senti dores e fui oprimida;. Ela admite que adora a ideia de ver, no filme, ;um trio de mulheres tirar o poder de um criminoso;. Se, ao USA Today, por modéstia ou precaução, Jamie (que é filha dos astros Tony Curtis e Janet Leigh, a loura de Psicose) conta que sempre foi uma estrela B ; ;já que filmes de horror estão no final da escala de relevância; ;, talvez seja hora de rever conceitos.