Diversão e Arte

Renato Alves, repórter do Correio, lança livro sobre Coreia do Norte

Com instinto de repórter, observou tudo e retornou com 527 fotografias, 20 vídeos e as informações e impressões para uma série de reportagens publicadas no Correio

Severino Francisco
postado em 20/10/2018 06:45
Renato Alves ao lado de um oficial na Coreia do Norte
Escrever uma série de reportagens sobre a Coreia do Norte foi um processo dramático para Renato Alves, repórter do Correio. Durante dois anos e meio, ele leu tudo sobre o país oriental, um dos mais perigosos do mundo para um jornalista. Com tenacidade e insistência, ele conseguiu o que parecia impossível: a permissão do governo para conhecer a Coreia do Norte.

Em muitos instantes, ele teve a sensação de que nunca mais sairia do país. Mas o conhecimento adquirido das leituras foi fundamental para que respeitasse as regras e os valores dos coreanos. Com instinto de repórter, observou tudo e retornou com 527 fotografias, 20 vídeos e as informações e impressões para uma série de reportagens publicadas no Correio.

Elas traçam um rico painel humano, político e social da Coreia do Norte, comandado pelo ditador Kim Jong-un. Renato transformou as reportagens no livro O reino eremita: um jornalista brasileiro na Coreia do Norte, a ser lançado hoje, no Seu Patrício Café (AOS 6/8). Renato ganhou os principais prêmios de jornalismo e é autor de O caso Pedrinho (Geração Editorial) e O povo da Lua (Outubro). Nesta entrevista, ele fala sobre a aventura da reportagem na Coreia.

Por que você escolheu a Coreia do Norte para tema de uma reportagem?
Eu queria um tema para o terceiro livro, procurava por um que não tivesse sido explorado pelo jornalismo brasileiro. Há dois anos e meio comecei a pesquisar sobre a Coreia do Norte. Já tinha notado que, mesmo sendo um assunto que dominava a mídia mundial, no Brasil não havia nenhum livro de reportagem. Após um ano e meio lendo, entrevistando especialistas no tema, decidi partir para a segunda fase do projeto que era ir a Coreia do Norte. Após cinco meses, consegui o visto.


Não sentiu medo de viajar até um país governado por uma ditadura?
Muito, tive medo antes, durante e depois. Justamente por ter lido tanto sobre o país, sabia dos riscos. A Coreia do Norte não tem um manual de regras para os estrangeiros. Tem de se informar muito antes de ir.


O que observou na Coreia?
Por mais que eu tenha lido com o intuito de me precaver, a viagem inteira foi marcada por surpresas. A Coreia do Norte é extremamente exótica para os ocidentais. É um país que parou nos anos 1950, vive como se estivesse ainda na Guerra Fria, sob um regime que controla o indivíduo em tudo. Até no modo de vestir e de se comportar.


O que te chamou a atenção?
O que me chamou mais a atenção no país foi o silêncio. As pessoas não conversam nas ruas, não há grupos, não há qualquer tipo de manifestação espontânea. Não existe espaço para o improviso e muito menos de um contato voluntário dos norte-coreanos com os estrangeiros. Na questão da restrição de liberdade ela é ainda mais brutal do que tudo o que eu imaginava e esperava.


E qual a percepção que os cidadãos têm de um regime de exceção?
Não dá para saber porque não me deixaram perguntar isso a ninguém. Mas dá para perceber que elas vivem sob um constante medo. Medo de conversar, de errar, até de se expressarem corporalmente. A viagem só reforçou um princípio que eu já tinha: a de que a liberdade é inegociável, não há ideologia, estatística ou estudo que justifique a restrição da liberdade. E não há regime totalitário bom. Porque os métodos de restrição e controle da população são os mesmos.


O que viu de positivo nos coreanos?
Percebi que eles são muito parecidos com a gente nos momentos de lazer, que são os momentos de liberdade.


Foi uma aventura interessante conhecer a Coreia do Norte?
Eu digo que foi a pior experiência pessoal que tive, mas foi a melhor profissionalmente. A humanidade conhece mais imagens do restante do universo do que da Coreia do Norte. Pude trazer imagens, videos e impressões para compartilhar com o restante do mundo, impedido de entrar no país que é conhecido como o Reino Eremita. A definição é quem está dentro não sai e quem está fora não entra. Como eu tinha lido muito, podia visualizar o que tinha lido, fui no ápice das provocações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos. Era neutro, mas crítico, por ser um jornalista de um país livre.
Fiquei muito feliz de lançar o livro agora porque, de certa forma, o livro mostra como é viver em um regime totalitário. E o preço que a população paga por isso. Espero que faça as pessoas refletirem.


O reino eremita: um jornalista brasileiro na Coreia do Norte
De Renato Alves/Quixote %2b Do Editoras Associadas. 350 páginas/ Preço: R$ 49,90. Lançamento, hoje, de 14h às 18h. Seu Patrício Café, AOS 6/8

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