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Diversão e Arte

No filme 'Em chamas', Lee Chang-dong destaca as relações do momento

Leia entrevista com o sul-coreano. Lee Chang-dong fala sobre a carreira e sobre religião


Pingyao (China) ; Representante da Coreia do Sul na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, o thriller Em chamas, de Lee Chang-dong, ganha sessões na 42; Mostra Internacional de São Paulo antes de chegar ao circuito brasileiro, no dia 1; de novembro. O novo longa-metragem do diretor coreano, vencedor do prêmio de melhor roteiro do Festival de Cannes de 2010 com Poesia ; um retrato da juventude de seu país, acuada pela ausência de estímulos para a realização de suas ambições.

Livre adaptação de um conto do escritor japonês Haruki Murakami, o filme é ancorado na dinâmica de um triângulo amoroso, formado por Jongsu, filho de um fazendeiro, Haemi, amiga de infância que há muito deixara a vila natal para trás, e Ben, um rapaz de posses, com o qual a jovem volta acompanhada após uma viagem ao exterior. O reencontro dá início um discreto relacionamento a três, em que nenhuma das partes revela suas verdadeiras intenções sobre o outro.

"É um filme sobre o sentimento de raiva nascido das contradições dos jovens de hoje", resumiu Chang-dong durante a segunda edição do Festival de Pingyao, na China, onde o diretor exibiu Em chamas e concedeu uma aula magna. O seminário foi mediado pelo cineasta chinês Jia Zhangke, idealizador e cofundador da mostra chinesa, que tem como objetivo de criar uma ponte entre cinema independente local e o estrangeiro.


ENTREVISTA/Lee Chang-dong

Em chamas é sem primeiro filme depois de um hiato de oito anos. O que o inspirou?
Tenho pensado muito em formas de me comunicar melhor com o público através de meus filmes. Também tenho tentado identificar os problemas mais graves da sociedade de hoje. E descobri algo em comum entre essas duas coisas: independentemente do país, raça ou cultural em que vivem, as pessoas estão vivendo em um estado de raiva generalizado. Quero explorar essa descoberta com mais profundidade. Eu e a roteirista Oh Jung-mi escrevemos um punhado de roteiros sobre esse tema. Um deles era inspirado no conto de Murakami. A história parece ter nada a ver com o tema ;raiva;, mas quando investigamos a fundo, descobrimos ligações com ela.

Quais são os dilemas dos jovens coreanos hoje?
Os jovens coreanos enfrentam dificuldades de conseguir emprego e o alto custo de vida. Vivem sem esperanças. É um enorme problema da sociedade coreana. Um dos personagens de Em chamas, por exemplo, é um jovem misterioso, vindo de uma família rica. Ele sabe que há algo errado com a sociedade, mas não consegue descobrir o quê. Essa sensação de impotência é muito mais intensa, e o que ele faz é enterrar a ira que sente bem fundo.

Que ajustes o conto de Murakami sofreu nesta adaptação para o cinema?
A história imagina por Murakami se desdobra a partir de pequenos mistérios. É importante tentar resolvê-los mas, mais importante do que isso, quis estender com alguns pequenos mistérios. É definitivamente importante resolver os dois mistérios do filme. Mas, mais importante, quis estender essa investigação para outras indagações sobre a vida. O que ela é? As coisas que vemos realmente existem? Quais são as dificuldades que ela nos impõe? Espero que isso inspire o público.

Seus filmes costumam oferecer diferentes interpretações sobre religião. Em chamas não foge à regra.
Neste mundo, enfrentamos todo tipo de dor. Quando as pessoas não conseguem aplacá-las ou resolver seus problemas mais íntimos, a religião torna-se o único apoio. Não tenho certeza se a fé é capaz de nos deixar mais felizes, mas ela nos consola até certo ponto. No entanto, o excesso de religiosidade pode levar a algumas situações difíceis. Muitas guerras tiveram origem em convicções religiosas. Sim, tenho prestado atenção à religião, mas estou mais preocupado masi especificamente com os crentes, no porquê eles acreditam em um poder divino.