Diversão e Arte

Ana Cañas volta a Brasília neste sábado em show no Teatro nos Bancários

Cada vez mais envolvida na militância política e de direitos humanos, cantora volta a Brasília com álbum 'Todxs'

Irlam Rocha Lima
postado em 10/11/2018 07:00
Ana optou pela música ao escolher um ofício que viesse a ser o canal de expressão dos seus sentimentos
A assinatura de Ana Cañas está impressa em alguns dos trabalhos mais instigantes da música popular brasileira contemporânea. Sempre inquieta, a cantora e compositora paulistana, que transita com familiaridade pelo jazz, rock e MPB, chega a Todxs, quinto álbum, mantendo o conhecido ativismo político.

Nesse CD, Ana divide parcerias com os consagrados Arnaldo Antunes e Lúcio Maia, recria composições de Itamar Assumpção e Cassiano, mas são dela a maioria das 12 canções. A inédita Viverei, que fez para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, ficou fora do repertório. No disco há a participação de Chico Chico, o filho de Cássia Eller, numa das faixas.

Todxs ; expressão utilizada para não especificar gênero ; dará nome também à turnê que estreia em Salvador (BA), onde a artista cumpre curta temporada de 13 a 16 de dezembro. O espetáculo dá início a um circuito por teatros da Caixa Cultural, que, no próximo ano, deve levá-la a unidades do Rio de Janeiro e Brasília.

De volta à capital, ela se apresenta hoje, às 20h, no Teatro dos Bancários. O show, porém, tem por base o Tô na Vida, o primeiro disco totalmente autoral, com uma levada roqueira, lançado em 2015. Aqui, no entanto, a característica é outra, até porque Ana tem em cena a companhia dos violonistas Thiago Barromeu e Estevão Sinkovitz, que também toca bandolim.

Formada pela Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), na primeira metade da década passada, Ana optou pela música ao escolher um ofício que viesse a ser o canal de expressão dos seus sentimentos. Inicialmente, cantou na noite de São Paulo e, logo em seguida, foi convidada para gravar o primeiro álbum, intitulado Amor e caos, lançado pela Sony Music, em 2007. Hein? (2009) e Volta (2012), são outros títulos de sua discografia, aos quais se juntam os citados Tô na vida e Todxs ; todos de estúdio. Há ainda, Coração inevitável, CD ao vivo e DVD, de 2013, com o registro de show dirigido por Ney Matogrosso.


Tô na Via
Show de Ana Cañas, acompanhada pelos violonistas Thiago Barromeu e Estevão Sinkovitz, hoje, às 20h. No Teatro dos Bancários (entrequadra 314/315 Sul). Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia entrada). Classificação indicativa livre.


Entrevista / Ana Cañas

Até que ponto a formação pela ECA/USP contribuiu para sua escolha pela música como forma de expressão?
Eu já tinha interesse, de certa forma acentuado, pela música, mas o convívio na escola me fez ter certeza de que a arte era a forma de expressão que me levaria a alguma coisa. Tive aulas de teatro, mas fiz poucas coisas nessa área. A opção pela música foi algo natural.

Quais eram suas referências na música?
Sempre tive um gosto variado, que ia de divas do jazz como Sarah Vaughan e Billie Holiday, ao rock de Led Zepelin, da MPB do bossanovista Tom Jobim ao tropicalista Caetano Veloso.

Como foi o começo nesse ofício?
Aos 22 anos, depois de sair da ECA, passei a ser crooner do Baretto (bar do Hotel Fasano, em São Paulo). O lugar era frequentado por muitos artistas consagrados e, entre os que ouviram cantar, me lembro de Caetano Veloso e Chico Buarque. Eu fazia shows intimistas, num clima jazzístico.

E quando foi a estreia em disco?
Eu havia feito um disco independente, com músicas autorais, que me levou a ser contratada pela Sony Music, gravadora pela qual lancei o álbum Amor e Caos, em 2007. Esse trabalho teve boa repercussão e, para isso, contribuiu para o fato de ter incluído no repertório uma versão de Coração vagabundo, de Caetano, que integrou a trilha sonora da novela Beleza pura, da TV Globo.

Hein?, o segundo CD, de 2009, foi em que diferente do primeiro?
É um trabalho com uma sonoridade mais elétrica, no qual tive Arnaldo Antunes como parceiro e contei com a participação de Gilberto Gil. A música que mais se destacou, Esconderijo, entrou na trilha de Viver a vida, de Manoel Carlos, e foi escolhida pela revista Rolling Stone como uma das melhores músicas do ano e ganhou clipe dirigido por Selton Mello.


Qual a representatividade de Tô na vida, álbum anterior?
Representa uma guinada em meu trabalho, para o rock n;roll. É o meu álbum totalmente autoral. Ele nasceu da necessidade de equiparar o som do disco com a energia dos shows, mas sem perder o lirismo. Além disso, foi semente pra o Todxs.


O que propõe o Todxs?
Como é um disco independente, que produzi com Thiago Barromeu, tive mais liberdade para me mostrar por inteiro. Ele traz uma temática calcada no feminismo, representada por canções como Eu dou e Tão sua. Declaro my love foi feita a oito mãos por mim, Arnaldo Antunes, Lúcio Maia e Taciana Barros. Regravei Eu amo você, de Cassiano e Sílvio Rochael e Tua boca, de Itamar Assumpção, com a participação de Chico Chico.


Seu novo trabalho chega às pessoas num momento em que o país está dividido, pós-eleição. Como avalia essa situação?
Agora, é viver um dia após o outro, defendendo a democracia e os nossos direitos, após a ascensão da extrema-direita, revestida com a ideia de progresso e desenvolvimento.

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