Adriana Izel
postado em 10/11/2018 06:30
Após a divulgação do romance O ainda não dura para sempre em 2015, o professor e escritor radicado em Brasília Amauri Rodrigues lança a segunda obra do gênero, Num lugar do tamanho do mundo. O evento será neste sábada (9/11), a partir das 19h, no restaurante Carpe Diem, na Asa Sul.
Publicada pela Editora Kiron, a obra surgiu inspirada num acontecimento presenciado pelo autor na rua, em que um pai e um filho às turras iniciaram um diálogo e o pequeno disse ao patriarca estar triste e não chateado com ele. ;Deixei o local, entrei no carro e ao longo do trajeto para casa tentei metabolizar o episódio ocorrido. Não sei se metabolizei de forma acertada ou não, mas as palavras e o sentimento daquela criança convenceram-me de que a razão da sua tristeza era o impedimento de ser ouvida, de ter, talvez, sua fala considerada na questão que ela e o pai dissentiam;, afirma Rodrigues na abertura do livro.
Com a intenção de dar voz a quem não costuma tê-la, Amauri Rodrigues criou a história de Num lugar do tamanho do mundo contada sob o ponto de vista do narrador Kayn, um feto que está dentro do útero e começa a tentar entender o que ele é, de onde vem e outros questionamentos. ;O embrião foi uma questão teórica. Eu queria fazer um romance em que o narrador tivesse experiências acumuladas diferentes de um narrador de modo geral. Quando a gente lê um romance, as experiências são muito próximas da nossa experiência. O meu primeiro anseio foi buscar um narrador que destoasse dos encontrados. Resolvido isso, escolhi que fosse um feto, pois ele não tem as experiências que nós temos;, conta ao Correio.
A partir daí, o escritor começou a imaginar o cenário da história. Por todo feto habitar o útero, ele criou uma cidade que pertencesse a esse espaço, a Metrápolis. ;Fiz uma pesquisa etimológica da palavra útero e encontrei a denominação ;métra;, daí o nome Metrápolis. Essa é uma cidade que evidentemente é habitada apenas por fetos;, completa. E, por se tratar de uma cidade dentro de um útero, outra questão que surgiu foi a população: ;O útero pode ter uma média de quatro ou cinco fetos e são esses que se comunicam com Kayn. Eles têm uma certa consciência do que são, algo que esse feto não tem. Ele não sabe como chegou nessa cidade, mas tem desconfiança de que vem de algum lugar e algo precede esse momento atual dele;.
Várias linguagens
Por meio da metalinguagem e da intertextualidade, Amauri Rodrigues apresenta ao leitor um aspecto talvez nunca antes pensado sobre o mundo externo do ponto de vista de um feto. ;Eles vão passar esse tempo todo na cidade até o narrador perceber que vai deixar essa antessala para ir viver a sua existência em outro espaço que ele chama de Grande Sertão, em referência a Guimarães Rosa. A obra vai falar um pouco dessas veredas que temos em nossas vidas;, revela.
Além disso, cria uma história que pode se relacionar com todo e qualquer leitor, afinal de contas Kayn é, de certa forma, cada um de nós e isso fica claro ao final da obra, quando o autor propõe ao leitor contar a própria história. ;O útero é um lugar tão pequeno, mas tão impactado pelo mundo de fora. Quem está no útero é impacto por tudo aquilo que esse mundo imenso já comporta;, afirma.
Sobre essa conexão com a história, Amauri conta que também é possível pelo fato de o feto ser uma criança e ter uma denominação específica de gênero. ;Kayn é um nome saído do iorubá e significa uma criança muito aguardada. Quando se fala em criança, se desmonta qualquer questão de gênero. Com isto, também estou quebrando um paradigma do narrador, que normalmente é uma voz masculina;, completa.
Num lugar do tamanho do mundo
De Amauri Rodrigues. Editora Kiron, 100 páginas. Preço médio: R$ 50. À venda em versão e-book no site da Editora Kiron.