Robson G. Rodrigues*
postado em 12/11/2018 09:16
Ao longo da história, o jazz ramificou-se em dezenas de subgêneros e influenciou na criação de outra grande porção de ritmos em todo o mundo. A versatilidade do gênero dá espaço para ser abordado de distintas formas. Exemplos bons disso são os dois jovens grupos brasilienses Capivara Brass Band e Munha da 7 Top Trio. No terreno fértil musicalmente para o improviso, os grupos exploram o máximo da sonoridade que prezam.
Com pouco menos de um ano, a banda de rua Capivara Brass Band transita entre standards do jazz e releituras do pop contemporâneo no repertório. Munha 7 Top Trio vai em caminho diferente. Pega pelo avesso o que chama de chavões do jazz em composições amalucadas à primeira vista de um leigo.
;Decidimos fazer uma brass band, porque não tinha aqui em Brasília;, conta Bruno Portella, 31 anos, trombonista do grupo independente Capivara Brass Band. Juntos desde de dezembro de 2017.
Metais nas ruas
No português, brass band significa banda de metais ; família de instrumentos de sopro que inclui o trompete, trombone, clarinete, saxofone e a tuba. Brass band tem tudo isso, mais a percussão para dar liga. Geralmente, todos os instrumentos são apoiáveis no ombro, o que permite à banda se locomover ; como fazem as militares.
A equipe do Capivara Brass Band viu nas ruas a oportunidade de conseguir dinheiro. ;Brasília não tem tradição de músicos de rua. Sempre é um músico sozinho. As pessoas acharam diferente uma banda com uma formação como a nossa;, explica o Bruno.
Numa rápida escalada, as ruas logo passaram a dividir a agenda do grupo com os festivais. Eles caminham pelas multidões, que os segue, abrindo espaço com os instrumentos. No repertório: Herbie Hancock, James Brown, Michael Jackson, Ed Motta, Anitta, Raça Negra, entre outros artistas cuja mistura pode parecer pouco homogênea. Mas tudo soa coeso graças à roupagem jazz e funk music que dão às músicas.
;Sempre fez parte da nossa proposta mesclar ritmos, os arranjos foram pensados para isso, pegar temas populares do jazz, que é visto como elitista, com o popularzão. Queremos diminuir essa distância;, relata Bruno, que toca ao lado de Pedro Castro (Sax Alto), João Gabriel Joshua (Sax Tenor), Higor Vinicius (Trompete), Fernando Junio (Tuba) e Son Andrade (Bateria). O grupo pretende lançar um disco de músicas autorais até a metade do próximo ano.
Bruno explica que não há receita de bolo para transformar outros ritmos em jazz. Em comum, no entanto, são os momentos de improviso, forte característica do jazz, que Capivara garante aos gêneros em que isso não é tradição.
Ironia sofisticada
Grupo criado em 2002, o Satanique Samba Trio ; que foi de tudo, menos um trio ; já gravou oito discos, incluindo selo britânico, e rodou diversos países com a proposta de desconstruir ;clichês; rítmicos da MPB. Tem à frente o irônico baixista Munha da 7, que agora está também com o ;projeto de jazz careta experimental solo; chamado Munha da 7 Top Trio ; que é, de fato, um trio.
Para compor para o Top Trio, ele repete fórmula que desenvolveu com o Satanique. ;Ouço tudo que há de mais rasteiro na música;. Daí então, parte para identificação de chavões das músicas ;com sabor de supermercado;. Para fazer a própria estrutura das músicas, ele pega material de suas pesquisas. ;Faço reconhecimento de clichês. Anotações do clichês. Descrição do clichês. Desconstrução por deslocamento, por deboche ou por questionamento;, explica.
;Enquanto o Satanique é todo meticulosamente arranjado, o Top Trio é mais improvisado, usa dessa linguagem do jazz;, diferencia Munha, 39. Em ambos os grupos instrumentais, ele recorre às distorções e dissonâncias rítmicas nas músicas. Completam o trio Baby Lalis (baixo) e Hélio Miranda (bateria e teclado). Top Trio lançou o álbum Sofrido no YouTube.
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira