Diversão e Arte

Fotos de Ake Borglund e de Bento Viana mostram história do Brasil

As imagens trazem uma mirada singular sobre a história do país

Nahima Maciel
postado em 14/11/2018 07:00
As imagens trazem uma mirada singular sobre a história do país

Contar a história do Brasil a partir de três cidades foi um fio condutor para os curadores Berttoni Licarião e André Honor criarem a exposição Capitais do Brasil. Em cartaz no Museu Nacional da República, a mostra reúne fotografias do sueco Ake Borglund e do carioca Bento Viana, radicado em Brasília desde os 8 anos, e uma linha do tempo na qual os curadores propõem uma maneira diferente de olhar para a história brasileira.

Salvador, Rio de Janeiro e Brasília, todas capitais em algum momento da história brasileira, aparecem nas imagens de Borglund e Viana de maneiras diferentes. É para o aspecto humano que o fotógrafo sueco dirige suas lentes, enquanto Viana tem como foco a paisagem e os contornos físicos das cidades. Borglund visitou o Brasil em 1957. Passou também pelo Chile e pela Argentina, sempre com a intenção de fazer uma reportagem sobre a América Latina.

Em Brasília, Borglund fotografou, principalmente, os rostos e os corpos que trabalhavam para a cidade sair do chão. Fez o mesmo no Rio e em Salvador: a cidade aparece nas expressões de seus habitantes e na maneira como se deslocam e ocupam o espaço urbano. No caso de Viana, há fotos realizadas em Salvador, em 2006, e no Rio, em 2016 e 2017. ;A gente aproveitou para mostrar o lado mais humano e o lado mais técnico do que são essas cidades hoje. O Bento faz essa coisa mais visual da cidade;, explica o curador Berttoni Licarião.


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No espaço expositivo, as fotos foram separadas em dois módulos: Veredas da memória para o material de Bento e Trilha dos sentidos para o de Borglund. No conjunto, estão representados o Brasil colonial, imperial e republicano. Os curadores também levaram em conta três elementos para convidar o público à viagem histórica proposta. Em Salvador, a primeira capital do Brasil, é a água que ganha destaque. No Rio, o ar é dono das narrativas das imagens selecionadas e, em Brasília, o destaque é para a terra.

Uma linha do tempo completa a exposição e traz para a montagem um caráter mais interativo. Ali, os curadores decidiram contar a história do Brasil a partir de perspectivas diferenciadas. ;A gente privilegiou a história tentando trazer fatos que são preteridos, que não receberam o devido destaque nos livros de história, por exemplo;, avisa Licarião. Para a escravidão, em vez de se concentrar na suposta disposição da princesa Isabel em libertar os escravos, os curadores preferiram explicar que a Lei Áurea foi fruto de uma luta e de um movimento social. ;A princesa não libertou os escravos porque era boazinha;, aponta Licarião.

Sobre a Independência, a dupla fez questão de lembrar que, em 1825, Portugal exigiu uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas para reconhecer o Brasil como nação. Na literatura, eles seguiram a mesma linha. ;A gente escolheu trazer fatos da história literária que são pouco explorados;, avisa Licarião. O destaque foi para autoras negras como Maria Firmina dos Reis que, em 1858, publicou Úrsula, e Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de despejo, publicado em 1958.

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A poesia também aparece na exposição com versos de Lívia Natália, de Salvador, Eliane marques, do Rio Grande do Sul e Meimei Bastos, de Brasília. ;São vozes silenciadas pela história. Maria Firmina só começou a aparecer nos livros didáticos em 2015. E tanto Meimei quanto Lívia e Eliane estão ganhando destaque e produzem em veículos que não chegam a todos e não são publicadas por editoras grandes;, diz o curador.

A linha do tempo também convida o público a interferir com sua própria leitura dos fatos históricos. Por meio de bilhetes, os visitantes podem inserir informações que considerem relevantes e que não estão representadas na exposição. ;Queremos que as pessoas coloquem fatos e datas que acham que está faltando, ou a parte da história que acham que não foi privilegiada pela linha do tempo;, explica o curador.



Capitais do Brasil
Exposição de Bento Viana e Ake Borglund. Curadoria: Berttoni Licarião e André Honor. Visitação até 6 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Eixo Monumental)



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