Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Djavan não esquece do atual momento político do país em novo disco

O artista lançou o álbum 'Vesúvio' com 13 faixas

Pra não dizer que não falei das flores, que ficou conhecida como Caminhando, classificada em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, se transformou num hino de protesto contra a ditadura militar. Num dos versos, o autor e intérprete, Geraldo Vandré, canta: ;Vem, vamos embora/ Que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer...;.

Em um trecho da letra de Solitude, o primeiro single de Vesúvio, o novo e politizado álbum de Djavan, o artista alagoano diz: ;Por isso a hora/ De fazer é agora;. É algo que remete aos tempos de agora e traz clara semelhança à temática utilizada pelo cantor e compositor paraibano, naquela canção de outrora.

Reconhecidamente um cancionista romântico, de viés pop, Djavan, nos seus mais de 40 anos de trajetória vitoriosa, construiu uma obra bem avaliada. Se o aspecto comportamental é explorado em várias composições criadas por ele, em nenhum momento temas ligados à política foram focalizados. Em Vesúvio, porém, essa questão é refletida não apenas na citada Solitude, como também em Viver é dever e na faixa título.

Mas o que permeia mesmo este novo projeto é o sotaque djavânico presente em todas as canções, tanto no aspecto melódico, quanto no texto recheado de metáforas. Vesúvio é um disco com 13 faixas, que registram a nova safra de um compositor prestes a completar 70 anos e que faz dele, na maturidade plena, um dos nomes de maior representatividade no universo da música popular brasileira contemporânea. O ouvinte, ao escutar, Cedo ou tarde, Dores gris, Um quase amor, Madressilva, Mãos dadas, Meu romance, Orquídea e, claro, as citadas anteriormente, com certeza vai chegar à mesma conclusão.




Entrevista// Djavan


Antes de chegar por inteiro ao público, Vesúvio teve singles lançados nas plataformas digitais. Por que você quis também utilizar essa estratégia?
Acho que é algo mais fluido, uma maneira de absorção fácil por parte das pessoas. Percebi que o resultado foi satisfatório, ao chamar a atenção para a obra como um todo.


Vesúvio deve ser visto como um disco pop?
Estou sempre em busca de novas motivações. Para mim não foi um desafio imenso fazer um disco pop neste momento nebuloso que estamos vivendo. Mas, embora diversificado, pois tem samba, canções e rock, vejo Vesúvio como um disco pop.


O que concretamente o levou a escrever Solitude, Viver é dever e a faixa título?
Ao criá-las, me deixei levar pela perplexidade com o momento de incerteza vivido hoje em dia no Brasil e no mundo. São fatos que a gente toma conhecimento por meio da frieza do noticiário, e também pelas observações pessoais, que me levaram a criar essas letras.


A única gravação de estúdio, que dividiu interpretação com outro artista foi a de Milagreiro, com Cássia Eller, em 2001. Agora você canta Meu romance com o uruguaio Jorge Drexler. Como isso se deu?
Sempre admirei o trabalho do Jorge, mas ainda não o conhecia. Quando compus Meu romance, fiz contato com ele e o convidei para gravá-la comigo. Ele adorou a ideia e fez uma versão em espanhol para esse bolero pop, que recebeu o título de Esplendor e será lançada mundialmente, com um dueto nosso.


Esse trabalho, com certeza, vai gerar uma nova turnê. Está preparado para enfrentar a estrada?
Estou bem e vou para a estrada com uma nova turnê, que tem início em 22 de março do próximo ano, em Santos. Em Brasília, me apresento em 27 de abril, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.