Diversão e Arte

Hamilton de Holanda faz show em homenagem a Jacob do Bandolim

Reverência ao compositor carioca tem clássicos como 'Noites cariocas'

Irlam Rocha Lima
postado em 20/12/2018 06:30

Hamilton de Holanda: Jacob do Bandolim é o compositor que o brasiliense mais tocou

A emoção tomou conta de Hamilton de Holanda quando em 2017, na Casa do Choro do Rio de Janeiro, recebeu de presente do Instituto Jacob do Bandolim e o bandolim de 10 cordas usado pelo autor de clássicos como Assanhado, Doce doce de e Noites cariocas. Embora seja uma relíquia, ele vem tocando o instrumento em alguns dos muitos shows que tem feito desde então.

O que poderia ser visto como uma peça de museu, o bandolim foi utilizado também por Hamilton na gravação de Jacob Baby, um dos quatro discos da caixa que lançou em outubro último, pela Deck Disck. São partes também do projeto, elaborado pelo músico carioca-brasiliense e seu produtor Marco Portinari, os CDS Jacob 10ZZ, Jacob Bossa e Jacob Black.

No show solo que faz hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro, Hamilton passeia pelo repertório dos quatro discos, com releituras solo, uma vez que no registro em estúdio foi acompanhado por Guto Wirti (contrabaixo), Marcelo Caldi (acordeon), Rafael dos Anjos (violão), Thiago da Serrinha e Luiz Augusto (percussão).

Mas o bandolinista vai abrir espaço também no show para composições de Tom Jobim, Chico Buarque, Arlindo Cruz e para músicas de sua autoria. Na parte final há a participação de um convidado especial, o sobrinho e contrabaixista Bento Tibúrcio Mendes, de 11 anos, filho do irmão e violonista Fernando César e da atriz Caísa Tibúrcio.


Hamilton de Holanda
Show solo do bandolinista e compositor hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.



Entrevista Hamilton de Holanda

Na sua avaliação, qual foi a importância de Jacob do Bandolim para o choro e, por extensão, para a música popular brasileira?
O Jacob, como compositor, bandolinista e pesquisador, foi responsável pela manutenção do choro numa época em que a bossa nova, no fim dos anos 1950 e início dos 1960, detinha o monopólio, sendo a música mais ouvida no rádio. Ele continuou promovendo saraus, gravando discos, nos quais incluía composições de Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Aliás, Jacob era muito amigo de Pixinguinha, a quem tinha como ídolo e considerava o ;pai do choro;.

O que o levou a desenvolver o projeto focalizando a obra de Jacob, que resultou na caixa com quatro discos?
Desde criança tinha fixação na obra do Jacob. Eu ainda era pequeno e tocava escaleta quando solei Doce de coco. Esse choro fez parte do repertório do primeiro show que fiz no Clube do Choro, com o (Fernando) César, na estreia do Dois de Ouro. Em minha carreira, foi o compositor que mais toquei.

A comemoração do centenário do mestre do bandolim também pesou na sua decisão?
Com certeza. Numa conversa com o Portinari, logo no começo deste ano, nos lembramos da data e passei a pensar numa forma de homenagear o Jacob. A ideia inicial era gravar um LP com algumas das composições dele. Mas numa viagem, no avião, sentei ao lado do Rafael Ramos, diretor artístico da Deck Disck e falei com ele sobre a ideia. O Rafael disse, então, que o pai, José Augusto, tinha um projeto maior e que pensou em mim para realizá-lo. Fui ao encontro do José Augusto, que sugeriu uma abordagem maior da obra do Jacob. Aí, surgiu a possibilidade da caixa.

Houve dificuldade para definir o repertório?
Nem tanto, pois eu já tocava 50 músicas do repertório do Jacob. A dificuldade maior foi achar uma forma de apresentar o repertório. Aí, decidi dividir em quatro blocos, cada um com determinado título e estética próprios: Jacob Baby, Jacob10ZZ, Jacob Bossa e Jacob Black. Os quatro discos têm 48 faixas e dessas, 35 eu já tocava. Algumas são clássicos, como Doce de coco, Noites Cariocas, Santa Morena e Assanhado, única que está no repertório dos quatro discos.

A linguagem utilizada é que distingue cada um dos discos?
Cada um tem estética própria. No Jacob Baby, utilizei o bandolim de 10 cordas que pertenceu ao mestre, que ganhei de presente do Instituto Jacob do Bandolim. Com ele, toquei choros que aprendi na infância, como Buliçoso, Cabuloso, Doce de coco. No Black, com uma levada percussiva incluí, por exemplo, A ginga do Mané, Bole bole e Jacob Black, de minha autoria

Quanto ao Bossa e ao 10ZZ, o que trazem?
Os choros do Jacob têm muito balanço, algo que os aproxima da bossa. Ele chegou a gravar um disco com clássicos da bossa nova, mas acabou não lançando. No Bossa tem, entre outras, Vibrações, Carícia e Receita do samba. Já o 10ZZ, com muito improviso, assim como o jazz, gravei Assanhado, Remeleixo e Naquela mesa, que o Sérgio Bitencourt, filho do Jacob, compôs depois da morte do pai.

O show terá só músicas do Jacob no repertório?
Vou acrescentar Chega de saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Luíza (Tom Jobim), O meu lugar (Arlindo Cruz e Mauro Diniz) e algumas composições minhas. Com meu sobrinho Bento, vou tocar Sinhá (Chico Buarque) e Miss Teba, que fiz para minha mãe e avó dele.


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