Diversão e Arte

Personagens LGBT+ ganham complexidade e protagonismo no audiovisual

Produções se dedicam a perfis menos superficiais dos personagens LGBT%2b

Ronayre Nunes
postado em 22/12/2018 06:30

Indicada ao Globo de Ouro, Pose apresenta história de minorias

A presença das séries Pose e Killing Eve na disputa pela estatueta de melhor série dramática de 2019 no Globo de Ouro deixou clara uma tendência que vem se desenhando desde 2018: produções seriadas que propõem uma nova narrativa para personagens LGBT%2b, em que os papéis se distanciam da clássica vertente estereotipada e superficial. Os personagens ganharam maior protagonismo. Nessas nova produções, personagens gays são abordados com maior complexidade, e a história e a sensibilidade são valorizadas.

;A série Pose é preciosa. Acho que seu grande diferencial está em não se contentar em retratar personagens LGBT , mas em apresentar a complexidade da Cultura Ballroom, um dos maiores patrimônios culturais da comunidade LGBT ;, defende Felipe Areda, diretor do Instituto Cultura Arte Memória LGBT . A série, que tem produção de Ryan Murphy, conta como um grupo de jovens LGBT , expulsos de casa pelo preconceito dos parentes, consegue se abrigar em uma espécie de residência comunitária na Nova York do final da década de 1980.

Naquela época, a identidade gay se tornava parte de uma cultura, de um movimento, e os personagens estão sujeitos a uma maior exposição, embora houvesse pouca aceitação. Pose, em essência, coloca em cena pessoas negras, crise de HIV e uma personalidade LGBT que sobrevive na adversidade. No Brasil, a série é transmitida pelo canal a cabo Fox. ;A escalação de um elenco de atrizes predominantemente trans e negras também contribuiu com uma complexidade na representação da comunidade LGBT , para além da representação branca e rica que era presente em séries importantes, mais limitadas, como Queer as Folk e L World;, completa Areda.

Além de Pose
Se Pose olha para o interior de parte da formação cultural LGBT com uma nova abordagem, outras séries também lidam com o tema ao apresentar personagens tridimensionais, mais complexos e sensíveis, caso de Killing Eve ; exibida no Brasil pelo streaming da Globoplay ;, Glow, produção original da Netflix e American crime story: O assassinato de Gianni Versace, do canal FX. A lista cresce com produções norte-americanas como The bisexual (Hulu), The Chi (Showtime) e Claws (TNT), ainda inéditas no Brasil.

;Nessa perspectiva, LGBT deixam de ser somente representados e passam a ser apresentados como importantes agentes culturais, que têm criado práticas, sentidos, valores e relações;, analisa Areda. ;Acho muito importante que tenhamos cada vez mais artistas LGBT do audiovisual abraçando elementos estéticos e políticos dessa cultura em suas produções. Esses elementos que ultrapassam a presença de personagens LGBT mas que aparecem nas escolhas estéticas, na narrativa, na filmagem.;

Impacto social
De acordo com Marlon Soares, coordenador do Movimento LGBTS Pensar, esta nova forma de apresentação de personagens que saem do espectro heterossexual vai além das telinhas e pode trazer ganhos sociais importantes. ;A gente percebe esse movimento ainda a partir do rádio da TV e depois das rádios novelas, é perceptível que essas histórias fazem as pessoas se aproximarem dos personagens e se sentirem mais suscetíveis a entender aquela realidade. E mesmo que, em um primeiro momento, as pessoas pensem ;só tem viado e sapatão na tevê;, é importante que a população acabe vendo dois lados de uma história e tendo maior informação;, acredita.

E se a equação para uma nova visão social é importante, Soares faz questão de ressaltar que a outra ponta dos envolvidos também tem o que comemorar. ;Os próprios LGBTs se enxergam em um papel de maior destaque e maior importância dentro da própria sociedade, com a representação histórica. São pessoas que se entendem como indivíduos participantes do meio social, a partir do momento em que vemos os LGBTs em mais produções, com uma nova abordagem;, aponta.

Mas nem tudo é perfeito. Essa nova abordagem ainda faz parte de um movimento embrionário. Nas produções brasileiras, por exemplo, a maioria dos personagens ainda estão presos em um espectro de estereótipos e superficialidades. Além disso, é importante também que todas as siglas do LGBT englobem essa nova perspectiva, como argumenta Soares. ;Eu ainda acredito que seja possível tratar a transexualidade com uma riqueza maior de detalhes e cuidado;, diz.

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