Treze de dezembro, quinta-feira, encerramento da 28; edição da Mostra Dulcina ; projeto que apresenta ao público os trabalhos de conclusão de curso dos alunos de teatro da Faculdade Dulcina de Moraes. ;Concentração, gente!”, diz o professor de artes cênicas Fernando Guimarães aos estudantes eufóricos durante o ensaio de um espetáculo que vai ser apresentado naquela noite.
Todo o prédio do império de Dulcina de Moraes parece ser um local sagrado para quem trabalha e estuda lá. E, depois que uma nova gestão começou a tomar conta de todo o complexo cultural ; que inclui a Faculdade de Artes, o Teatro Dulcina e a Fundação Brasileira de Teatro ;, os alunos e funcionários ajudam na manutenção do espaço e fazem um grande esforço para que a mudança que a nova gestão trouxe, não seja algo passageiro.
Desde 1996 como professor da faculdade, Fernando Guimarães pode dizer que vê uma diferença muito grande em todo o ambiente.;É uma gestão que está muito preocupada e com muita vontade que isso aqui dê certo. A faculdade está limpíssima e pintada. É um lugar que hoje dá gosto de entrar;, elogia.
É notável o clima de esperança entre os funcionários e os alunos. No entanto, ainda que o avanço nas condições de trabalho seja um fato e o funcionamento da instituição esteja melhor, o cenário ainda não é o ideal. Com uma dívida atual de mais de 20 milhões e com o risco de ter as portas fechadas, a Faculdade Dulcina de Moraes conseguiu se reerguer, mas a passos pequenos.
Em 22 de janeiro, Christiane Ramirez assumiu o posto de secretária executiva da instituição e, desde então, cuida de toda a parte de extensão, eventos e gestão administrativa, o que inclui setores como financeiro, recursos humanos e infraestrutura do local. ;Eu nunca tinha pegado um lugar com tantos problemas. Nós temos problemas tributários, fiscais, administrativos, de condução e trabalhistas. Nunca foi feita a divisão do complexo cultural e da faculdade, por exemplo;, explica Chris, como é conhecida por todos.
Localizada no Setor de Diversões Sul, no Conic, todo o complexo cultural de Dulcina de Moraes passa por dificuldades financeiras e negligências há anos. ;Eu acho que quem esteve aqui antes não contava com a nossa força para continuar. E eu acho que eles deixaram isso aqui pronto para fechar mesmo. Eles queimaram completamente o CNPJ da instituição, receberam recursos públicos, mas não prestaram contas ou, quando prestaram, elas não foram aprovadas;, afirma Chris.
R$20 milhões
Valor atual da dívida da Faculdade Dulcina de Moraes
"Eu acho que quem esteve aqui antes não contava com a nossa força para continuar. E eu acho que eles deixaram isso aqui pronto para fechar mesmo;
Christiane Ramirez,
secretária-executiva do Teatro e Fundação Dulcina
"É uma gestão que está muito preocupada e com muita vontade que isso aqui dê certo.
A faculdade está limpíssima e pintada. É um lugar que hoje dá gosto de entrar;
Fernando Guimarães,
professor da Faculdade Dulcina
Fazer o mínino é um grande avanço
Com a entrada da nova gestão, o complexo Dulcina passou por diversas mudanças no decorrer de 2018, incluindo pintura, limpeza, revitalização das cadeiras do teatro e dos quadros brancos nas salas de aula. ;O primeiro semestre foi para retirar lixo, organizar seguranças, deixar o lugar em condições de trabalho para os professores e para os alunos. A gente conseguiu fazer em dois meses. Sem dinheiro, juntando os cacos e a força de trabalho mesmo;, conta a secretaria executiva.
Para o estudante de artes cênicas Logan Dias, as mudanças deste ano foram as mais radicais desde que chegou à Faculdade, em 2015. ;Quando eu cheguei, via a instituição muito bagunçada, entrava no prédio quem quisesse. Agora, tudo está sendo bem mais rígido e isso é ótimo. O teatro está bem mais limpo, as salas pintadas, a nova gestão trabalhou muito nesse sentido;, relata o estudante.
Chris Ramirez explica que a prioridade era reorganizar a faculdade. Primeiro, porque é a fonte principal dos recursos graças às mensalidades pagas pelos alunos. A partir de abril, foi a hora de reorganizar todo o complexo cultural para começar a alugar o Teatro Dulcina e receber mais verbas. Os valores obtidos dos espetáculos e eventos são destinados para a manutenção do prédio de cinco andares e dois subsolos. ;Estava praticamente abandonado;, revela Chris.
E, mais que isso, o pagamento dos funcionários começou a ser realizado dignamente com o tempo. ;A faculdade estava, praticamente, há seis anos sem pagar os funcionários. Eles faziam assim: entrava uma grana e dividia R$ 300 reais para cada um, o que é completamente fora de qualquer processo legal;, lamenta Chris.
Além do físico
O estudante Logan explica que, há três anos, quando entrou na Faculdade de Artes, a família não o levava a sério e, às vezes, nem ele mesmo acreditava muito em um avanço profissional. ;Agora, dá uma esperança de ter uma carreira, que eu não sei se não tinha antes. E eu acredito que, no âmbito profissional, já está ajudando, já que a gente trabalha na produção das peças que, além de trazer um aprendizado muito importante, acabam fazendo com que alguns diretores te reconheçam;, conta Logan.
Para Adair Oliveira, ex-aluno e agora professor de artes visuais e cênicas da Faculdade, a grande mudança na gestão é a preocupação em transformar o espaço em local de produção de cultura e geração de pensamento estético. ;Eu vejo que querem tornar e levar isso como um produto cultural: é arte, mas é um produto. E, além disso, deixar esse espaço com uma identidade de Brasília;, afirma Adair.
Segundo o professor, além de ser uma união de forças físicas para não deixar o prédio desabar, o significado imaterial que o complexo Dulcina tem para todos os envolvidos é o que fez a mudança acontecer. ;Acho que todo mundo teve a coragem de dizer ;vamos dar as mãos e vamos mudar isso aqui juntos;;, relata Adair Oliveira.
O professor Fernando Guimarães se diz esperançoso para o próximo ano letivo. ;Eu acho que 2019 vai ser um ano bom, mesmo com todas essas questões com os novos governos. Tem uma corrente muito positiva nossa aqui e eu acho que isso significa muito;, acredita.