Diversão e Arte

Eventos culturais gratuitos movimentam o espaço urbano do Distrito Federal

Produtores buscam lugares pouco frequentados pela população para atividades culturais e criam eventos gratuitos com música e arte urbana com o objetivo de movimentar a cena local

Tarcila Rezende - Especial para o Correio
postado em 09/01/2019 06:10
Buraco do Jazz: boa música, drinques e comidas
Os shows como os de ano-novo, no Museu da República mostram que há eventos grandes com entrada gratuita no Distrito Federal. O dia a dia da capital ainda é carente de lugares que tenham uma programação pensada em entreter o público brasiliense com entrada franca.

Com isso, alguns projetos começaram a surgir. Pensando em ocupar espaços não muito aproveitados pela população, ou até marginalizados, a preocupação desses eventos é difundir em Brasília uma cultura e não cobrar nada por isso, dar vida aos locais deixados de lado.

Exemplo é um evento, ainda novo, realizado no Conic. A Feira Hype tem uma proposta de juntar happy hour, música, arte, tatuagem e gastronomia. O idealizador do projeto, Kaká Guimarães, é um dos fundadores da festa Balada em tempos de crise e responsável por eventos no Sub Dulcina. Com a proposta de transformar o Conic em um lugar que seja realmente um setor de diversões, Kaká explica que a Feira também veio com o intuito de desmistificar o centro de Brasília. ;Queremos que o Conic seja um ponto de encontro democrático, e quem gosta de tatuagem rock, samba etc. possa desfrutar juntos dessa afinidade cultural;, explica Kaká.

A feira é realizada todo último sábado do mês. A edição de janeiro está marcada para o dia 26, às 14h. Funciona assim: a música fica sob a curadoria do coletivo Crew.za, que convida DJs, músicos e pesquisadores para embalar o evento nos mais variados estilos. A ideia é ter música de boa qualidade, no volume ideal para ouvir e dançar, mas que dê também para o público conversar. Cada feira conta com convidados para fazer comidas de rua, acompanhadas de drinques e outras bebidas a preços acessíveis. Tudo isso para que o público possa prestigiar as obras de arte realizadas, geralmente, pelos alunos e curadores da Faculdade Dulcina de Moraes. Tatuadores terão seus trabalhos expostos, dispostos a realizar obras.

Kaká afirma que o projeto reflete sobre a população entender a cidade e que o centro precisa ser ocupado. Segundo ele, Brasília precisa criar uma identidade cultural própria. ;Eu acredito muito na cultura orgânica, aquela que nasce dos movimentos culturais alternativos, e não do entretenimento como grande show. É aquela que nasce do coletivo sem buscar dinheiro como finalidade. E eu acho que a cidade está começando a entender os espaços, a identidade e o formato das coisas;, conclui Kaká.

Pensando em um ambiente mais intimista e charmoso, o Buraco do jazz ocupa espaços em Brasília desde 2016. Primeiro foi no Eixinho, na altura da 214 Sul, depois passou a se instalar na Funarte e, agora, reside no Parque da Cidade. Semanalmente, às quintas-feiras, o Buraco do jazz convida músicos para realizar shows de alta qualidade, num clima agradável, sem cobrar nada. ;Pode-se dizer que a cidade amadureceu durante os últimos seis anos no quesito cultura, mas estagnou para eventos gratuitos. E isso é muito culpa coisa da burocracia, o governo poderia facilitar mais para quem quer contribuir culturalmente para a cidade;, defende Gustavo Frado, idealizador do projeto.

Segundo ele, a proposta desde sempre foi ser um evento cultural de alto nível, sem deixar de ser acessível. A variedade de público no Buraco do jazz é um fato, e isso se dá porque o evento investe em diversos ritmos musicais para compor o repertório. Cerca de um terço do que se toca lá é, de alguma forma, jazz. O restante é uma mistura de blues e roots, com o funk, soul e electric. Todos os estilos fazem parte de uma pegada incandescente de jazz de rua mais agitado. A edição de amanhã, por exemplo, recebe Tuka Villa-Lobos no projeto Rita in jazz, cantando as músicas mais agitadas da Rita Lee no ritmo do gênero.

Batuque

Toda sexta-feira, por volta das 18h, quem chegar ao Setor Comercial Sul se depara com uma roda de samba em volta de uma mesa em frente a uma loja de churrasquinho. O samba do SCS já virou tradição na vida noturna dos brasilienses. Foi nesse embalo que começou a brotar mais vida cultural em um setor que, até hoje, é conhecido pelo tráfico de drogas e prostituição.

Inspirado nesse samba modesto e pensando em fomentar mais ainda a ocupação desse espaço foi que o Samba Urgente surgiu. Uma vez por mês, 11 músicos do coletivo que leva o mesmo nome do evento convidam grupos para fazer o que mais gostam: tocar samba. O evento fica no estabelecimento Canteiro Central, mas, com o tempo, a quantidade de gente ficou muito maior que o esperado, e eles acabaram por realizar a roda em frente ao local, no meio da rua mesmo, e de graça.

Centenas de pessoas se reúnem também no SCS, às sextas, para uma roda de samba

Segundo Victor Angeleas, um dos membros do Samba Urgente, existe uma união entre os músicos dos dois eventos. ;A gente os conhece há muito tempo, e eles têm um papel muito importante, porque deram o pontapé inicial. Então, a gente tem muita gratidão ;, diz Angeleas.

Victor afirma que a principal proposta do Samba Urgente é difundir o choro aos outros ritmos instrumentais feitos em Brasília, com toda a cultura do samba. A última edição, realizada no sábado passado, por exemplo, teve a participação da banda local Passo Largo e do músico mineiro Toninho Geraes. ;A gente se sente muito realizado e feliz, porque é o nosso sonho levar a música para todo mundo. Tocar para quase 5 mil pessoas, ser reconhecido e conseguir difundir a cultura na capital é uma honra enorme;, conclui Victor.

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