Diversão e Arte

Em entrevista, Nicolas Cage conta que levou o cinema noir a Homem-Aranha

Ator dublou uma das facetas do herói em 'Homem-Aranha no Arranhaverso'

Carlos Helí de Almeida - Especial para o Correio
postado em 10/01/2019 06:30
Cena de Nicolas Cage em Mandy: terror dirigido pelo americano Panos Cosmatos

Macau (China) ; A televisão foi sua primeira fonte de contato com o audiovisual; o cinema forneceu atores memoráveis, cujas performances o inspiraram por toda a trajetória profissional. Mas Nicolas Cage nunca esqueceu sua paixão pelas histórias em quadrinhos ; e seus heróis fantásticos. O veterano ator americano, que chegou a fazer teste para uma versão de Tim Burton para Superman, nunca concretizada, mais uma vez se aproxima do universo das tirinhas da infância com Homem-Aranha no Aranhaverso, animação dirigida pelo trio Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman e inspirada no personagem criado por Stan Lee.

No filme, Cage empresta a voz ao Homem-Aranha Noir, uma das versões do herói aracnídeo dentro de uma trama rocambolesca, ambientada na Nova York durante a Grande Depressão americana, em 1933. ;Fiz o filme com grandes intérpretes dos policiais noir dos anos 1930 na cabeça, como Humphrey Bogart e James Cagney, aqueles caras que falam rápido ou têm um ritmo de interpretação bastante específico. Então o meu Homem-Aranha Noir é uma mistura dessas referências cinematográficas e da memória que eu tinha deles quando garoto;, explicou Nicolas Cage durante a terceira edição do Festival de Macau, em dezembro, onde funcionou como embaixador do evento.

Homem-Aranha no Aranhaverso é um dos inúmeros projetos do prolífico ator de 55 anos, a caminho dos cinemas nos próximos meses, como 211, de York Alec Shackleton, coprodução com a Bulgária rodada em Sofia, ou o thriller Running with the devil, de Jason Cabell, uma coprodução com a Colombia, ou mesmo o terror Mandy, do americano Panos Cosmatos. Não importa de onde venha o convite, o importante para Cage é manter-se em movimento. "Estou nesse negócio por quase 40 anos, fiz mais de 50 filmes, então tenho que encontrar formas de manter o meu interesse pelo trabalho, não só para o espectador, mas para mim, também", contou o ator californiano.

Confortável

;Uma das maneiras é viajar, conhecer a visão de outras pessoas, seus conceitos de como um filme pode ser feito, ter a experiência de fazer cinema em diferentes cantos do mundo;, observou Cage, ganhador do Oscar por sua performance no drama Despedida em Las Vegas (1995), de Mike Figgis. ;Nos últimos anos, tenho participado de muitos filmes independentes, alguns bem pequenos. Mesmo estes podem te tomar três a quatro semanas de seu tempo. A gente não faz filmes para ganhar prêmios ou faturar milhões, temos que levar em consideração se nos sentimos confortáveis com o diretor, com a equipe. De outra forma, você está desperdiçando seu tempo;.

Cage adotou como mantra para suas escolhas de trabalho um conselho que ouviu do ator Martin Sheen, décadas atrás. ;Eu estava visitando o filho dele, o Charlie Sheen, em sua casa de Malibu. Devíamos ser muito jovens na época, porque o Charlie estava fazendo O lobo de Wall Street. Estávamos assistindo a um filme no quarto dele quando o Martin entrou e disse que a única coisa que importava na nossa carreira é se gostávamos do lugar onde estávamos e das pessoas com quem estávamos trabalhando;, recordou o ator, sobrinho de Francis Ford Coppola. ;Sempre volto àquela voz na minha cabeça. E ele estava absolutamente correto, e é assim que faço minhas escolhas hoje;.

Terror

Mandy é um desses projetos pequenos e arrojados, que Cage abraçou com a disposição e o entusiasmo da juventude, como quando estourou em filmes como Arizona nunca mais (1987), de Joel e Ethan Coen, e Coração selvagem (1990), de David Lynch. O longa-metragem Mandy é dirigido por Panos Cosmatos, filho de George C. Cosmatos, um dos ícones do cinema de terror dos anos 1980, de quem herdou o estilo de cinema. Sensação do Sundance ; o maior festival de cinema independente americano ; do ano passado, Mandy descreve a sangrenta vingança de um lenhador contra o líder de uma seita satânica, que torturou e matou seu grande amor.

;Nunca havia lido um roteiro parecido com este, antes. O curioso é que Panos queria que eu fizesse Jeremiah, o vilão, mas eu queria interpretar Red, o mocinho. Por causa dessa divergência, deixamos o projeto de lado. Dois anos depois, ele me liga dizendo que havia sonhado comigo fazendo Red, e me ofereceu o personagem;, recordou Cage. ;Duas coisas me deram certeza de que poderia fazer aquele papel. A primeira foi o fato de ter passado dois meses numa cadeira de rodas, por causa de um tornozelo quebrado. Conhecia o sentimento da impotência, da frustração, poderia canalizar aquela raiva para o personagem. A outra foi a morte do meu pai, anos atrás, da qual ainda tento me recuperar. Há em Red esse sentimento de perda profunda;.

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