Diversão e Arte

Caixa Cultural recebe mostra do artista plástico Alexandre Farto, o VHILS

A visitação, que começa nesta segunda-feira (13/1) segue até 3 de março, sempre de terça a domingo, das 9h às 21h, e tem entrada gratuita

Tarcila Rezende - Especial para o Correio
postado em 12/01/2019 07:40
Alexandre Farto: valorização do ser humano em face do mundo artificialQuando o tema é intervenção em espaços urbanos, Alexandre Farto, conhecido também como VHILS, é destaque internacional. E, dessa vez, as obras do artista plástico português estarão na Caixa Cultural Brasília a partir de amanhã. A mostra Incisão exibe as técnicas preferidas do artista, mas também se distingue pela reflexão sobre o consumo, realidades distintas do mundo urbano e as complexidades do ser humano. A visitação segue até 3 de março, sempre de terça a domingo, das 9h às 21h, e tem entrada gratuita.

Incisão partilha com o espectador um olhar cúmplice e preciso de questões recorrentes e transversais ao trabalho de Alexandre Farto, num gesto de valorização poética da identidade individual em face às complexidades que determinam a condição humana na contemporaneidade. Segundo VHILS, sua obra tem abordado temas que procuram valorizar o ser humano em face das complexidades do mundo artificial. ;Gosto de sublinhar esta importância do indivíduo e valorizar a sua luta diária pela sobrevivência naquilo que é por vezes um ambiente muito exigente e hostil à nossa natureza;, complementa.

Além das obras, Alexandre Farto assina a concepção e curadoria da mostra composta por obras realizadas coletivamente entre o artista e índios da Aldeia Araçaí, no Paraná. Na oportunidade, o artista foi a aldeia, onde realizou oficina que gerou a instalação e também uma intervenção artística na aldeia, em 2014. VHILS explica que a exposição também deve ser vista como uma colaboração com toda a comunidade, uma vez que, além da participação direta dos artesãos, o resto da matéria tem como inspiração a realidade de Araçaí.

O artista português recorda que a experiência de visitar a aldeia e socializar com os índios foi muito tocante e enriquecedora do ponto de vista humano.;Trabalhar com pessoas que estão vivendo em contextos difíceis tem tanto de desafiador como de recompensador. A gente aprende sempre, sobretudo nesse caso, no qual estamos em contato com uma cultura muito antiga, com uma vasta riqueza ancestral que, infelizmente, não está sendo nem respeitada nem aproveitada;, comenta VHILS.

Olhar cúmplice com a realidade do mundo urbano

E, mais que isso, para ele, Incisão é uma reflexão que contempla a realidade da comunidade de Araçaí, mas também as restantes comunidades indígenas do país, e o contraste delas com o Brasil e o resto do mundo urbano. ;Gosto de pensar que meu trabalho oferece uma base para a reflexão sobre questões importantes e vitais. Não criticam diretamente, não oferecem soluções para as questões em causa, mas ajudam a divulgá-las e chamam a atenção das pessoas. O objetivo é que gerem discussão e reflexão;, conclui.

O artista, que tem visitado e feito trabalhos no Brasil desde 2011, desenvolveu por aqui alguns dos projetos que, segundo ele, foram os mais impactantes da carreira dele. ;E depois, é um povo irmão, temos uma grande proximidade cultural e lingüística que torna tudo muito confortável. É um país incrível, grande, belo e com enormes contrastes sociais e econômicos, mas com uma identidade muito própria assente na mistura e no sincretismo, que me atrai muito;, revela VHILS.

Considerada contundente e complexa, a poesia visual de Alexandre Farto expressa uma reflexão sobre os temas da identidade, interação entre comunidades humanas e sobrevivência no caos do mundo contemporâneo. Isso porque o artista transmite um olhar particular que nasce das influências que ele vivenciou, na infância, em meio às transformações decorrentes do intenso desenvolvimento urbano ocorridos em Portugal nas décadas de 1980 e 1990. ;Creio que a arte, aliada ao ativismo e à conscientização, pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar a mudar a perspectiva das pessoas que a veem;, afirma.

Em Incisão, predominam elementos em madeira resgatados do meio urbano para projetar uma cidade simbólica, com várias camadas e diversos planos de leitura, habitada por personagens da realidade urbana. De acordo com o artista, a madeira é uma das matérias com a qual ele tem mais gostado de trabalhar ao longo dos anos. ;Em parte devido às suas características materiais, mas também devido à simbologia associada aos suportes que tenho privilegiado, como as portas que são elementos que a própria cidade rejeitou, recolhidos de lixeiras ou após demolições, constituindo deste modo uma reflexão sobre as noções de consumo e desperdício;, revela.

E uma das premissas fundamentais de Alexandre Farto tem sido a de trabalhar com aquilo que a própria cidade oferece, tanto em termos materiais quanto conceituais. ;Eu vivo no espaço urbano, gosto dele e me inspiro em sua vitalidade e na interação que proporciona, mas também o reconheço como o ;cancro alastrador; que é;, explica VIHLS.

Alexandre Farto iniciou a carreira no grafite, quando ainda tinha 13 anos, o que lhe permitiu aliar uma atividade plena de risco e adrenalina à expressão estética e interação com o meio urbano, ainda que, como ele mesmo diz, ;é uma prática muito ligada à ideia de vandalismo estético;. Mas, em termos de formas, ele deve os conceitos àquilo que trouxe do estilo. ;Agora, no que diz respeito à complexidade, creio que aborda o fato de que o meu trabalho tem muitas camadas de leitura para além da estética, uma vez que fala frequentemente sobre realidades sociais complexas;, complementa.

Já no âmbito da reflexão, o artista vem desenvolvendo trabalhos que abordam a vida que levamos hoje em dia nos espaços urbanos, além de abordar o modo como as pessoas e o meio onde vivem se moldam de forma recíproca. ;Mas também sobre o atual modelo de desenvolvimento global com caraterísticas uniformizantes, e o modo de como esse afeta a identidade das pessoas e de comunidades do mundo;, explica VHILS.

Incisão
Na Caixa Cultural Brasília. visitações a partir de 13 de janeiro a 3 de março. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Entrada franca. Classificação indicativa livre. Acesso para pessoas com deficiência

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