Adriana Izel
postado em 21/01/2019 07:00
A relação com São Paulo aproximou a brasiliense Camila Márdila da série Feras, que estreia hoje, a partir das 22h, na MTV, com episódio triplo. A produção, a segunda de ficção original do canal brasileiro (a primeira é a trama Perrengue, de 2018), retrata as novas formas de se relacionar nos dias de hoje, por meio da história do protagonista Ciro (João Vitor Silva), um jovem que acabou de ser dispensado pela namorada após muitos anos de namoro, e dos personagens que o rodeiam ; Mari Maia (papel de Camila), Raul (Vinicius Siqueira), Joana (Mohana Uchôa), Peu (Tulio Starling, outro brasiliense da produção) e Barbieri (Rodrigo García). Tudo isso tendo a capital paulista como cenário.
;O projeto se propunha a falar de São Paulo, com uma galera jovem e ligada a relacionamentos... Acho que a gente vê muito pouco ficções e dramaturgias que lidem com esse universo e eu, particularmente como atriz, nunca tinha feito na tevê e no cinema algo por essa linha, mais leve, mais contemporâneo. Já fiquei interessada em fazer. Conheci o roteiro, soube do elenco, que eu admiro muito, e fiquei muito animada;, revela a atriz, que esteve nos últimos anos em projetos como Que horas ela volta? (2015), Justiça (2016) e Onde nascem os fortes (2018).
Taguatinga
Nascida e criada em Brasília, mais especificamente em Taguatinga, há alguns anos Camila deixou a capital federal para viver experiências primeiramente no Rio de Janeiro e agora em São Paulo. ;Em algum momento, eu tinha o desejo de sair da cidade e morar em outros locais. Eu moro agora em São Paulo e não sei onde vou morar nos próximos anos. Eu tenho esse desejo de sair, tenho uma alma nômade, no que o trabalho me ajuda. Apaixonei-me por São Paulo, que é algo que me aproxima muito da série, que é muito específica desse lugar que eu estou descobrindo e me apaixonando;, completa.
Na produção, a brasiliense interpreta Mari, uma jovem que acaba se aproximando de Ciro por pedido da ex-namorada dele que, antes de terminar, tentou manter um relacionamento aberto. Mas a personagem tem os seus próprios dramas. Um deles é lidar com o ex, que não se conforma com o fim do relacionamento e a culpa o tempo inteiro, seja por ele não ter voltado a Portugal, seja por ele ter tentado se matar. Apesar dos temas pesados envolvendo a personagem, Mari traz o humor ao universo da série, por meio da ironia e do sarcasmo, características com as quais Camila diz se identificar. ;Me identifico muito com a Mari, mesmo. Ela é a personagem, talvez, mais parecida comigo na vida real. Ela é extremamente sarcástica e irônica, tem um humor um tanto ácido, essa é uma característica minha. Então, me identifiquei com ela logo de cara. Ela é muito parecida comigo, na maneira de pensar, de se expressar. Acho que nunca tinha feito algo do tipo;, analisa Camila.
Além da série na MTV, Camila Márdila poderá ser vista muito em breve em outros projetos. ;Nada que eu possa confirmar, mas tenho um filme para rodar em julho da Gabriela Amaral Almeida, que é uma diretora muito legal, baiana radicada em São Paulo, que esteve no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no ano passado. Tenho série, tenho novela, mas ainda não posso revelar;, adianta.
; Entrevista / Camila Márdila
Como foi para você fazer parte de um projeto com temas atuais e por que acha que é importante trazer isso para o entretenimento?
Eu sempre procuro participar de projetos que tenham um sentido de ser no seu discurso, na maneira de lidar com as histórias e os personagens. Quando conheci o roteiro, achei que foi muito feliz na diversidade, no comprometimento com os assuntos e, ao mesmo tempo, em como lidar com esses assuntos, que a gente possa se identificar em ser apenas discurso. Muito por esses assuntos estarem em voga hoje em dia, que é o empoderamento e o espaço de fala. Acho muito importante isso na composição de fato do universo e não ser só um recurso para aparecer atual. Acho que Feras aprofunda isso, ela não passa pelos assuntos, os assuntos são a razão de ela existir.
Como uma mulher com experiência em filmes e novelas, como você a vê essa nova linguagem da mulher no audiovisual?
A série foi criada por homens principalmente, apesar de ter roteiristas mulheres, mas os dois idealizadores, Felipe Sant;Angelo e Teodoro Poppovic, são homens. Mas eu sempre os senti o tempo todo extremamente cuidadosos com todas as questões. A questão da mulher, que era algo que recaía sobre mim. O ponto de vista principal da série ainda é de um rapaz, mas em relação à participação de atrizes trans e aos atores e atrizes negras, houve muito diálogo em relação a isso. A direção e a criação estavam muito ligadas em compartilhar a dificuldade deles estarem criando alguns personagens que não eram exatamente o lugar de fala deles, homens de classe média, brancos, e etc.
Mas e a direção das mulheres?
A direção tinha mulheres, Lia Kulakauskas e Maria Farkas, que foram incríveis nesse processo. A gente ainda tem uma luta muito grande na paridade entre homens e mulheres no audiovisual. Os protagonismos ainda são muito masculinos, a forma de colocar a mulher ainda é extremamente patriarcal, estereotipada, e a gente luta. Nisso acho que a resistência do movimento está gerando, no mínimo, essa preocupação. Hoje em dia, a maioria dos encontros de trabalho que eu vou fazer, os realizadores já fazem muita questão de ver as mulheres na escrita, na direção. Porque acho que eles têm estado muito atentos e acho que tem aumentado um pouco a responsabilidade das pessoas na dramaturgia, mesmo de cuidar do que se fala e como se fala. Fico feliz que isso esteja no caminho, mas a gente ainda precisa de mais gente (mulheres) realizando de fato.
Você tem esse tipo de preocupação quando escolhe um projeto?
Totalmente, eu não conseguiria estar num projeto que fere alguns princípios básicos. Claro que cada projeto vai ter a sua particularidade à medida do que ele está se propondo, mas quando se eu me deparo com convites, roteiros, textos, ou direções que tenham pensamentos que diferem muito do meu, eu não consigo compartilhar, porque eu realmente me encontro nesse contexto.
Você nasceu em Brasília. Como é a sua relação com a cidade?
Nasci e cresci em Brasília, na verdade, em Taguatinga. Minha história toda foi lá. Em algum momento, eu tinha o desejo de sair da cidade e morar em outros locais. Eu moro agora em São Paulo e não sei onde vou morar nos próximos anos. Eu tenho esse desejo de sair, tenho uma alma nômade, no que o trabalho me ajuda. Eu vou sempre a Brasília, sempre vou ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Estive agora em dezembro sendo júri no Festival de Curta, tento me envolver com os festivais. Minha família continua aí, minha referência. Mas é por trabalho e também por desejo pessoal que me mudei. Hoje em dia, tem muita gente que opta em ficar na cidade e trabalhar. Eu queria ter essa experiência. Apaixonei-me por São Paulo, que é algo que me aproxima muito da série, que é muito específica desse lugar que eu estou descobrindo e me apaixonando.
Aproveitando que você falou do Festival de Brasília, você ainda acompanha a cena do audiovisual daqui? Como avalia esse cenário hoje?
Eu fiz comunicação social na UnB, então eu tenho diversos amigos diretores, roteiristas e estou sempre conectada com quem está produzindo, fazendo. E, às vezes, participo de alguma forma, opinando, trocando ideia com esses amigos que fizeram parte da minha formação cinematográfica audiovisual. A UnB é um espaço comum de troca de conhecimento, que acredito ter sido a fase mais brilhante da minha vida, realmente é um lugar muito especial. E eu continuo muito conectada com quem produz na cidade, sim. Muitas vezes estou no projeto do pessoal no FAC, estou muito por perto. Vejo muita crescença, inclusive, na última semana que eu estive aí saiu o resultado o FAC e muitas pessoas vão produzir filmes novos muito interessantes. Estou bem ansiosa por isso e estou vendo que a cidade está se consolidando e criando uma base cultural que é muito importante e não pode afrouxar.