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Confira análise sobre os indicados ao Oscar 2019

Fitas valorizadas pela quebra de preconceitos, como 'Roma', 'Infiltrado na Klan' e 'Green book' se alinham à 'Pantera Negra', numa lista que traz ainda 'A favorita' com 10 indicações

Ricardo Daehn
postado em 23/01/2019 06:05
A favorita confirma o título: 10 indicações ao Oscar
O espectador que pegar uma carona na narrativa do longa Green book: O guia (candidato a cinco prêmios Oscar) vai entender que, sim, definitivamente, é tempo de mudança no seleto grupo de artistas (alargado, recentemente, para mais de 8 mil integrantes que votam para o Oscar). O repúdio ao racismo é a grande mensagem, dado o bloco dos filmes indicados, entre os quais a comédia Green book, que esculacha, a cada segundo, atitudes preconceituosas do personagem de Viggo Mortensen (indicado, ao lado do excelente ator coadjuvante negro Mahershala Ali, a caminho do segundo Oscar).

[SAIBAMAIS]A mudança na Academia que vota o Oscar só não se mostra mais radical, pela ausência de mais candidatas mulheres nas 24 categorias que compõem a celebração do cinema mundial marcada para o dia 24 de fevereiro. Um diferencial é que muitos dos filmes concorrentes puderam ser assistidos na capital. Encurtada para oito longas na disputa central, a lista cristaliza o poder de sedução da produção A favorita e a coloca no pódio, com o mesmo número de 10 indicações de Roma, que demarca conquista de terreno para o streaming (outrora banido do Festival de Cannes), na primeira valorização de produção do gênero. Também inédito foi o holofote para um filme de super-herói (Pantera Negra), lembrado em sete categorias.

Roma, na 91; edição do Oscar, tem tudo para fazer história: dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, com trama autoral talhada nas experiências da infância, é um filme em preto e branco que obteve rara dupla indicação de melhor filme e melhor filme estrangeiro (acompanhando apenas O tigre e o dragão, A vida é bela, Amor e Z). Outra raridade brotou da valorização das atrizes mexicanas Yalitza Aparicio e Marina de Tavira, ambas indicadas, anos depois das candidaturas das conterrâneas Katy Jurado, Adriana Barraza e Salma Hayek.

Uma quebra de paradigmas cerca o longa Roma, candidato que dá visibilidade para o streaming

Ainda na onda de valorização de produtos exibidos prioritariamente em sistema de streaming, despontou o drama musical cômico dos irmãos Joel e Ethan Coen, A balada de Buster Scruggs (roteiro adaptado, figurino e canção). Ainda que atrás das oito indicações de Nasce uma estrela e Vice, Pantera Negra despontou como grande surpresa no Oscar: ao tratar do vigor da força africana, arrebatou sete indicações, formando linha de afirmação negra, ao lado do excelente filme de Spike Lee (apenas premiado, há três anos, com estatueta honorária), Infiltrado na Klan, dono de seis indicações em categorias. Do monumental êxito de bilheteria Pantera Negra ao singelo alcance do curta documental Ovelha negra, sobre a afronta do racismo de uma família saída de Londres, o Oscar calibra um diversificado poder de contestação de um sistema outrora branco e supremacista.

A expansão da representatividade foi verificada ainda na leva dos diretores ; pela primeira vez Spike Lee concorre na categoria ao lado apenas de outro americano: Adam McKay que, em Vice (indicado a oito prêmios Oscar, inclusive a sexta candidatura para a atriz Amy Adams), satiriza a figura de Dick Cheney, o vice-presidente do clã Bush. Com carreiras reconhecidas na esfera de Hollywood, despontam o polonês Pawel? Pawlikowski (do premiado Ida), por Guerra fria e o grego Yorgos Lanthimos (de A favorita) ; íntimo da Academia pela repercussão de Dente canino e de O lagosta ;, sem contar o mexicano Alfonso Cuarón, de Roma, já premiado pela direção de Gravidade (2014).

Infiltrado na Klan rendeu a primeira indicação de melhor diretor para Spike Lee

Uma das injustiças corrigidas pelos indicados está na primeira lembrança para o roteirista de longas como Taxi driver e O touro indomável Paul Schrader, na primeira possibilidade de prêmio, pelo roteiro de No coração da escuridão, thriller que debate crenças e niilismo, pela visão de ex-militar que foi líder religioso. Outros veteranos foram destacados por trabalhos formatados com sutileza artística, como é o caso de Willem Dafoe que, pelo filme do esteta Julian Schnabel No portal da eternidade, conquistou projeção de protagonista como o pintor holandês Van Gogh. Atuando desde meados dos anos de 1960, Sam Elliott finalmente foi lembrado como coadjuvante de Nasce uma estrela, enquanto Richard E. Grant, ator desde os anos 1980, se posicionou como estreante (no Oscar) por Poderia me perdoar? (protagonizado pela indicada).


Projeção feminina


No segmento dedicado às melhores atrizes, Glenn Close, de A esposa, desponta como favorita, ainda que haja a forte concorrência com a colega Olivia Colman (soberba, no longa A favorita, valorizado pelas talentosas Rachel Weisz e Emma Stone). Lady Gaga segue no páreo, com uma indicação que perdeu força no papel central de Nasce uma estrela. Dela se espera a láurea pela canção original do filme, Shallow. Entre os atores, os vencedores do Globo de Ouro Rami Malek (o Freddie Mercury criado para o longa Bohemian rhapsody) e Christian Bale (de Vice) estão numa disputa corpo a corpo que contempla o mentor da nova adaptação do clássico Nasce uma estrela, Bradley Cooper.

Uma das marcas nos pré-selecionados para a corrida do Oscar está no caráter de concentração no quesito de autoria. Cineastas como Spike Lee, Yorgus Lanthimos, Peter Farrelly (diretor de Green book) e Alfonso Cuarón, além de Bradley Cooper e Adam McKay são, por exemplo, coprodutores dos filmes que comandaram. O diretor Barry Jenkins (de Se a rua Beale falasse), ao lado de Cooper, Cuarón e McKay também foram cocriadores do roteiro dos respectivos filmes pelos quais concorrem.

No quesito artístico, a direção de fotografia afirma profissionais como Cuarón (Roma), Lukasz Zal (Guerra fria), o irlandês Robbie Ryan (de A favorita), o habitual colaborador de Darren Aronofsky, Matthew Libatique (de Nasce uma estrela) e o talento perene do diretor de fotografia de A paixão de Cristo e Os eleitos, Caleb Deschanel, por Nunca deixe de lembrar.

Em cartaz na cidade, o libanês Capernaum e o japonês Assunto de família (ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes) disputarão melhor filme estrangeiro com Roma, e com a dobradinha de fitas que mostra momentos entreguerras Nunca deixe de lembrar e Guerra fria. Também popular, a categoria de melhor animação alinha Os Incríveis 2, Ilha dos cachorros, Mirai, WiFi Ralph: Quebrando a internet e Homem-Aranha no Aranhaverso.

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