Diversão e Arte

Biblioteca Demonstrativa de Brasília amarga quatro anos de inatividade

Fechada, a Biblioteca Demonstrativa de Brasília deixa os amantes da leitura com saudades e esperançosos por uma reabertura

Tarcila Rezende - Especial para o Correio
postado em 03/02/2019 06:33

Tarcila Rezende
Especial para o Correio
Vinícius Velloso *
Há anos a Biblioteca Demonstrativa está desativada
Reconhecida por ser referência da cultura na cidade, a Biblioteca Demonstrativa de Brasília Maria da Conceição Moreira Salles da 506/507 Sul sofre com o descaso político e o abandono público. Esse espaço democrático com ações que redefiniram o olhar da população sobre as funções de uma biblioteca está fechado desde maio de 2014.

Por ter apresentado problemas no sistema elétrico, a marquise de entrada do prédio corria o risco de desabar e a Defesa Civil interditou o prédio. Na época, a biblioteca recebia cerca de 700 pessoas, diariamente. Embora o Ministério da Cultura já tenha se manifestado diversas vezes sobre as obras, até hoje nada foi cumprido.

De acordo com a Secretaria Especial de Cultura do Ministério da Cidadania, as obras da Biblioteca estão em fase de execução da canalização de drenagem e de esgoto. "Foi necessário revisar alguns dos projetos para solucionar problemas estruturais encontrados no decorrer da reforma, como a necessidade de reforço nos alicerces do anexo", afirmou o comunicado. A entrega da obra civil está prevista para o segundo trimestre deste ano. Em paralelo, o Departamento do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secretaria Especial da Cultura trabalha na licitação dos novos equipamentos para a biblioteca.

A escritora Iris Borges, que trabalhava no extinto Instituto Nacional do Livro (INL), acompanhou de perto vários momentos de todo o processo de fechamento e reabertura da biblioteca. ;Já são muitos anos sem um bem tão precioso. Tinha que dar um jeito de abrir, alguém precisa abraçar essa causa e tirar do papel, mesmo sabendo que não é simples;, afirma Íris.

Com um acervo que continha mais de 120 mil livros, a BDB era um posto avançado da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), mas hoje está subordinada ao Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura. Além de ponto de leitura e estudos, a Demonstrativa transformou-se no que era graças ao dinamismo da coordenadora Maria da Conceição Moreira Salles, falecida em 2012, razão pela qual tem o nome na Biblioteca.

Denominada de Lucília Garcez, a biblioteca infantil leva o nome da escritora que colaborou diretamente com o espaço por muitos anos. Ela conta que foi Conceição que colocou o nome para homenageá-la. ;Foi uma surpresa, ela me chamou para a reinauguração dizendo quem ia colocar meu nome na biblioteca. Eu fiquei superfeliz, ter o meu nome na biblioteca já dá uma dimensão do quão importante o lugar é para mim;, relembra Lucília, que frequentava o local desde a época em que estudava.

Outro a ser homenageado pela Conceição foi o ilustrador Jô Oliveira, que agora é dono da gibiteca da Demonstrativa, um espaço totalmente dedicado aos quadrinhos. ;Conceição me convidou. Chegando lá, vi que tinham doado 2 mil revistas para o local. Eu dei a ideia de colocar o nome de Ângelo Agostini, que trouxe os quadrinhos para o Brasil. Mas ela me disse que já tinha nome e se chamaria Jô Oliveira. Foi um momento incrível ter o meu nome naquele espaço;.

Descaso cultural

Lucília acredita que a educação é preponderante para construir uma classe de leitores, mas que no Brasil, a cultura é a última da fila a ser priorizada. ;Nós temos um país de poucos leitores, com uma cultura pouco civilizada. A dificuldade de leitura está vinculada à falta de educação, e em um país em que a metade da população não lê, já dá para imaginar o descaso com as bibliotecas;, reforça a escritora.

Jô corrobora a posição de que o Brasil não é um país de valorizar bibliotecas, além de não ter uma tradição de leitura. ;Ler deveria ser uma cultura desenvolvida nas escolas, nas famílias, mas muitas vezes as condições não permitem que isso ocorra. E isso colabora para que acabe com o leitor e em todo esse abandono;, lamenta Jô.

Para o escritor Lourenço Cazarré, a leitura combina com silêncio, quietude e concentração, o que se torna cada vez mais raro no mundo atual. Segundo ele, a Biblioteca Demonstrativa nunca foi exclusiva de uma classe e sempre atendeu pobres, remediados e ricos. E, mesmo num tempo de domínio total de celulares, tablets e computadores, para o escritor, o livro continua imprescindível. ;Além de fornecer-nos informação, alimenta nossa imaginação. As bibliotecas são a nossa última linha de defesa;, defende o escritor.

Rumo ao futuro

Lucília espera que quem coordene futuramente o local tenha uma perspectiva moderna da biblioteca. ;Também acho importante que o novo administrador dê continuidade aos projetos que a Conceição realizou para manter a biblioteca viva. Nós estamos órfãos, então, precisa abrir o mais rápido possível;, diz a escritora.
* Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco.


Lucília Garcez, professora e escritora

;É importante que o novo administrador dê continuidade aos projetos da Conceição para manter a biblioteca viva. Nós estamos órfãos, então, precisa abrir o mais rápido possível;
Lucília Garcez, professora e escritora


;Já são muitos anos sem um bem tão precioso. Tinha que dar um jeito de abrir, alguém precisa abraçar essa causa e tirar do papel, mesmo sabendo que não é simples;
Íris Borjes, escritora e livreira


;Ler deveria ser uma cultura desenvolvida nas escolas, nas famílias, mas muitas vezes as condições não permitem que isso ocorra.;
Jô Oliveira, artista gráfico


;Mesmo num tempo de domínio total de celulares, as bibliotecas são a nossa última linha de defesa;
Lourenço Cazarré, jornalista e escritor



Onde ler?

Biblioteca Pública de Brasília
SQS 312/512 - Asa Sul De segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18 horasSábado, das 7h30 às 13h30


Biblioteca Nacional de Brasília
Endereço: Setor Cultural Sul, lote 2, Edifício da Biblioteca Nacional. Telefone: (61) 3325-6257. E-mail: diretoria@bnb.df.gov.br. Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira: 8h às 19h45 /Sábados e Domingos: 8h às 14h


Biblioteca pública do museu vivo da memória candanga
Endereço: Via EPIA Sul Lt. D HGKO (Núcleo Bandeirante). Telefones: (61) 3301-3590. Horário de Funcionamento: Segunda a domingo das 10h às 17h


Biblioteca pública Machado de Assis
Endereço: CNB 01 Área Especial (Taguatinga) Telefones: (61) 3351-3134 / 3563-6198. E-mail: bibliotecadetaguatinga@gmail.com. Horário de Funcionamento: Segunda a sexta das 8h às 22h / Sábado 9h às 17h


Biblioteca pública de Águas Claras
Endereço: Rua Ipê Amarelo, Lote 01 (Águas Claras). Telefones: (61). 3383-8959 DRC (61) 7812-6533 Biblioteca. Horário de Funcionamento: Segunda a sextadas 8h às 18h


Biblioteca da Universidade de Brasília (UnB)
Biblioteca Central - Campus Universitário Darcy Ribeiro, Gleba A. Telefone: (61) 3107-2676. E-mail: informacoes@bce.unb.br. Horário de Funcionamento: de segunda a sexta das 07:00h às 23:45h.Sábados, domingos e feriados das 07:00h às 18:45h (em regime de plantão).


Biblioteca do Senado
Senado Federal, Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso, Anexo II,Térreo. Telefones: (61) 3303-1267 / 3303-1268. Email: biblioteca@senado.leg.br. Horário de funcionamento : de segunda a sexta-feira (exceto feriados).Horário: 9h às 18h30.


Biblioteca da Universidade Católica de Brasília (UCB)
Biblioteca Central . QS 07 Lote 01 - Taguatinga Sul, DF. Telefones: (61) 3356-9020 ou 3356-9464. E-mail: csu@ucb.br. Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira das 8h às 21h45 e sábado das 8h às 14h

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação