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Nova turnê de Elba Ramalho traz cantora celebrando 40 anos de atividade

Cantora Elba Ramalho celebra 40 anos de carreira com o álbum O ouro do pó da estrada e nova turnê

Irlam Rocha Lima
postado em 03/02/2019 06:48
Elba Ramalho tem novo CD à venda: O ouro do pó da estrada
Elba Ramalho percorre o país desde que deixou Campina Grande, em 1974, para se juntar ao Quinteto Violado no espetáculo cênico-musical A feira, visto em várias capitais do país, inclusive Brasília. Ao chegar ao Rio de Janeiro, convidada para participar da peça Ópera do malandro, concebida por Chico Buarque de Holanda, deu vida à prostituta Lúcia e chamou a atenção, também, ao interpretar a canção O meu amor, em duo com a atriz Marieta Severo.

Logo em seguida Elba daria início à carreira de cantora, ao lançar o LP Ave de prata, que serviu de suporte para sua primeira turnê solo. Dali em diante, nunca mais ela deixou de seguir o mote contido em Vida de viajante, toada clássica de Luiz Gonzaga: ;Minha vida é andar por este país;. Mas a música a levou a celebrados palcos internacionais, como os do Blue Note, de Nova York; Olympia, de Paris; e ao Brixton Academy, de Londres.

Eu sou o caminho, o CD de 2017, já era bem explícito, em relação ao destino estradeiro, que a estrela da música popular brasileira tomou para si. O título do álbum mais recente, O ouro do pó da estrada, deixa claro o valor que ela atribui ao chão que pisa por esses brasis, com as frequentes excursões.

O repertório desse novo projeto é bem misturado, mas faz todo o sentido. Ao logo da vitoriosa trajetória, embora tenha dado prioridade em discos e shows a ritmos originários de sua região, Elba sempre abriu espaço para gêneros musicais diversos e criações de compositores de diferentes estilos e gerações.

No O ouro do pó da estrada interpreta desde Princesa do meu lugar, lado B da obra de Belchior, ao clássico O fole roncou, do mestre Luiz Gonzaga. Em outras das 13 faixas há o registro da suave Na areia, de Juliano Holanda; da balada Se tudo pode acontecer, composta a oito mãos por Arnaldo Antunes, Alice Ruiz, João Bandeira e Paulo Tatit; e Oxente, forró de Marcelo Jeneci e Chico César. Da obra de Dominguinhos e Fausto Nilo foi pinçada Além da última estrela, que traz Mestrinho na sanfona. Já Se não tiver amor, mais uma com sotaque nordestino, tem a assinatura do ator George Sauma; enquanto Girassol é a recriação de um hit da banda de reggae Cidade Negra.

A participação de alguns companheiros de ofício, é outro destaque desse trabalho. Em Girassol da caverna (Lula Queiroga), Elba divide a interpretação com Ney Matogrosso. Na dramática O mundo (André Abujanra), ela tem ao seu lado nos vocais Roberta Sá, Maria Gadu e Lucy Alves. O grupo A Barca dos Corações Partidos se junta à cantora em Calcanhar ; que funde elementos do rock e do Mangue Beat ; , dos novatos Yuri Queiroga e Manuca Bandini.

Entrevista / Elba Ramalho

O Ouro do pó da estrada, título do seu 38; disco remete ao seu destino estradeiro?
Sim, definitivamente eu encarno A vida de viajante dos versos de Gonzaga. Há 40 anos que minha vida é andar por este país. Felizmente, tenho orgulho do caminho que trilhei.

Esse novo álbum, no seu entendimento, dá continuidade ao trabalho, ou propõe algo novo?
Os dois. Continua o que havia sido proposto em discos anteriores e atinge também novos horizontes. É um processo de evolução. Neste trabalho atual, temos a sonoridade e temos o mérito de transmitir mensagens positivas e otimistas.

A escolha do repertório bem diversificado obedeceu a que critério?
Foi acontecendo de forma espontânea, sem muito rigor. Buscando não só uma linguagem musical, mas buscando um conteúdo que pudesse expressar o que eu sinto, o que penso neste momento.

Embora canções de estilos variados estejam presentes no repertório, ter a fidelidade à cultura nordestina é algo prioritário em sua carreira?
Ah, sim, prioritário e espontâneo. O Nordeste está em mim, me oferece o conteúdo, é a fonte onde me nutro artisticamente. Eu posso até cantar um reggae ou samba, mas sempre tem o meu DNA nordestino. Sempre vai ter a minha raiz. Pés fincados no Nordeste, mas a cabeça aberta para o mundo.

Manter o timbre e a energia interpretativa lhe custa muito esforço?
O esforço é grande, mas vale a pena estar anos e anos cantando, me experimentando. Nessa hora, a experiência se sobrepõe. O público sempre vai merecer o que eu tenho de melhor, no palco, vou dar sempre o máximo de mim.

Tostão Queiroga e Yury Queiroga, músicos de diferentes gerações, são os produtores desse CD. Quis ter visões diferentes para auxiliá-la no processo de criação?
Eles foram importantes em todo o processo. Temos afinidade musical e intimidade. Yuri é mais jovem e ousado no processo dos arranjos e o Tostão tem a experiência de anos tocando comigo. A família Queiroga segue a tradição do bom gosto. Acho que a junção deles funcionou muito bem.

Ter Ney Matogrosso, Maria Gadu, Roberta Sá, Lucy Alves e A Barca dos Corações Partidos como convidados sinaliza o quê?
São artistas que admiro. Por isso os convidei! Sinaliza que eu gosto de compartilhar o palco, eu gosto de estar entre amigos.

Há nova turnê em perspectiva para lançar O ouro do pó da estrada?
Quanto à turnê, já tem início definido para fevereiro em São Paulo. Será mostrado o disco todo e mais alguns resgates. Depois sigo pelo país e Brasília está no roteiro.

Que diferença vê em fazer show para a plateia de VIPs em Trancoso e para público de pessoas comuns numa festa de São João em Ceilândia, aqui na capital?
Não faço distinção de público. O foco é agradar, dar nosso melhor. Trancoso ou Ceilândia, Nova Iguaçu ou Nova York são territórios bem-vindos! A música é universal.

Qual é a sua visão desses novos tempos do país, que vive clara divisão, marcada pela intolerância?
O Brasil está fazendo uma travessia difícil, delicada, mas esperamos o melhor ao final. Temos que acreditar. O povo brasileiro vislumbra tempos melhores e merece resgatar a autoestima.

O ouro do pó da estrada
CD de Elba Ramalho com 13 faixas. Lançamento do selelo Deck. Preço sugerido: R$ 24,90

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