Diversão e Arte

BaianaSystem completa 10 anos com novo disco e show em Brasília

Nesta sexta, o grupo lança o disco 'O futuro não demora' e faz show na festa Imagina no carnaval

Robson G. Rodrigues*
postado em 11/02/2019 08:43

O BaianaSystem mistura compromisso social, crítica e som embalante

BaianaSystem dosa como poucos o engajamento social, a observação crítica e o som embalante descontraído. O grupo que completa 10 anos de estrada é capaz de provocar euforia nas rodas ensandecidas sem abrir mão do teor político e poético nas letras assinadas, em maior parte, por Russo Passapuso. Na profusão de ritmos propagados pelo soundsystem, se encontram a música jamaicana, latina, africana e, sobretudo, baiana. O dub acompanha o som da guitarra baiana de Roberto Barreto.

Eles se apresentam em Brasília na sexta-feira. São a principal atração da festa Imagina no carnaval. No mesmo dia, o grupo lança seu terceiro disco de estúdio. Depois do aclamado Duas Cidades (2016), eles apresentam agora O futuro não demora. Preenchem o disco parcerias ilustres com Antonio Carlos & Jocáfi, BNegão, Manu Chao e o maestro Ubiratan Marques.

Pelo telefone, de Salvador, o atento observador Russo Passapusso fala de sua relação com o carnaval, com Brasília (que diz ter conhecido por meio das letras do rap ceilandense do Câmbio Negro) e da essência fluida do BaianaSystem. Sobre o novo disco, que ele não garante levar ao palco brasiliense, conta que ;parte de pesquisa de oito meses. Foi um mergulho profundo que fez a gente entender mais do que a música tem para oferecer, de como a gente se torna música.;

; Ponto a ponto / Russo Passapuso

Relação com Brasília

Eu tenho uma identificação grande com o público de Brasília. Aí, tem muitas pessoas que vão atrás da música alternativa, música diferente. Sempre que vamos a Brasília pra tocar, sentimos uma identificação muito grande. Eu lembro da primeira vez que eu fui e entendi mais da complexidade do Brasil. O BaianaSystem trabalha muito com isso. Observando esse tipo de comportamento popular para poder transferir isso pras músicas. Tocar em Brasília, pra gente, é entrar em contato direto com o centro do Brasil.

Eu conheci Brasília por meio das músicas do Câmbio Negro. Eles falam muito sobre um bairro daí (Ceilândia). Ouço o tempo todo. As letras são maravilhosas. Ao mesmo tempo, eles transpassam e colocam a verdade nua crua de uma forma surpreendente. Fazem essa música Esse é meu país, que idealiza o Brasil. Fizeram isso muitos anos atrás, e é fantástico. Fica muito evidente a questão da desigualdade em Brasília ouvindo esse grupo.


Entretenimento

BNegão me falou uma frase do Public Enemy que diz: ;Lute pelo seu direito de festejar, festeje pelo direito de lutar;. O corpo, a dança, a alegria, a condução da euforia, a respiração, o mantra: tudo isso está envolvido num show, numa expressão artística. Vivemos numa época de atentado cultural. Dentro de tudo que envolve essa geração, é interessante que a gente esteja com um pé atrás, nessa relação entretenimento e cultura, e não permitir que o entretenimento engula a cultura. Quando eu levanto meu trabalho só dentro da cultura do entretenimento. Cultura do entretenimento? Olha, que falácia. Dentro do entretenimento (corrige-se), eu acabo impedindo que um grito cultural vá longe.

Relação com carnaval

Minha relação com o carnaval é totalmente direcionada às pessoas. Ao público. Por eu ser do interior, eu não vivia o carnaval. Eu sou mais apegado a entrar na casa das pessoas do que estar na rua fazendo festa. Nâo gostar de carnaval não implica não gostar de festa popular. Eu amo festas populares, como a festa de largo, a 2 de fevereiro. Eu nunca me interessei pela relação de trios, por essa ideia que sempre foi passada de carnaval. Aquele nome ;puxador de trio; nunca me agradou. Toda letra se multiplica nesses ambientes externos, ambientes populares, como no carnaval. Tomo cuidado nessa época do ano para não propagar qualquer coisa. Viver o carnaval e viver no carnaval é um laboratório pra gente.

Repertório fluido

Nosso repertório é mutante. Mudamos no carnaval. Essa mutação vem da matriz de soundsystem. Nela, você entende que uma só música pode tomar várias formas. A gente é filho dessa tradição jamaicana e brasileira. Como a gente toca para a rua, se estiver descendo numa rua mais aberta, o som fica mais expansivo. Se virar e a rua for muito fechada, vai espremer as pessoas, o som vai ter que ser mais tranquilo. Os ritmos vão cadenciando de acordo com os ambientes. Isso é a cultura soundsystem, que não pega a música só como ritmo e tal. Mas das frequências que são colocadas ali dentro daquele ambiente.

Efervescência

Acho que contemplar as questões de minorias é natural dentro do BaianaSystem. Crescemos nesse momento. Por tentar captar muito a essência do público, por se comunicar muito com a gente, acabamos fazendo essa transferência de energia. O público se encaixa com que a gente faz porque as palavras são do próprio público.

Mistura sonora

Não somos só do rap, do rock, do kuduro nem do funk. Somos plurais. Não sou só negro. Sou negro, que nasceu no Brasil, com descendência indígena, que tem o branco e o amarelo no sangue. Essa mistura na nossa música é uma herança do brasileiro. É uma presença da nossa simbiose de raça, de todos os comportamentos, de todos os ancestrais que temos dentro da gente. Darcy Ribeiro fala muito sobre isso. É uma questão de gens mesmo. Nossa música traz um monte de identidade. A gente tenta achar um tipo de comportamento que possa agraciar todo mundo, inclusive a gente.

Serviço

Show do BaianaSystem no Imagina no Carnaval. Setor Bancário Sul (SBS). Sexta, às 21h. Ingressos no terceiro lote: R$ 45. Não recomendado para menores de 18 anos.

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