Diversão e Arte

Filme nacional 'Tito e os pássaros' estreia na quinta-feira na capital

Na trama do longa, uma doença associada ao medo amplifica a reflexão e a imaginação dos pequenos amigos Tito, Sara e Buiu

Ricardo Daehn
postado em 13/02/2019 07:03
Cena de Tito e os pássaros


No aspecto financeiro ; de rede de apoio para produção ;, o comparativo seria desleal: enquanto animações produzidas pela Pixar/Disney gastam entre US$ 100 milhões e US$150 milhões, com apenas R$ 5 milhões, o longa de animação brasileiro Tito e os pássaros (codirigido por Gustavo Steinberg, André Catoto e Gabriel Bitar) chegou perto do corte final para figurar no Oscar, ao lado de outros 19 filmes que não conseguiram a vaga. ;Acho que chegamos longe. Com o filme O menino e o mundo (animação nacional indicada ao Oscar) tivemos a repercussão de ter estado no Festival de Annecy (evento francês, primordial no segmento). A carreira do Tito foi bastante surpreendente, como foi a do longa brasileiro Uma história de amor e fúria (vencedor de Annecy). Tito entrou como uma continuação de sucesso: não éramos mais a exceção, mas a continuidade da tradição recente com repercussão internacional;, comenta o codiretor Gustavo Steinberg.

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Num trabalho bem coletivo, com mais de 120 pessoas integradas ao projeto, nos últimos três anos, diariamente, mais de mil planos de desenhos foram concebidos. ;O cenário veio de pincelada mais soltas incorporadas ao sistema digital, no qual trabalhamos com integração de pintura a óleo. Para uma leitura universal, apostamos em representar relações coladas ao conceito de diversidade; chegamos a mais de 80 festivais de cinema;, assinala Steinberg.

Na trama do longa, uma doença associada ao medo amplifica a reflexão e a imaginação dos pequenos amigos Tito, Sara e Buiu. ;Desde o roteiro, fiquei entusiasmada. Com fábula e aventura, o filme tem coragem de falar da indústria do medo. Às vezes, nem percebemos como as crianças são criadas nesta realidade: o medo é ingrediente que paralisa. Existe uma cultura do medo que serve a muitas pessoas. É importante encorajar as crianças a duvidarem de alguns medos;, comenta a atriz Denise Fraga, que empresta a voz à personagem Rosa, uma mãe. Mateus Solano (leia entrevista) e Otávio Augusto também são nomes de peso na produção.

Assunto de debates constantes, o medo se instalem em muitas situações de Tito e os pássaros. ;Tem uma coisa real acontecendo, muito caracterizada por esta questão de você liberar o porte de armas, como se isso fosse diminuir a violência. Sou da opinião contrária. O filme tem sido feito há oito anos: nos tempos em que estamos, é assustador ver quanto seja político e atual. O medo a serviço de interesses, porém, ocupa o mundo;, avalia a atriz. O ;divertimento assustador; para o público infantil sedento de crescente espanto (apontado em pesquisa atrelada ao projeto do filme), pelo que reforça Denise Fraga, pode criar ambiente de conversas entre pais e filhos sobre adversidades da vida ; ;enfrentadas com persistência;.

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Rara amizade

O The New York Times deu o mérito de Tito e os pássaros ser dos primeiros filmes a estabelecer relação positiva entre humanos e pombos, fundamentais à trama. ;Aplicamos uma simbologia de trazer ao primeiro plano os livres e os rejeitados. Tem uma espécie de oráculo que é a mendiga que convive com os pombos. Eles são observadores privilegiados. Sendo um urbanoide típico, vejo pombos como seres que vivem com a gente, e trazem uma memória coletiva que optamos por esquecer;, observa Gustavo Steinberg.

Tito e os pássaros foi a primeira animação brasileira selecionada para o Festival de Toronto, ao lado de apenas outro título do gênero: Minúsculos 2. Melhor longa infantil, no AnimaMundi, ainda foi finalista ao importante Annie, como animação independente. Nos Estados Unidos, o longa estreou em 25 de janeiro.

O diretor explica que as cores adotadas no filme vieram por influência sugerida por Gabriel Bitar, parceiro na codireção. ;Muitas referências vieram do expressionismo. Nos filiamos bastante à pintura a óleo do George Grosz (morto em 1959). Do cinema, a gente usa bastante a dispersão e as sombras. O vermelho é associado ao medo, por exemplo, quando o cenário está mais distorcido. Tínhamos a preocupação de quanto medo podíamos trazer para dentro do filme;, comenta Steinberg. Denise Fraga enfatiza a singularidade do longa. ;No Brasil, os atores sempre pensam em só dublar, quando se trata de trabalhar em animação. Começamos os ensaios como se fôssemos encenar um filme. Os desenhistas ficavam vendo os ensaios. O resultado é o de que, quando vejo a Rosa desenhada no filme, por ser uma pessoa que gesticula muito, eu me vejo;, sintetiza.






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