Nahima Maciel
postado em 17/02/2019 06:30
Um pequeno erro vira uma catástrofe pessoal quase impossível de corrigir. Quando vai registrar o filho, um homem, que deveria escolher a profissão do garoto no cartório, solta uma palavra errada. O escorregão linguístico desencadeia uma tragédia anunciada cujo curso (ou seu desvio) pontua toda a narrativa de O registro, romance de Bruno Loureiro Mahé selecionado como finalista do 3; Prêmio Kindle de Literatura e disponível apenas na plataforma Kindle.
Mineiro de Belo Horizonte e radicado em Brasília há 13 anos, Loureiro começou a escrever o livro há sete. Demorou um tempo para desenhar o roteiro, que conseguiu finalizar em 2013. De lá pra cá, mergulhou na escrita do que considera uma pequena distopia. ;Ou uma realidade paralela;, explica. ;É como se fosse hoje, mas mudei algumas regras da sociedade.; A mudança nas regras tem a ver com o registro em cartório de seres humanos recém-nascidos, mas o autor tem muito receio dos spoilers e prefere deixar a descoberta para o leitor. A surpresa está entre os elementos que ele acredita serem importantes para a narrativa. A crítica, também.
"Sempre tive vontade de passar uma mensagem e fazer uma crítica a alguns rituais da sociedade que são tão intrínsecos que a gente nem percebe mais;, avisa. ;Então, tratei disso de maneira absurda, surreal.; Em autores como Franz Kafka e George Orwell, ele foi buscar referências para a narrativa. Algumas, inclusive, estão no livro. ;No início, pensei até em fazer um universo controlado, com o Estado e tal. Mas achei melhor ficar apenas em um detalhe;, diz. ;Para mim, o livro é uma mistura de Metamorfose e O processo (de Kafka).;
Inspiração
O absurdo do universo kafkiano e o manejo primoroso da linguagem no autor tcheco sempre fascinaram Loureiro. "Ele descreve de forma tão fidedigna, real, que você até acredita que é real. Acho interessante, quebra paradigmas, é uma maneira diferente de ver a realidade;, acredita. Mas O registro não é, o autor avisa, uma distopia clássica. Não há um cenário apocalíptico nem um grande poder opressor. ;É bem de leve. Tentei imaginar mundos diferentes e usar a escrita para criticar mesmo a nossa sociedade;, garante.
Formado em odontologia, Bruno Loureiro veio para Brasília em 2006, depois de passar em um concurso público. Servidor do Tribunal de Contas da União (TCU), participou de algumas oficinas e chegou a ser finalista em um concurso de contos promovido pela Universidade do Estado de Minas Gerais. ;Escrevia pra mim e sempre tive vontade de ser escritor, mas nunca fiz nada para mostrar às pessoas;, lembra.
O registro foi publicado em KDP, a plataforma de autopublicação da Amazon. Além do romance, estão entre os finalistas do prêmio Dama de paus (Eliana Cardoso), O som no fim do túnel (N. R. Melo), Terra Sem Males: Um romance fantasia (Maria José Silveira) e Três luas de verão e uma figueira encantada (Maria de Regino). O júri responsável pela seleção é formado por editores da Nova Fronteira. No total, 1.300 autores inscreveram 1.500 livros, todos publicados exclusivamente em KDP e escritos em português. O resultado da terceira edição do prêmio será divulgado no próximo dia 26 e o vencedor, além de receber R$ 30 mil, terá o romance publicado pela editora Nova Fronteira.
O registro
De Bruno Loureiro Mahé. KDP, 220 páginas. R$ 9,90