Diversão e Arte

Tim Rescala encanta alunos do Curso de Verão da Escola de Música

Humorista, compositor e produtor Tim Rescala ensinou as propriedades da música no audiovisual para brasilienses

Nahima Maciel
postado em 17/02/2019 07:00 / atualizado em 19/10/2020 17:10
'É a era dos games. Atualmente, por exemplo, existe mais dinheiro circulando nos games do que em Hollywood', Tim Rescala, produtor, compositor e humorista

Em uma sala do bloco B da Escola de Música de Brasília (EMB), o produtor, compositor e humorista Tim Rescala pede para um aluno desligar o ar-condicionado. Os primeiros acordes do poema sinfônico Os pinheiros de Roma, do compositor Ottorino Respighi, soam baixinho e é preciso ouvi-los, prestar atenção. Após uns três minutos da música, Tim suspende o som e pergunta: “Então, o que veio à cabeça de vocês?”. Entre os 30 alunos que enchem a sala, as respostas são mais ou menos a mesma: tensão, conquista, esperança e cenas de combates espaciais. A música clássica, como o professor vai constatar, é realmente muito maleável.

Tim é um dos convidados do 40º Curso Internacional de Verão da EMB (CIVEBRA). Veio para ministrar duas disciplinas: música para audiovisual e música cênica e musicais. Uma das maneiras de estimular os alunos é fazendo o exercício da escuta e da imaginação. Aos 57 anos, com mais de 16 musicais infantis, dezenas de trilhas para novelas e filmes, e a experiência como humorista em programas como Zorra total e Escolinha do Professor Raimundo no currículo, Tim se tornou referência nacional quando se trata de associar música e imagens.
 
Tim Rescala durante a aula para uma sala lotada de 30 alunos no Curso de Verão 

Por conta dessa trajetória, Ely Sobral, estudante de violão erudito da Universidade de Brasília (UnB), decidiu cursar a disciplina oferecida pelo Civebra. Ouvinte do programa Blim-Blem-Blom, no qual Tim fala de música para crianças na Rádio MEC, Ely queria incrementar os conhecimentos na área. “Venho trabalhando bastante com trilha sonora para cinema, séries e documentários”, explica. “É um mercado recluso e vem muita demanda de fora, porque aqui é mais barato. E o Tim é uma referência.”

Trilha para games


Nas aulas, o Capilé da Escolinha do Professor Raimundo quer ensinar sobre os diferentes usos da música nas expressões artísticas. Há diferenças, ele avisa, entre a música de concerto e aquela produzida especialmente para uma peça, um balé, uma novela, um filme ou um documentário. “Música funcional é a música que serve para alguma coisa, não é a música pura, não existe por si só”, explica. “Música para audiovisual é um tipo de música funcional. Ou aplicada. E tem diversas vertentes. A mais festejada é a música para cinema. No entanto, o mercado maior hoje em dia não é para cinema, é para games.”

No Brasil, o mundo dos games ainda não supera o da televisão aberta nem o do da tevê digital, mas está a caminho. “É a era dos games. Atualmente, por exemplo, existe mais dinheiro circulando nos games do que em Hollywood”, avisa Tim. Com o advento da inteligência artificial, esse universo está cada vez mais desenvolvido e ele já começou a se aventurar na produção desse tipo de trilha. “A música é a mesma. Ou seja, é uma música que segue uma linha dramatúrgica, você conta histórias por meio da música. Mas quando você muda a mídia, muda o formato, a forma de fazer.”

O game também conta uma história, e Tim tem observado que a música sinfônica é muito usada como trilha sonora. É uma prova, ele acredita, da atemporalidade e da maleabilidade do gênero. “Acho que é pela natureza da música. Muita coisa vem do cinema americano e o cinema americano ainda tem essa tradição de utilizar orquestra sinfônica, felizmente, embora muita coisa seja virtual hoje em dia”, repara.

De olho nessa universalidade da música sinfônica, Tim criou um site destinado a profissionais do audiovisual com a intenção de facilitar e diversificar o acesso. O www.classicaltracks.com.br começou com 67 músicas no que o compositor chama de “livraria de música clássica”. Com um time integrado por nomes como o do violoncelista David Chew, da pianista Maria Teresa Madeira e pela Orquestra Sinfônica Heliópolis, ele grava os cânones da música erudita que, após licenciamento, são disponibilizados para venda. “A música clássica do século 19 serve para várias situações. Ela é mais maleável historicamente, serve para muita coisa. Uma música clássica você pode usar em uma obra de ficção ou em uma de jornalismo”, aponta. “Ela, na maioria das vezes, não é facilmente localizável em termos de tempo e não fica datada.”

O conteúdo também pode ser acessado em plataformas digitais, como Spotify e Apple Music, embora o ouvinte comum não seja o foco do trabalho. “O mercado (de audiovisual) precisava desse tipo de repertório e, no Brasil, não havia nada similar”, garante Tim. “Hoje, existem várias livrarias, sites na internet que disponibilizam músicas. Na maioria absoluta, é música mecânica, virtual, feita com computador. Até música clássica feita com computador, procurando reproduzir orquestra.” Proprietário de um estúdio, o compositor prefere deixar de lado a produção mecânica. No Classical tracks tem prioridade as gravações com vozes e instrumentos reais.

Tevê e teatro


Enquanto abastece a livraria virtual, Tim também se dedica aos projetos no palco e nas telas. Na televisão, suas últimas contribuições foram para a novela Velho Chico e para a minissérie Dois irmãos, do diretor Luiz Fernando Carvalho, com quem colabora regularmente. No ano passado, ele concebeu a trilha de dois musicais para crianças: Makuru, dirigido por José Mauro Brant, e Thomas e as mil e uma invenções, espetáculo sobre Thomas Edison com direção de Fabianna de Mello e Souza. Agora, ele trabalha na trilha sonora do longa Pluft, adaptação do clássico de Maria Clara Machado para o cinema. Quem assina a direção é Rosane Svartman.

A produção para crianças é algo muito sério para Tim. Ao longo das mais de três décadas de carreira, o nome do compositor apareceu em pelo menos 16 espetáculos destinados ao público infantil. Tim lida com essa audiência com o maior respeito. “É uma coisa importante pra mim, mais importante do que fazer para adultos”, garante. A complexidade dos trabalhos para os pequenos, ele acredita, deve ser a mesma de quando o foco está na plateia de adultos. “Não é só aquele conceito de que é o público do futuro, não. Acho que é o público do presente. A criança é uma audiência mais inteligente. Ela é muito mais capaz de absorver estruturas complexas do que o adulto. E é mais disponível, não tem preconceitos, é mais aberta”, ensina.
 
 
 
 
 




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