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Diversão e Arte

Tribunal de Contas da União recebe exposição de arte de Tomie Ohtake

Mostra 'Instante - cores gravadas de Tomie Ohtake' reúne 55 obras da artista


A gravura sempre foi um suporte constante no universo de Tomie Ohtake. A artista experimentou todas as técnicas ao longo da vida e nunca deixou de lado o diálogo desse tipo de linguagem com a pintura e a escultura. Os curadores Paulo Miyada e Carolina de Angelis queriam montar uma exposição na qual a relação de Tomie com a gravura ficasse em evidência. Para isso, reuniram 55 obras para a mostra Instante ; cores gravadas de Tomie Ohtake, em cartaz a partir de hoje no Centro Cultural TCU.

A gravura foi, desde os anos 1960, um território fundamental para Tomie. Enquanto alguns artistas usavam a técnica pontualmente e para reproduzir ideias pictóricas, ela preferia investir em outro caminho, um percurso no qual havia diálogo permanente com a pintura. Nessa dinâmica, as influências caminhavam em todos os sentidos: a pintura podia influenciar a gravura e vice-versa. ;Por atravessar muitas décadas e muitas técnicas da obra da Tomie, a gente tenta deixar claro o quanto a gravura foi uma atuação importante para ela;, explica Miyada.

A partir do final dos anos 1960, a artista começou a fazer estudos em papel. Rasgava o material e o aglutinava em pequenas colagens que condensavam ideias de cor, forma e composição. Depois, passou a cortar os papéis. Esse estudos podiam resultar em pinturas e em famílias inteiras de gravuras. Os trabalhos nasciam de um gesto praticado em uma fração de segundos. A forma nascia de um ato rápido e depois era elaborada no papel.

;A gravura combina muito bem com esse processo, porque ela pega uma forma feita num instante e transpõe para uma matriz. E aquele gesto feito num instante passa a durar infinitamente, porque a matriz pode ser combinada em várias posições, cores e tratamentos diferentes. Era justamente isso que a Tomie pesquisava na gravura;, conta Miyada.

Referências

Essa ideia de tempo influenciou muito a artista e, segundo o curador, justifica o gosto pela gravura. No entanto, isso não quer dizer que havia homogeneidade na produção. No final dos anos 1960, Tomie usou muito a serigrafia, uma técnica mais concisa na qual sobrepunha de duas a cinco imagens como se fossem campos de cor colados na gravura. Em alguns momentos dessa produção, o gesto fica muito explícito. Nos anos 1970, foi a vez da litografia, com uma pesquisa cromática ampla e a presença de cores como roxo, rosa, marrom e verde. Nessa época, ela também trabalhava em colagens com recortes de revistas.

;É uma fase em que experimenta uma gama muito grande de cores que a gente raramente vê nas artes visuais, mais vibrantes ou mais pastéis, além de texturas enigmáticas. Eu diria que é um momento em que a gravura foi o campo em que a Tomie inventou mais rápido do que estava inventando na pintura;, acredita o curador.

Dos anos 1980 em diante, entra em cena a gravura em metal, ideal para reproduzir a gestualidade. A capacidade de resolução dessa técnica permite, por exemplo, que se veja as cerdas do pincel na reprodução de uma pincelada. E, no caso de Tomie, o gesto e o movimento são elementos cruciais da composição. ;É um momento mais imersivo, menos em campo de cor e mais em atmosfera. São gravuras um pouco maiores, em que há muitos detalhes por imagem. A gente consegue perceber, na exposição, a variedade de resultados que ela conseguia dentro dessa mesma técnica;, avisa Miyada.

Além de exemplares de todas as técnicas utilizadas pela artista, a exposição também reúne alguns dos álbuns produzidos ao longo da vida. Criado em 1997 e fruto de uma parceria com Harold de Campos, Yu-Gen traz 12 poemas assinados pelo poeta e ilustrados por Tomie. São textos inspirados na poesia japonesa e recriados pela artista com sua própria linguagem plástica. ;Yu-Gen se refere a algo especial, sublime e harmonioso e, na filosofia japonesa, é algo que não pode ser tratado como um ideal, porque não é algo que você alcance, é algo que escapa quando você tenta agarrar;, explica o curador. Essa ideia de esbarrar no sublime sem, necessariamente, tentar aprisioná-lo sempre pautou a busca artística de Tomie.



Instante ; Cores gravadas de Tomie Ohtake
Curadoria: Paulo Miyada e Carolina de Angelis. Abertura hoje, às 19h, no Centro Cultural TCU (Instituto Serzedello Corrêa ; SCES Trecho 3, Lote 3). Visitação até 4 de maio, de segunda a sexta, das 9h às 19h



;A gravura tem uma relação entre o instante em que se define a forma e a duração com a qual você reelabora as cores e experimenta composições;.



;Tem uma ideia de tempo na gravura que influenciou muito a Tomie e a fez gostar tanto desse suporte;.
Paulo Miyada, curador



POESIA

genji monogatari

sob a lua
de agosto
do ano 1004
lady murasaki
escreveu aqui
as estórias de genji

você pode vê-la
esplendor de seda
kimono branco
violeta e verde ;
no ato de:

mulher-borboleta
pousada à beira
do seu tinteiro

Haroldo de Campos, no álbum Yu-Gen, ilustrado por Tomie Ohtake