Irlam Rocha Lima
postado em 21/02/2019 06:30
Com quase 50 anos de carreira, o Quinteto Violado teve o trabalho bem avaliado, antes mesmo de o Brasil descobrir artistas nordestinos que sugiram na década de 1970 como os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo, os paraibanos Zé Ramalho e Elba Ramalho, e os cearenses Belchior, Ednardo e Fagner.
O grupo formado em Recife por Toinho Alves, Marcelo Melo, Fernando Filizola, Luciano Pimental e Sando passou a se chamar de ;violados; depois de uma apresentação no teatro de Nova Jerusalém, em outubro de 1971. No ano seguinte, recém-chegado do exílio em Londres, Gilberto Gil foi à capital pernambucana e lá se encantou com a leitura diferenciada de ritmos regionais, com arranjos requintados, que chamou de ;free nordestino;, feita por aquele conjunto.
Gil o apresentou a Roberto Santana, diretor da Philips (atual Universal Music), gravadora pela qual lançaria o disco de estreia, ainda em 1972. Exaltado por Caetano Veloso, o quinteto começou a fazer shows pelo país e até no exterior, tendo participado do Festival de Midem, em Cannes (França) e de um concerto no Olympia, em Parias, ao lado de Vinicius de Moraes e Jorge Ben.
A Brasília o Quinteto Violado viria em 1973, quando fez o show de lançamento do LP Berra Boi, no Teatro da Escola Parque. Um ano depois voltaria com o espetáculo cênico-musical A Feira, que ocupou o palco do ginásio de esportes do Colégio Marista. ;Desde então, temos estado na capital com alguma frequência. Nos últimos anos nossas apresentações foram no Clube do Choro, para onde estamos retornando agora;, ressalta o vocalista e violonista Marcelo Melo.
Cultura nordestina
No show de hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro, Marcelo ; único remanescente da formação original ;, o tecladista Dudu Alves (filho do saudoso Toinho), Sandro Lins (contrabaixo), Ciano Alves (flauta e violão) e Roberto Medeiros (percussão e voz) fazem uma retrospectiva da carreira, mostrando bumba-meu-boi, cavalo marinho, frevo, pastoris e reisados e cancioneiro popular. São gêneros da cultura nordestina presentes em sua obra registrada em 40 discos e quatro DVDs.
;Queremos que o público relembre momentos marcantes da trajetória do Quinteto, com destaque para a série de projetos com os quais homenageamos grandes nomes da música do Nordeste, como Luiz Gonzaga, Geraldo Vandré e Dominguinhos, além de folguedos populares, tão representativos da nossa cultura;, anuncia o vocalista.
Marcelo lembra que Gonzagão foi homenageado pelo projeto Quinteto Violado canta, em CD de 2012. ;Lá no começo, depois de ouvir o Quinteto pela primeira vez, Seu Luiz se entusiasmou e disse: ;A sustança, o tutano do corredor de boi, a vitamina, Padim Ciço, Frei Damião, Ascenso Ferreira, Lampião, Cego Aderaldo, Nelson Ferreira, Zé Dantas, tudo isso é o Quinteto Violado;;.
Em 1972 o grupo e Luiz Gonzaga fizeram uma série de apresentações em São Paulo, na capital e no interior, pelo Circuito Universitário. Eles tinham Gonzaguinha e Dominguinhos como convidados. ;Foi naquele show do circuito que Seu Luiz tomou conhecimento do arranjo que criamos para Asa Branca, que ele considerou o melhor feito para esse clássico. Daquela convivência nasceu uma grande amizade entre nós;, lembra.
De Geraldo Vandré, Marcelo se aproximou antes da criação do Quinteto Violado. ;Fui estudar em Paris e lá conheci o Vandré pessoalmente. Participei da produção do disco Das terras do bem virá, o último gravado por ele. Em 1974, fomos fazer um show em São Paulo e ele foi assistir. No final, foi ao camarim, pegou o violão e nos mostrou uma música inédita, intitulada República brasileira, que o Toinho passou a cantarem em outros shows;, recorda-se.
Mas foi com Dominguinhos que os ;violados; tiveram uma relação de amizade mais forte e longeva. ;Quando saímos em turnê com o espetáculo A Feira, como havia uma parte cênica, o público não assimilou muito. Aí, diminuímos as falas e aumentamos o espaço para música, e o convidamos Dominguinhos para fazer os acréscimos;, revela.
Dominguinhos ,que à época vivia com Anastácia (sua parceira em Só quero um xodó), e morava em São Paulo, se juntou ao Quinteto. ;Havia lugares para onde, por via terrestre, ele, que não viajava de avião, era quem dirigia o ônibus. Sempre que vinha a Recife eu o hospedava. No período da gravação do CD Quinteto Violado canta Dominguinhos, em 2015, já com a saúde debilitada, não pôde participar do projeto, embora tenha manifestado esse desejo;, lamenta o vocalista.
No repertório do show de hoje e amanhã, além de canções de autoria dos homenageados, o Quinteto Violado incluiu músicas inéditas, entre elas Saudade boa, que Marcelo Melo fez em tributo a Toinho Alves. ;Vamos mostrar ainda algumas composições do projeto Café com o Quinteto Violado, que vêm sendo lançadas em plataformas digitais, para depois serem reunidas num disco físico;, antecipa.
Quinteto Violado
Show do grupo pernambucano hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.
Discos do Quinteto
Quinteto Violado
; Disco de estreia lançado em 1972, pela Philips (selo do Phonogram), com 12 faixas, entre elas Roda de ciranda (Marcelo Melo), Freviola e Imagens do Recife (Marcelo Nelo e Toinho Alves) e as regravações de Acauã (luiz Gonzga e Zé Dantas) e Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). A capa trazia a imagem de um cavalo de aço e de um cavaleiro medieval. Obteve enorme repercussão, principalmente pelos arranjos criados do grupo.
Berra Boi
; Este LP, de 1973, fez o Quinteto Violado ser conhecido nacionalmente, pois o levou a fazer shows em várias regiões do país. Trazia Vaquejada, de Marcelo Melo e Toinho Alves; e as releituras de Pipoquinha (Sebastião Biano), Duda no frevo (Senô) e a adaptação de Cavalo Marinho, de domínio público, feita por Luciano Pimentel e Fernandi Filizola. Forró do Dominguinhos (Dominguinhos), com arranjo do grupo, depois recebeu letra de Gilberto Gil e recebeu novo nome de Lamento sertanejo.
A Feira
; Nesse projeto, de 1974, buscou reproduzir a sonoridade das feiras livres do Nordeste. Foram recriadas, a partir de novos arranjos, Disparada (Geraldo Vandré e Théo de Barros), O caminhão do coroné (Manezinho Araújo) e Procissão (Gilberto Gil). Na turnê de lançamento do disco, o Quinteto lançou a cantora Elba Ramalho, que fez a estreia no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro.
A Missa do Vaqueiro
; A trilha sonora de A Missa do Vaqueiro, criada por Janduhy Finizola,que reúne todos os passos da liturgia ; Jesus Sertanejo, Glória, Ofertório, Pai Nosso, Comunhão e Canto de despedida ; tornou-se uma obra clássica da discografia do Quinteto. Relançada em 1991, teve o acréscimo de um poema de Dom Helder Câmara, intitulado Vaqueiro, meu irmão vaqueiro.
Quinteto Violado Canta Gonzagão
; Referência do grupo como compositor, Luiz Gonzaga voltou a ser reverenciado em 2012 com o álbum em que há a recriação das consagradas Asa Branca, Avolta da Asa Branca, Boiadeiro, Qui nem jiló e Respeite Januário; e das menos conhecidas Karolina com K e Samarica Parteira.
Quinteto Violado Canta Dominguinhos
; Amigo fraterno dos integrantes do Quinteto Violado, Dominguinhos foi homenageado pelo grupo em 2015, dois anos depois do falecimento, com esse trabalho que é pura emoção. No CD de 15 faixas, estão os clássicos Eu só quero um xodó, Gostoso demais, Quem me levará sou eu e um pot- pourri com Pedras que cantam e Isso aqui tá bom demais.