Diversão e Arte

Carnaval das minas! Conheça blocos do DF comandados por mulheres

Elas levam para a folia temas como empoderamento, assédio e violência

Nahima Maciel
postado em 23/02/2019 06:30
O Bloco das perseguidas foi criado por Ju Pagul para enfrentar uma agressão
Dos 18 blocos que vão se concentrar na Praça dos Prazeres entre hoje e o dia 6 de março, pelo menos 12 nasceram e estão sob o comando de mulheres. As meninas que fazem o carnaval brasiliense são muitas e têm na ponta da língua uma série de reivindicações. Do combate ao assédio ao discurso contra a violência, elas celebram a diversidade de linguagens e escolhas pessoais.

Patrícia Egito conheceu várias artistas mulheres quando trabalhava na produção cultural do Balaio e, na época, desenvolveu projetos para mostrar essa produção. Em 2014, decidiu, em parceria com a companheira, a VJ Mari Mira, montar o bloco Essa boquinha eu já beijei. No ano passado, 30 mil foliões acompanharam o bloco. Depois de passar por diversos locais do Plano Piloto, dessa vez o Essa boquinha eu já beijei sairá no gramado da Funarte.

Patrícia e Mari também estão à frente do Tuthankasmona, bloco de pré-carnaval criado em 2016 e que, este ano, se junta ao Essa boquinha. ;A gente tinha um coletivo que fazia atividades fora do carnaval e resolvemos criar esse outro bloco para brincar com essa coisa de Egito e Brasília. Acabou se tornando um bloco que foca muito no trabalho das pessoas trans;, avisa Patrícia.

No Essa boquinha eu já beijei, há predominância de mulheres em todas as instâncias. Para animar o carnaval, fazem parte das atrações as percussionistas Larissa Umaytá e Yara Alvarenga, além da vocalista Ju Rodrigues. Apresentações do Culto das Malditas e Rainhas do Babado também estão previstas. ;São artistas muito fortes no mercado musical de Brasília;, avisa Patrícia. ;E nosso trabalho tem foco nisso, no fortalecimento de uma linguagem identitária para as mulheres. Queremos nosso bloco atuando nesse espaço político.;

Respeito e resistência
Kika Ribeiro comanda o bloco Samba da mulher bonita
São quatro as mulheres à frente do Vai com as profanas, que nasceu como uma festa pré-carnaval, em 2016, e se tornou um bloco feminista e LGBT no ano seguinte. ;Nossa campanha é do respeito como palavra de ordem e nosso mote é a resistência, para lembrar que vidas LGBT importam. É uma resistência ao discurso conservador e isso está nas letras, cartazes e mensagens políticas;, avisa Luciana Lobato, uma das criadoras do Vai com as profanas. No bloco, ela explica, todas as escolhas são políticas, por isso a lista de atrações traz apenas mulheres.

A presença feminina também pauta as escolhas de Marina Mara no Rejunta o meu bulcão, que, este ano, sai com a campanha Rejunte na paz e traz slogans como ;Não se é diferente por amar o seu igual;, ;Meu afeto te afeta?; e ;Só toque na crush se der match;. ;Nossa campanha é anti-violência, anti-homofobia e antitransfobia;, avisa Marina que, pela primeira vez desde 2015, quando criou o bloco, terá apoio financeiro de R$ 100 mil graças a um edital do governo do Distrito Federal.

O dinheiro permitirá cachê para as bandas e um palco mais estruturado, montado este ano no Setor Bancário Norte. Para manter a ideia de colocar as mulheres à frente do carnaval, Marina convidou As batucadeiras e a Oyás, grupos femininos de percussão. O palco será dividido com o bloco Divinas tetas e As montadas. As organizadoras do evento também pediram à Secretaria de Segurança Pública que a equipe de segurança e apoio escalada para o dia do evento fosse formada por mulheres.

;Desenvolvemos nossa campanha para fazer frente a essas violências que a gente quer banir do bloco e da sociedade;, diz Marina.

Música eletrônica

O Tetatrônica nasceu da motivação de ver mais mulheres atuarem à frente do carnaval brasiliense. ;Começamos no ano passado porque vimos que faltava um espaço no carnaval para a música eletrônica feita por mulheres. A ideia é trazer mulheres para mostrarem os seus trabalhos;, explica Tainá Moura, que fundou o bloco com três amigas, todas integrantes da cena da música eletrônica na cidade. Criar oportunidades para a produção feminina está entre as preocupações de Tainá.

;Na música eletrônica tem espaço, mas não é suficiente, a gente precisa criar oportunidades sempre;, garante. O bloco trabalha em parceria com o coletivo #bsbsrespeitaasminas e tem na lista de atrações apenas mulheres. Este ano, quem comanda o Tetatrônica são as Djs Gabb Borghetti, Mari Perrelli e Preta.

À frente do As perseguidas, Ju Pagul encontrou no carnaval uma maneira de se refazer das agressões sofridas durante o processo de litígio que levou ao fechamento do Balaio. Depois de se deparar com cartazes nos quais era chamada de macaca, ela montou o bloco As perseguidas, que estreou no carnaval de 2013.

;Foi uma resposta a essa violência, mas veio também da necessidade de ter, no carnaval, o espaço de protagonismo das mulheres;, conta. ;Para mim, tem esse legado significativo de combater a violência através da nossa vida criativa, de reivindicar isso de ser uma mulher capaz de gerir um espaço cultural e de dar estímulo para outras mulheres.; O carnaval, ela garante, se tornou maior que o Balaio.

A bateria do As perseguidas é inteiramente feminina e está sob o comando de Martinha do Coco. Este ano, o bloco será dedicado a Marielle Franco, a vereadora do PSol assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018. Ju é uma das fundadoras da Rede Carnavalesca e lembra que a festa em Brasília sempre teve mulheres no comando. ;Acho que é uma tradição que, por vários fatores, nunca teve uma tomada mesmo da palavra e nossa geração está fazendo isso agora. Na organização, nas escolas, na própria liga e no coletivo de blocos sempre teve mulheres;, diz.

As perseguidas sai na Praça dos Prazeres em 8 de março, dia das mulheres, uma data simbólica. Mas Ju quer mais. Ela tenta que a praça seja também um espaço das comemorações oficiais da Dia da Mulher.

Samba, carimbó e pop

A candanga Kika Ribeiro puxou samba durante três anos no Cruzeiro. Este ano, ela decidiu que era hora de criar o próprio bloco de carnaval e chamou três cantoras, entre elas Emília Monteiro, do Bora coisar, para tocar o Samba da mulher bonita hoje, no centro comercial do Cruzeiro Velho.

;A gente está num momento de empoderamento da mulher negra e eu sou dreadlock. Achei importante deixar só mulher no bloco;, explica. ;Quem costuma comandar rodas de samba e axé são os homens, mas é tempo de mudança. A gente quer mostrar que hoje a mulher está onde ela quer.; Além de samba, o bloco terá axé, marchinhas e muito carimbó na voz de Emília Monteiro.
Rafaella Ferrugem, a DJ Telma, e outras cinco artistas, produtoras e DJs acharam que a cidade estava carente de blocos para o público LBT e criaram o Rebu ; O bloco, que estreia em março. Para arrecadar fundos, já que as meninas não têm apoio financeiro, elas fazem, no domingo, a festa O Grito. A motivação, diz Rafaella Ferrugem, veio do cenário político brasileiro.

;Estamos vivendo uma época de muitos retrocessos em termos de direitos;, avisa Rafaella. ;Nosso bloco está sendo organizado com foco em mulheres lésbicas, bi e transexuais, tanto como uma forma de resistência política quanto de promover um ambiente seguro para esse público se divertir no carnaval.; No repertório do Rebu, entram brasilidades como axé, carimbó e MBP, além de funk feminista e o que Rafaella chama de pop feliz e rock feliz.



Elas fazem a festa

Bloco Samba da Mulher Bonita
Com Kika Ribeiro, Emília Monteiro, Naiara Lira e Carla Meireles
Hoje, a partir das 18h, no Centro Comercial do Cruzeiro Velho

Essa boquinha já beijei e Tuthankasmona
Com DJs Pati Egito, Tamara Maravilha, Medro Pesquita, Culto das Malditas e Rainhas do Babado. Hoje, a partir das 11h, no gramado da Funarte

Bloco das perseguidas
Com Martinha do Coco. Dias 8/03, às 21h, na Praça dos Prazeres

Tetatrônica
Com DJs Gabb Borghetti, Mari Perrelli e Preta. Dia 5/02, às 14h, no Beco da CAL (SCS)


Periga ser
Com DJs Daniverde e El Bruxxo. Dia 5/03, às 10h, na Praça Central CNS, em Taguatinga Norte

Rejunta meu bulcão
Com As batucadeiras e As Oyás. Dia 2/03, às , no Setor Bancário Norte

Rebu ; O bloco
Com DJs Dani Ferreira, Loly, Hanna Amim, D-Day, Amandix e Telma & Selma. Dia 2/03, às 14h, no Estacionamento 4 do Parque da Cidade

Bloco Bora coisar
Com Emília Monteiro e banda. Dia 3/03, às 15h, no Setor Comercial Sul

Meme Uni-vos ; O bloco
Com 2/02, às 15h, na Praça dos Prazeres



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