Diversão e Arte

Grupos percussivos estão cada vez mais presentes no carnaval de Brasília

Além da música, os grupos também realizam trabalhos sociais

Nahima Maciel
postado em 02/03/2019 07:15
As Maluvidas são engajadas na luta contra a violência
Carnaval e percussão andam de mãos dadas desde o início dos tempos e nada mais natural que o aumento do número de grupos percussivos diante do crescimento da folia brasiliense. Heitor Toscanini, integrante dos grupos Calango Careta e Capivareta Repercussiva, explica que esse aumento tem também outra razão de ser. ;É um movimento que tem a ver com a ocupação do espaço público, porque nos locais fechados temos essa restrição da Lei do Silêncio, então a opção acaba sendo sair na rua;, avalia. ;A rua é o espaço que melhor nos acolhe até porque, você imagina, 20 pessoas tocando tambor é muita gente.;
Coletivo formado por mais de 100 pessoas, o Calango Careta surgiu como um bloco de carnaval de rua em 2015 e hoje tem três frentes de atuação. Além da Capivareta, há a Orquestra Camaleônica e a Trupe Quéro-Quéro, um grupo de circo. ;Um dos nossos projetos é democratizar o acesso para pessoas que queiram tocar;, explica Heitor. Este ano, a Capivareta Repercussiva contou com a ajuda de Nãnan Matos, que ensaiou com o grupo e produziu os arranjos para as apresentações durante a folia.
Este ano, eles tocaram no Bloco do Peleja, que saiu no pré-carnaval, e voltam ao palco na próxima terça, em local e horário ainda indefinidos. ;Nós acreditamos que a rua é um espaço livre de manifestação pública, ainda mais no período de carnaval. O governo quer ser dono da festa e decidir onde quando e como as pessoas devem ou podem fazer carnaval. Nós não utilizamos verba pública e não divulgamos antes para podermos sair mais leves;, explica Heitor. Na segunda-feira, os foliões podem consultar as redes-sociais do bloco para descobrir o local de concentração, mas o encerramento, Heitor adianta, será na Praça dos Prazeres.
Para o Folha seca e Comboio percussivo, os tambores são, também, uma questão de educação. Além de existirem como grupos musicais, eles também são projetos sociais. O Comboio percussivo tem como premissa a ideia de que todos podem tocar um instrumento. Nascido em Minas Gerais e trazido para Brasília pelo pedagogo Mario Jorge, conhecido como Mario Comboio, o grupo abriga 70 pessoas. Egresso do projeto Educação pelo tambor, Mario acredita na força inclusiva da percussão. ;Tem um reconhecimento por parte dos jovens de verem ali uma possibilidade que muitas vezes não está no cotidiano ou é desprezada;, diz.
O movimento percussivo em Brasília, ele acredita, é fruto de uma tentativa de ressignificação do espaço público na cidade. Mario lembra que, em 2013, 86 blocos desfilaram no carnaval brasiliense. ;Este ano, foram 238;, repara. ;Além de enriquecer o carnaval, isso incita o fazer artístico nas pessoas, começa a ter espaço e dinheiro também. É uma economia, tudo começa a girar.;
Marcos Valente, do Projeto Folha Seca, tem foco na musicalização e combate ao preconceito
No Projeto Folha seca, o foco é a musicalização e o combate ao preconceito em torno do tambor. Marcos Valente, um dos criadores do grupo, lembra que a percussão muitas vezes é discriminada por causa da associação com as religiões de matriz africana. ;Nosso objetivo é difundir a cultura brasileira porque tem muita gente querendo aprender a tocar tambor;, assegura Marcos.
Percussão feminina
A vontade de formar um grupo próprio e formado por mulheres guiou as meninas das Maluvidas. Algumas, como Ananda Sue, também tocavam no Calango Careta. ;Foi surgindo aquela vontade de ter poder de voz, que não acontece nos grupos mistos;, conta Ananda. As Maluvidas se juntaram em 2016 e começaram a ensaiar no ano seguinte. Hoje o grupo conta com 15 percussionistas. Todas as integrantes são amadoras, mas algumas acabaram por ingressar na Escola de Música de Brasília (EMB) para se aperfeiçoar.
A pauta feminista está presente em boa parte das ações do grupo. Antes das apresentações, elas costumam fazer um discurso, que Ananda chama de ;grito de guerra;, com texto sobre assédio e violência contra as mulheres. ;Fazemos nossos arranjos e ensinamos às mulheres. É a autonomia da mulher na música.; No repertório, entram preferencialmente composições assinadas por mulheres ou que ficaram conhecidas graças às vozes femininas.
As Filhas de Oyá tocam hoje no Bloco Rivotril
Com uma pegada feminista e formado por 15 integrantes, o Maria vai Casoutras nasceu há cinco anos como uma dissidência do Batalá. Um grupo de três pessoas formou o grupo para mostrar que mulheres também podem tocar tambor. ;A ideia é disseminar a alegria e a força das mulheres, a união;, avisa Monalisa Cavalcanti.
O nome do grupo veio de uma reflexão sobre o significado da expressão e da vontade de subverter seu sentido. ;Para nós, não é uma pessoa influenciável, mas mulheres que se unem, têm força e espalham alegria;, garante Monalisa. A atuação vai além das ruas e das apresentações com tambores. No projeto Mais, o Maria vai Casoutras presta assistência a mulheres vítimas de violência. Este ano, as meninas são responsáveis pela abertura do Baby doll de nylon, hoje, às 13h45, mas também tocam na ressaca de carnaval feminista, no dia 8 de março.
Também formado por mulheres, 18 no total, o Filhas de Oyá nasceu de uma junção de integrantes de vários grupos de percussão da cidade. Foi em 2016 e elas se juntaram para fazer uma apresentação no Dia da Mulher. Decidiram, então, seguir juntas. ;O carnaval é o momento em que nosso grito tem força;, acredita Vivian Campelo.
O engajamento político no combate à violência contra a mulher e ao machismo fazem parte do discurso das Filhas de Oyá, assim como a reverência aos instrumentos percussivos. ;O tambor é meu equilíbrio, ele traz a força da minha ancestralidade;, explica Vivian, que sempre participou de grupos de cultura popular, como o Jongo do Cerrado, e de samba de roda.

Capivareta
Repercussiva
Terça, junto com o Calango Careta.

Maluvidas
Dia 8 de março, às 16h, na Esplanada dos ministérios, Marcha das Mulheres

Maria vai Casoutras
Hoje, às 13h45, no Baby doll de nylon. Dia 8 de março, às 3h, na Ressaca Feminista de Carnaval, no Canteiro Central

Filhas de Oyá
Hoje, às 18h, no Bloco
Rivotril, no SBN

Comboio percussivo
Hoje, às 19h, na Praça dos Prazeres, no Meme Uni-vos -
O bloco. Amanhã, às 16h, em Águas Claras, em frente à estação Arniqueiras

Projeto Folha Seca
Hoje, às 16h, na Praça dos Prazeres

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