Diversão e Arte

Espetáculo 'Barca nômade' abre temporada no DF após estreia em Madri

Peça é uma adaptação de trechos do romance 'O jardineiro', de Rabindranaz Tagore, com direção de Irina Kouberskaya

Nahima Maciel
postado em 16/03/2019 07:00
Fernanda Cabral e André Amaro encenam adaptação de texto de TagoreBarca nômade nasceu do encontro romântico entre o ator André Amaro e a atriz e cantora Fernanda Cabral. Intrigada com os sentimentos que levam duas pessoas a ficarem juntas, a dupla começou a pensar em um espetáculo capaz de refletir, de maneira poética, sobre o encontro romântico. Barca nômade, que estreia hoje e tem temporada até abril, é fruto dessa pesquisa. A dupla mergulhou no texto O jardineiro, do indiano Rabindranaz Tagore, para montar a peça sob direção da russa Irina Kouberskaya, dramaturga radicada em Madri (Espanha) e reconhecida por uma direção muito imagética da cena. O projeto foi realizado com recurso de R$ 60 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

Formado por 85 poemas, o livro de Tagore se assemelha a uma coletânea de minicontos sobre o amor. Às vezes, há conexão entre as histórias, mas não é regra. A grande dificuldade, Amaro explica, foi selecionar textos capazes de criar uma espécie de fábula, uma narrativa única para todo o espetáculo, mas Irina preferiu seguir outro caminho. ;Quando chegamos lá, ela disse ;não quero uma história linear, essa é uma história sobre sentimentos humanos, então vou criar paisagens;. Isso me encheu os olhos. São paisagens sucessivas que têm como mote o amor, mas o amor narrado de uma maneira poética, através de imagens;, conta o ator, que encontrou no método da diretora russa ecos de como ele mesmo costuma trabalhar no Teatro Caleidoscópio.

No palco, desfila uma sucessão de paisagens pontuadas por diálogos e imagens destinados a contar a história de amor sob duas perspectivas: a terrena, na visão da mulher, e a espiritual, na visão do homem. ;Ele entende o amor como uma zona verticalizada de contato com o divino. Ele diz, no final, ;meu coração não é meu; é de todos;. Ele entende o amor como uma força ou um processo muito maior do que as relações horizontais entre os homens, é uma força que eleva a comunicação e a relação dos homens para um nível e estatura divinos, sem apegos, sem correntes.;

Fernanda Cabral ressalta a qualidade universal do texto de Tagore e vê nos versos uma fala sobre a impossibilidade do amor. ;Ele estaria num lugar mais espiritual e ela, num espaço mais passional. Essa oposição, às vezes, leva à impossibilidade, não da realização do amor, mas de estarem juntos em um plano. Muitos de nós nos encontramos em situação de não poder viver o amor por uma circunstância de vida onde cada um caminha para um lado. Mas o amor sempre está;, acredita Fernanda, que também é responsável pela trilha sonora do espetáculo.

O contato com Irina também veio de Fernanda, que trabalhou com a diretora em Madri, onde viveu durante 15 anos. A ideia era que Irina viesse ao Brasil para os ensaios, mas a agenda lotada da artista impossibilitou o traslado, então a dupla de atores ensaiou na capital espanhola, onde a russa mantém um teatro. ;Irina tem uma visão da cena parecida com o que desenvolvo no Teatro Caleidoscópio. É uma cena construída, basicamente, por meio de imagens em que o ator participa da cena, dessa construção imagética para permitir ao espectador uma fabulação muito além da visão imediata; explica Amaro. ;É impressionante o nível de inventividade dela. O ator trabalha com imagens muito mais que com subtextos psicológicos para desenvolver sua interpretação.;


BARCA NÔMADE
Adaptação de trechos do romance O jardineiro, de Rabindranaz Tagore. Direção: Irina Kouberskaya. Com André Amaro e Fernanda Cabral. Hoje e amanhã, às 20h, no Teatro Lieta de Ló (Planaltina). Entrada franca. Dias 23, às 20h, e 24, às 19h, no Teatro Paulo Gracindo (Gama). De 29 a 31 de março e de 5 a 7 de abril, às 20h (sextas e sábados), às 19h (domingos), na Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo - 508 Sul. Ingresso: 20,00. Dias 12 e 14 de abril, às 20h (sexta) e às 19h (domingo), no Instituto Cervantes Brasília (707/907 Sul), espetáculo falado em espanhol. Entrada Franca

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