Até o fim de março, o Whitney sedia uma das maiores mostras de sua história recente, retratando Andy Warhol (1928-1987), um dos principais e mais inovadores artistas norte-americanos de todos os tempos. Trata-se da primeira retrospectiva sobre Warhol organizada nos EUA, desde 1989. A exposição conta com mais de 350 obras ; muitas reunidas pela primeira vez. Eclético e, ao mesmo tempo, detentor de estilo reconhecível, coube a Warhol, em uma era pré-culto a celebridades, testar e decifrar a progressiva força de imagens na vida em sociedade.
A exposição deixa evidente que a carreira de Warhol foi marcada por experimentação, desde seus primeiros trabalhos como ilustrador comercial, nos anos 50, até suas icônicas obras nos anos 60, passando pelo trabalho em filmes ;alternativos; e em outros meios ao longo das décadas de 60 e 70 e finalizando com os indefectíveis painéis dos anos 80. A profícua produção do artista foi também assinalada pela colaboração com personalidades de várias áreas: pintores, músicos e cineastas, o que é bem pontuado na mostra. Além de patrocinar e produzir capas para o primeiro album do Velvet Underground, na década de 1960, Warhol também contou com a parceria da banda em seus filmes.
Warhol foi o maior expoente do movimento ;pop art; que se notabilizou por utilizar itens cotidianos e explorar temas como consumo e o papel da mídia e das celebridades na vida contemporânea. Não casualmente, o artista contribuiu para a reflexão sobre o que define arte e utilizou figuras que ficariam icônicas como arte a partir de latas de sopa da marca Campbells, propagandas de refrigerante e imagens de personagens públicos retratados por meio de repetição, distorção, e camuflagem. Dentre as várias personalidades em destaque na mostra, encontram-se pinturas com Elvis Presley, Natalie Wood, Marlon Brando, Marilyn Monroe quem, aliás, seria objeto de inúmeras produções do artista, além do próprio Andy Warhol. A pintura Marilyn Diptych (1962), parte do acervo permanente do Whitney, se baseia em uma promoção em preto-e-branco do filme Niagara (1953), e foi usada como referência para uma série de pinturas sobre Marilyn Monroe que Warhol faria ao longo de sua vida.
A exposição permite ao visitante conhecer mais sobre a irreverência do artista que, em um dado momento de vida, se definiu como uma máquina, dados seus métodos de ;produção em larga escala; que levaram a produções icônicas. Em 1963, Jacqueline Kennedy auspiciou, pela primeira vez, um badalado e inédito empréstimo da Monalisa, de Leonardo da Vinci, pelo Louvre, para dois museus americanos ; a National Gallery of Art, em Washington, e o Metropolitan Museum, em Nova York. Em resposta um tanto irônica, Warhol idealizou a gravura ;Thirty are better than one; (Trinta é melhor que um) justapondo várias reproduções da Monalisa.
Também estão presentes os conhecidos painéis florais, iniciados em 1964 e repetidos de maneira metódica em diferentes tamanhos, cores e combinações, aludindo, não casualmente, às opções em uma sociedade de consumo e suas repercussões no mundo da arte. Exibidos pela primeira vez em Nova York e Paris, a instalação original é renovada no Whitney com painéis dispostos em um ambiente colorido e imersivo.
Ao longo da exposição fica tácita a relevância do trabalho e da persona de Andy Warhol na reflexão, na vida contemporânea, sobre a tênue linha entre o público e o privado, a política e o entretenimento. Não poderia ser mais atual.