Diversão e Arte

A terra média é objeto de exposição em Nova York

Mostra traz histórias de J.R.R. Tolkien, um dos principais autores ficcionais de todos os tempos

Elizeu Chaves Jr - Especial para o Correio
postado em 20/03/2019 17:25

O Morgan Library Museum, inaugurado em 1924 por J.P. Morgan Jr. é um paraíso para bibliófilos. Além de reunir um amplo acervo composto por artefatos históricos, pinturas e manuscritos, o lugar reúne livros raros em um ambiente mais que propício para a leitura e a reflexão. Também famoso por proporcionar exposições sobre referências da literatura mundial, o museu abrigará, até maio de 2019, uma mostra sobre o célebre britânico John Ronald Reuel Tolkien, popularmente conhecido como J.R.R. Tolkien e um dos principais autores ficcionais de todos os tempos. A exposição é organizada pela Biblioteca Bodleian da Universidade de Oxford, em colaboração com o Morgan Library & Museum e com o apoio do Tolkien Trust, mantido pela família do escritor.

Coube a Tolkien, como profundo conhecedor de mitologias nórdicas, germânicas e poemas antigos, e com a ambição de estabelecer uma mitologia contemporânea para a Inglaterra, criar não apenas algumas das estórias mais formidáveis do século XX, mas um mundo original e complexo no qual historias pudessem ser contadas. A ;Terra Média;, de tão detalhada e complexa, impactou a cultura em várias frentes, não apenas a literatura, mas também teatro, música e cinema e, até mesmo, a contra-cultura da década de 1960.

J.R.R. Tolkien é um dos principais autores ficcionais de todos os tempos

Ao longo dos anos, a extensa obra de Tolkien seria amplamente copiada e também traduzida em várias mídias, incluindo um desenho animado do diretor americano Ralph Bakshi com inspirações psicodélicas de 1978 e, anos mais tarde, na trilogia de O Senhor dos Anéis para o cinema do diretor Peter Jackson, notável empreitada de adaptação considerada impossível de se transpor para a tela grande. Ainda que com algumas soluções narrativas controversas, os filmes apresentaram de maneira grandiosa a ;Terra Média; para um jovem público que havia recém descoberto o prazer da leitura por meio de Harry Potter da também britânica J.K. Rowling. E é essa mesma geração que hoje aguarda ansiosa pelo desfecho de Game of Thrones, de George R.R. Martin, cuja versão televisiva, produzida pela HBO, sera concluída a partir de abril.

A exposição sobre Tolkien tem, portanto, a difícil missão de apresentar tanto a trajetória do autor e elementos de sua biografia, incluindo como combatente na 1; Guerra Mundial, quanto objetos raros e icônicos do universo criado por ele. Extraída de diversas coleções, como o Arquivo Tolkien da Biblioteca Bodleian da Universidade de Oxford e acervos privados, trata-se da exibição pública mais extensa de material original de Tolkien em muito tempo. Dentre as peças presentes, destacam-se fotografias, recordações familiares, ilustrações originais, rascunhos e pinturas baseadas nos livros do escritor. Merece destaque o fato de que várias gravuras presentes na exposição foram feitas pelo próprio Tolkien, evidenciando suas múltiplas habilidades e uma visão minuciosa de sua criação. Alguns itens chamam atenção como a pintura em aquarela da vila Hobbit (1937) e o primeiro mapa de O Senhor dos Anéis (1937;1949) com uso de tinta e lápis de cor.

Além de itens relacionados à obra mais emblemática de Tolkien - O Senhor dos Anéis, encontram-se também na exposição gravuras e edições raras de O Hobbit, prólogo algo involuntário da trilogia da Terra Média, e matérias sobre O Silmarillion, editado e publicado postumamente por Cristopher Tolkien, filho do escritor, que traz a gênese e os primórdios da Terra Média, evidenciando o calibre mitológico da obra de Tolkien.

Percorrendo a exposição, que prima não pela quantidade, mas pelo detalhe é possível que ;iniciados e não-iniciados; constatem que a grande paixão e vocação do autor ; o estudo linguístico sempre esteve no cerne de sua motivação para criar. Na verdade, uma das motivações de Tolkien, professor de Oxford e erudito pesquisador de idiomas antigos consistiu no desenvolvimento de um mundo com vários povos ; anões, hobbits, elfos e humanos, no qual ele pôde dar ;vida própria; aos idiomas que concebeu.

A exposição coincide com o lançamento, ainda no primeiro semestre de 2019, de um filme estrelado por Nicholas Hoult baseado na vida de Tolkien e com o anúncio da produção de uma série, com investimento de mais de um bilhão de dólares pela Amazon, focando na segunda era da Terra Média (antes dos eventos contados no Hobbit e na trilogia literária o Senhor dos Anéis). O mérito da mostra está em assinalar a relevância do trabalho do autor e também permitir ao público conhecer mais sobre o indivíduo ;comum; por trás da reverenciada fantasia que criou.





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