Nahima Maciel
postado em 27/03/2019 07:00
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Eszter esperou por Lajoe por 20 anos. Durante esse tempo, ela bordou. Quando Lajoe retorna, fica difícil não embarcar em um julgamento. Mas é exatamente isso que o texto do húngaro Sándor Márai procura evitar. Ou discutir. O legado de Eszter é sobre a volta e foi exatamente isso que encantou a diretora Claudine Dutra e o ator Chico Sant;Anna. Eles levam para o palco, de hoje a domingo, a adaptação do romance de Márai publicado, originalmente, em 2001.
Se o livro tem mais de 10 personagens, que se reúnem durante um encontro de família, a adaptação de Claudine, que comprou os direitos do livro, conta com três figuras. Além de Eszter e Lajoe, há também Nunu, um misto de amiga e governanta, parente sempre presente e ouvido atento. ;O que acho muito bonito nesse livro é que ele é, essencialmente, uma história de amor e de espera;, explica Claudine. ;O Márai sempre escreve livros onde, normalmente, as pessoas ficaram sem se ver por muitos anos. Elas se encontram e daí surge uma resolução. O livro estava um pouco preparado para o teatro porque ele tem um tempo cênico, ele se passa em 24h.;
Chico Santa;Anna já conhecia o livro quando Claudine o convidou para viver Lajoe. Ele já havia lido As brasas, do mesmo autor, quando ganhou O legado de Eszter das mãos da atriz Bidô Galvão. ;Me apaixonei;, conta o ator, que esteve em cartaz no último fim de semana com Saiba o seu lugar, monólogo de Santiago Serrano escrito especialmente para comemorar os 40 anos de carreira de Chico. ;O Márai tem essa facilidade de falar sobre a volta. Todos os personagens dele estão voltando, e o mote dos livros é a ausência e o retorno para o lugar de origem;, avisa o ator.
Para Chico, há algo de muito contemporâneo na maneira como Márai propõe refletir sobre a condição humana. A peça fala de intolerância, do exercício da dúvida e da necessidade de compreensão do outro. Eszter esperou por Lajoe durante duas décadas, mas o homem que retorna carrega também a pecha de ser um farsante, um falsificador indigno de confiança. No entanto, Márai ensina, há perigo em sucumbir a apreciações superficiais.
Antes de julgar, o autor sugere um exercício de compreensão mais profundo. ;Nada mais contemporâneo do que esse exercício de tentar entender o próximo;, repara Chico. ;É extremamente atual e importante falar disso. Principalmente nesses tempos que estamos vivendo, tempos políticos de intolerância, de compreensão e cuidado com o outro.; Para o ator, o teatro tem um poder modificador e é capaz de fazer a sociedade refletir sobre si mesma. ;É um dos grandes instrumentos que a gente tem na vida. E ele muda as pessoas;, acredita.
No palco, ao lado de Chico estão Ana Flávia Garcia, que vive Nunu, e Nara Faria, como Eszter. Para os cenários, Chico Sassi optou por um elemento comum à trajetória de Eszter: a cena é pontuada por bastidores de bordado. ;Cenário tem um pé na realidade, mas também no onírico;, avisa Claudine.
O legado de Eszter
Direção: Claudine Dutra. Com Chico Sant;Anna, Nara Faria e Ana Flávia Garcia. De hoje a sábado, às 20h, e domingo, às 19h30, no Teatro Eva Herz, no Shopping Iguatemi (SHIN CA 4). Ingressos: R$ 50,00 e 25,00 (meia). Classificação indicativa: 14 anos