Devana Babu*
postado em 10/04/2019 07:20
Quem colar, nesta sexta-feira, no Seminário Ceilândia Nacional de Literatura Periférica terá a oportunidade de apreciar performances inéditas da rapper Rebeca Realleza. Ao lado dos conterrâneos Eduardo Taddeo (ex-Facção Central), Renan Inquérito, Patrícia Sander e Ravier Hernandez, a ceilandense comporá a mesa de palestrantes que lembrará aos presentes que a palavra ;rap; significa ritmo e poesia. Vai ter também o ritmo e a poesia da Família PR15, lançamento do clipe dos Sobreviventes de Rua, discotecagem dos DJs Black e Nem e, para completar a constelação, o Japão do Viela 17 será o mestre de cerimônia.
Realleza lerá ;poesias pretas;, ou seja, poemas feitos por autoras como Prethaís, Mei Mei Bastos e outras surpresas que está preparando. Tudo made in perifa, e nada mais perifa do que ela mesma, que iluminará o público com suas letras, poemas e ainda revelará para os ouvintes os meandros do seu processo criativo e sobre a sua vivência. Vida e obra se permeiam sempre dentro do movimento hip-hop. Reallezza começou a escrever desde pequena, como forma de expressar suas reflexões e vivências cotidianas.
A maior influência foi a mãe, empregada doméstica que a criou sozinha até os oito anos de idade e depois se tornou professora de história. O que nunca mudou é que ela sempre amou os livros e incutiu essa devoção na pequena Realleza. A poesia veio antes do ritmo para ela, que dividirá poemas e letras inéditas com o público, criadas a partir de fragmentos.
O Seminário faz parte do projeto Elemento 5 ; hip-hop visto por dentro, que realizou diversas oficinas em escolas de Ceilândia em 2018 e oferece cursos de formação ligados ao hip-hop na sede da associação Vila dos Sonhos, realizadora do projeto. No dia 23 haverá também o Sarau Nacional, com muito hip-hop para recepcionar os novos alunos. O nome Elemento 5 vem da postura do coletivo diante dos famosos ;elementos do hip-hop;. Classicamente, considera-se que o hip-hop tem quatro elementos: rap, DJ, grafite e break. Algumas correntes defendem vertentes como o skate e o beat box como um quinto elemento, mas para a Vila dos Sonhos, esse elemento é o basquete, também conhecido como street ball.
Não é para menos. O DJ Dione Black, fundador e presidente da associação, viveu uma guinada em sua vida graças ao esporte. Em 2005, aos 21 anos, Black vivia de bicos, quando apareceu a oportunidade de trabalhar como instrutor de basquete no programa Segundo Tempo. O problema é que ele não sabia nada sobre o jogo. ;Eu queria mesmo era trabalhar. Com isso, fui obrigado a aprender na perspectiva de quem aprende para ensinar;. Hoje, na Vila dos Sonhos, ele aprende a ensinar como manusear pickups e outros elementos do hip-hop, universo que frequenta desde os 10 anos.
* Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Seminário Ceilândia Nacional de Literatura Periférica
Sexta feira, a partir das 17h, no teatro Sesc Ceilândia. A entrada é franca.
Duas perguntas / Rebeca Realleza
Fora as letras de rap, você escreve poemas?
Escrevo, mas sempre coloco a melodia depois. Algumas são reflexões, outras já nascem com a batida que vem com uma inspiração. Mas rap é isso: ritmo e poesia.
Como foi seu primeiro contato com a literatura?
Eu escrevo desde nova, antes mesmo do rap. Sempre escrevi aquela ;poesiazinha; de criança. Sempre gostei de ler. Minha mãe era doméstica, mas sempre me incentivou a ler. Eu também tinha um relacionamento muito próximo com os professores de literatura, que me davam livros de presente.