Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Cine Brasília apresenta mostra que celebra 59 anos da capital

Mostra Brasília traz documentários e ficção sobre a construção, as riquezas e as mazelas da capital federal


Dia 21 de abril é uma data importantíssima ao redor do globo. Afinal, foi neste mesmo dia, em 1792, que Tiradentes, um dos nossos hérois nacionais, morreu. É, também, aniversário da capital italiana, Roma, que supõe-se, graças aos cálculos de Marco Terêncio Varrão, que tenha sido fundada neste mesmo dia, em 753 a.C. No entanto, para nós da capital federal, esta data tem outro significado. É aniversário de Brasília, cidade tombada patrimônio, legado de Juscelino Kubitschek e fruto da genialidade de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Para comemorar a data, nada melhor que vê-la sendo erguida pelas mãos dos candangos sob o olhar de câmeras e grandes diretores. Com esse intuito, o Cine Brasília, que caminha e se desenvolve com a capital desde o nascimento, apresenta a Mostra Brasília, uma reunião de filmes sobre a da construção da cidade. A ideia é , contar as histórias, mostrar as riquezas e mazelas e falar das particularidades da capital ao longo de seus 59 anos de existência.
O cineasta Renato Barbieri terá dois filmes na mostra: A invenção de Brasília (2001) e As idades de Brasília. Este último foi produzido em 2010 para o aniversário de 50 da cidade. Barbieri é paulista de Araraquara, mas se encantou com Brasília e veio morar na capital em 1996. ;Na época eu queria sair de São Paulo, era uma cidade muito suja, com uma poluição visual muito grande. Visitei várias capitais e fui olhando a atmosfera, e com Brasília rolou um lance de paixão;, lembra o cineasta. ;Brasília é uma cidade que nasceu sendo filmada, é muito ligada ao cinema. O Cine Brasília é um templo, ainda mais por conta do emblemático festival;.

;Acho muito legal essa oportunidade. As pessoas vão conhecer as diferentes abordagens cinematográficas da cidade feitas pelo cinema candango. Brasília tem um cinema pujante;, disse Barbieri. ;Não me arrependo de ter vindo para cá, gosto muito de morar e trabalhar aqui. É a minha cidade no Brasil;, finaliza.

Ao todo serão 14 filmes, principalmente do gênero documentário, mas claro que há espaço para a ficção e para a junção de ambas as narrativas. A mostra tem início nesta quarta-feira (17/4) e perdura até a celebração do aniversário, no dia 21 de abril. Serão exibidos filmes como Vidas vazias e as horas mortas, de Pedro Lacerda, A cidade é uma só?, de Adirley Queirós, Brasília, contradições de uma cidade nova, de Joaquim Pedro de Andrade, entre outros.
*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

Confira abaixo a programação completa, além das sinopses dos filmes da mostra:


Quarta-feira - 17/4
16h ; Nove, uma rua em Brasília / A invenção de Brasília
18h ; Brasília, a última utopia
20h ; Vidas vazias e as horas mortas

Quinta-feira - 18/4
16h ; Entre eixo e ilhas / A cidade é uma só?
18h ; Brasília, contradições de uma cidade nova / Mário Fontenelle, a oração silenciosa
20h ; Brasília, a última utopia

Sexta-feira - 19/4
16h ; Nove, uma rua em Brasília / A cidade é uma só?
18h ; O último raio de sol / A invenção de Brasília
20h ; O outro lado do paraíso

Sábado - 20/4
16h ; Brasília, contradições de uma cidade nova / Vidas vazias e as horas mortas
18h ; Brasília, a última utopia
20h ; Poeira e batom no Planalto Central - 50 mulheres na construção de Brasília

Domingo - 21/4
16h ; O último raio de sol / Pra ficar de boa
18h ; Braxília / Brasília, a última utopia
20h ; As idades de Brasília / A cidade é uma só?

A invenção de Brasília
De Renato Barbieri (documentário, 55 min, 2001, Brasil)
Retrata a capital modernista desde a formação geológica do Planalto Central até os dias de hoje, passando pela saga de sua construção. Brasília é fruto de uma geração genial que desejou recriar o Brasil, então ainda arcaico, escravagista e colonial, em um Brasil moderno, autêntico e utópico.

Vidas vazias e as horas mortas
De Pedro Lacerda (drama policial, 87 min, 2013, Brasil)
No leito de morte, um pai pede ao filho mais novo que vá atrás dos irmãos que partiram do Ceará para trabalhar na construção de Brasília, e assim reúna a família de novo. Mas ele nem imagina que, para atender ao pedido do pai, vai ter que sobreviver num mundo muito diferente do seu, habitado por policiais corruptos, traficantes de armas e assassinos.

Brasília, contradições de uma cidade nova
De Joaquim Pedro de Andrade (documentário, 23 min, 1967, Brasil)
Imagens de Brasília em seu sexto ano e entrevistas com diferentes categorias de habitantes da capital. Uma pergunta estrutura o documentário: uma cidade inteiramente planejada, criada em nome do desenvolvimento nacional e da democratização da sociedade, poderia reproduzir as desigualdades e a opressão existentes em outras regiões do país?

Brasília, a última utopia
De Geraldo Moraes, Moacir de Oliveira, Pedro Anisio, Pedro Jorge de Castro, Roberto Pires e Vladimir Carvalho (documentário, 105 min, 1989, Brasil)
Em seis episódios, cada diretor aborda aspectos variados da capital federal. A paisagem natural, de Vladimir Carvalho, descortina o cerrado, o exuberante sistema natural que hospeda a cidade e que lhe proporciona mais qualidade de vida. Pedro Jorge de Castro assina O sinal da cruz, recontando de forma alegórica a história do Brasil, da colonização à construção da capital. A volta de Chico Candango, de Roberto Pires, tem foco em operário que trabalhou na construção de Brasília e retorna à cidade, redescobrindo-a. Em Além do cinema do além, Pedro Anísio, tira Spirit, personagem de Will Eisner, dos quadrinhos para investigar o misticismo de Brasília. Suíte Brasília, de Moacir de Oliveira, é um passeio pela arquitetura monumental de Brasília ao som da música homônima de Renato Vasconcelos, que se tornou uma espécie de sinfonia da cidade. Por fim, em A capital dos brasis, Geraldo Moraes documenta a diversidade da capital a partir dos pontos de encontro da cidade, revelando a criação de um sotaque próprio, nascido da mistura dos diversos Brasil.

A cidade é uma só?
De Adirley Queirós (documentário, 80 min, 2012, Brasil)
O filme reflete sobre o processo de exclusão territorial e social entre a capital e seu entorno. Alguns personagens desse longa presenciaram a criação de Ceilândia, outros, vivem o cotidiano da cidade. Um deles, Dildo, é um irreverente candidato a deputado distrital que pretende levar as incongruências da Ceilândia para a assembleia legislativa.

O outro lado do paraíso
De André Ristum (drama/ficção histórica, 100 min, 2014, Brasil)
Antônio (Eduardo Moscovis) faz o que pode para conseguir dinheiro para o sustento do lar. Já tentou garimpo, bicos diversos e agora pensa ter encontrado finalmente seu lugar: Brasília. Atraído pelas promessas do presidente João Goulart e pela ampla oferta de emprego, ele se muda para a capital com a esposa e os filhos. O sonho da prosperidade, no entanto, é interrompido pelo golpe militar e Antônio, envolvido com o sindicalismo, começa a viver um pesadelo.

As idades de Brasília
De Renato Barbieri (documentário, 31 min, 2011, Brasil)
O documentário convida a olharmos Brasília como um legado: a natureza generosa do Cerrado e a geografia privilegiada do Planalto Central, que atraíram para a região do Distrito Federal o homem pré-histórico e povos indígenas há onze mil anos; os ideias de interiorização da capital; a geração liderada por JK, que comandou a épica construção, demarcatória do novo Brasil de velhas contradições. Traz depoimentos de personagens fundamentais para a história da cidade, como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Ernesto Silva, TT Catalão, Rui Faquini, José Carlos Coutinho, Paulo Bertran, Cláudio Fonteles, Glenio Bianchetti, José Geraldo de Souza Junior, Sepúlveda Pertence, Vera Brant e Vladimir Carvalho.
Poeira e batom no Planalto Central - 50 mulheres na construção de Brasília
De Tânia Fontenele Mourão e Tânia Quaresma (documentário, 58 min, 2011, Brasil)
Filme documentário com 50 mulheres que participaram da construção de Brasília. O documentário Poeira & Batom apresenta a saga da construção de Brasília contada por 50 mulheres que chegaram entre 1956 e 1960. Uma nova e feminina forma de recuperar a história dos primórdios de Brasília. Tempos de poeira e entusiasmo para contribuir para o sonho de JK, Niemeyer e Lucio Costa.

Pra ficar de boa
De Núbia Santana (documentário, 75 min, 2008, Brasil)
Um perturbador retrato de crianças e adolescentes marginalizados pelo desafeto, descaso e exclusão. O filme aborda a falta de estrutura familiar, a influência das drogas e mostra as guerras entre gangues. A contradição entre a banalização dos crimes cometidos e a capacidade humana que permanece, de sonhar com um futuro melhor, confunde e emociona o espectador.

Mário Fontenelle, a oração silenciosa
De Pedro Jorge de Castro (documentário, 25 min, Brasil)
Fontenelle mostra ao mundo as primeiras imagens da capital brasileira que nasce das mãos dos candangos na terra vermelha do cerrado: o sinal da cruz, a primeira missa em terras de Brasília, os índios, os paus-de-arara, as autoridades, as igrejas e os palácios.

Entre eixos e ilhas
De Neto Borges (documentário, 30 min, Brasil)
O filme mergulha no universo poético de Brasília, reunindo notáveis poetas da literatura e da música. Sustenta que Brasília nasceu sob o signo da poesia.

Nove, uma rua em Brasília
De César Henrique Arrais, Michel de Oliveira Gomes, Otto Guimarães (documentário, 26 min, Brasil)
O filme narra a história da superquadra 109 sul, uma das quadras mais famosas de Brasília. Conta a história de bares e seus frequentadores.

O último raio de sol
De Bruno Torres (documentário, 18 min, 2004, Brasil)
O último raio de sol é uma livre adaptação de uma história verídica e conta a história de dois jovens da alta classe brasiliense e que numa viagem a Chapada dos Veadeiros se divertem ameaçando e desmoralizando pessoas de classe social inferior.

Braxília
De Danyella Proença (documentário/ 18 min/2010/Brasil)
Brasília é um documentário sobre o poeta brasileiro Nicolas Behr e seu olhar sobre a cidade. Num livre ensaio em parceria com Behr, o filme mostra como a capital modernista inspirou a criação de Braxília, cidade inventada pelo poeta.