Agência Estado
postado em 24/04/2019 15:18
Shirley MacLaine recebeu duas vezes o Globo de Ouro como melhor atriz de drama, e duas o de melhor atriz de comédia ou musical. Recebeu duas vezes a Taça Volpi de melhor atriz em Veneza, duas vezes o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim e um Urso de Ouro honorário por sua carreira. Ganhou duas vezes o Bafta, uma vez o Oscar e um Oscar honorário, na verdade, o Memorial Cecil B. De Mille. São prêmios que dão para encher uma estante inteira, mas entre eles faltou um que ela achou muito divertido quando foi indicada, a Framboesa de Ouro de pior atriz por Um Rally Muito Louco. em 1985.
Pior atriz? Não nos filmes que você poderá (re)ver nesta quarta, 24, no Telecine Cult, que comemora os 85 anos de Shirley apresentando Irma la Douce, às 19h25; Charity, Meu Amor, às 22 h; e Dois na Gangorra, à 0h40. Seus parceiros e diretores nesses filmes foram-se todos - Billy Wilder, Bob Fosse, Robert Wise, Jack Lemmon, Robert Mitchum, Sammy Davis Jr., etc. Bye-bye. Só Shirley permanece, como impávido colosso.
Ela nasceu Shirley McLean Beatty em Richmond, Virginia, em 24 de abril de 1934. Preferiu trocar de nome, e adotar um pseudônimo. Seu irmão caçula, de 82 anos, virou astro somente suprimindo o primeiro nome - (Henry) Warren Beatty. Shirley sempre quis ser atriz. Estudou balé na infância e adolescência e muito jovem foi para Nova York, tentar a carreira na Broadway. Conseguiu pequenos papéis e um caçador de talentos recomendou-a à Paramount. Em 1955, já era atriz de Alfred Hitchcock, em The Trouble With Harry, que no Brasil se chamou O Terceiro Tiro.
Logo em seguida estava fazendo Artistas e Modelos, uma comédia com Jerry Lewis e Dean Martin; A Volta ao Mundo em 80 Dias, que recebeu o Oscar; o western Irresistível Forasteiro, com Glenn Ford; e a obra-prima Deus Sabe Quanto Amei, de Vincente Minnelli, com Frank Sinatra, que a adotou e incluiu em seu círculo de amigos. Com eles fez Onze Homens e Um Segredo, de Lewis Milestone, que a crítica meio que desprezou na época mas virou cult - e originou a série de Steven Soderbergh com os amigos George Clooney e Matt Danmon. Em 1960, teve seu primeiro encontro com Billy Wilder, e Se Meu Apartamento Falasse ganhou os Oscar de melhor filme, direção e roteiro original. Três anos mais tarde, Irma la Douce repetiu o trio - Wilder/Shirley/Jack Lemmon. Não fez tanto sucesso de crítica - Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, define o filme como 'execrável' -, mas estabeleceu em definitivo Shirley e Jack como dupla 'wilderiana'. Não faltaram grandes filmes - Charity, Meu Amor, de Bob Fosse, a versão musical (via Broadway) de um clássico de Federico Fellini, As Noites de Cabíria; e Muito Além do Jardim, de Hal Ashby, quando contracenou com Peter Sellers. Sucessos de público contam-se aos montes - O Rolls-Royce Amarelo, Os Abutres Têm Fome, o western de Don Siegel com Clint Eastwood e elas, Madame Souzatska, Flores de Aço, etc.
Em 1983 recebeu o Oscar, por Laços de Ternura, comédia dramática de James L. Brooks que recebeu mais quatro prêmios da Academia, incluindo filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Jack Nicholson). Nesse filme ela faz uma mãe sofredora que assiste à degradação física da filha, que morre de câncer. Conta a lenda que Shirley e Debra Winger, a filha, brigavam o tempo todo no set. Shirley não perdoou - mostrava a estatueta e soprava para Debra, 'Eu ganhei!' Shirley também é escritora. Escreveu autobiografias, no plural, nas quais expressa sua crença na reencarnação. Também acredita em óvnis. Por causa disso, ganhou a fama de velha excêntrica. Pode até ser que seja - de perto ninguém é normal, nem perfeito, como dizia Billy Wilder -, mas sua capacidade de provocar humor e drama é única. Na mesma cena, Shirley consegue fazer rir e chorar. É uma grande e maravilhosa atriz.