Diversão e Arte

Crescimento e expansão, na trajetória da banda 2Dub

Na estrada da banda 2Dub cabe a trajetória daqueles que apostam no próprio talento

Devana Babu*
postado em 30/04/2019 07:12
Integrantes do grupo 2Dub: formação cresceu e se expandiu para a categoria de banda
Era uma segunda-feira qualquer de 2006 quando os caras do Israel Vibration, lendários pioneiros do reggae jamaicano apareceram no estúdio Orbis, com as muletas embaixo do braço, Jah na cabeça e o reggae no coração. O músico e produtor Riti Santiago, surpreso, teve a
;oportunidade e a felicidade; de gravar dois sons com os músicos, que estavam de passagem para um show na cidade. ;De repente, apareceram os malucos lá no estúdio e eu estava sendo técnico de uma banda milenar;, lembra ele, que, entre outros projetos, já foi baterista das bandas Câmbio Negro, Soatá (com Ellen Oléria) e tem uma banda de death metal chamada Flesh Temptation.
Riti sempre ouviu de tudo, e o reggae sempre esteve no topo da playlist. Mas, depois da experiência com os jamaicanos, ficou obcecado em fazer um projeto de dub. Assim, em 2007, chamou o amigo Bruno Xavier, baixista, para formar o duo batizado de 2DUB. Com essa formação, começaram a produzir algumas bases autorais e chegaram a tocar no Goiânia Noise e abrir um show pro B Negão. ;Era muito tosco;, recorda Riti, ;porque era só um computador com a base soltada de um pendrive;. Na época, ressalta o músico, o acesso a equipamentos era muito mais difícil. ;Tive uma coisa há 11 anos e só consegui fazer 10 anos depois;, considera.
O produtor conta que, na época, para fazer o que eles queriam ao vivo seria necessário um aparato caro e gigantesco. ;Hoje, eu uso duas controladoras, um Ipad e uma placa de áudio;, descreve. Os tempos mudaram e a banda também aumentou. Em 2008, entrou o guitarrista Samuel Mota, que também assume os teclados. Em 2013, o vocalista Jacob Bruno, que havia feito uma participação especial no primeiro trabalho do grupo, tornou-se membro fixo. Em 2017, entra o baterista Marcelo Pahl, e os dois se tornaram muitos: ;Embora tenha começado como um duo, eu sempre vislumbrei como banda. O ;2; do nome, em inglês, se lê ;two; (dois), mas também pode se ler ;too; (muito);.
É muito dub: voz, baixo, guitarra e bateria. Mas e o Riti, o que é que ele faz na banda? Ele explica: ;As pessoas confundem, mas meu trabalho na banda não é ser DJ: é levar um estúdio para o palco. A nomenclatura que inventaram para o que eu faço é justamente ;dub;. Então, o que eu faço é dub. Dentro do meu sistema está chegando a batera, os vocais e, ao vivo, eu vou manipulando isso, inserindo delay, reverb, efeitos sonoros, cortando ou adicionando canais;, descreve. Na prática, é como se ele fosse ao mesmo tempo o produtor, o técnico de som e o maestro.
;Às vezes, olho pro batera e fecho a mão, para ele parar ali. Não tem ensaio pra isso, é questão do entrosamento;. Quando não é possível levar a banda inteira numa apresentação, Riti e o vocalista tocam sozinhos no formato soundsystem. ;Eu aperto um botão e muto um determinado canal ou acrescento outro, acrescento sons, etc; explica. E isso é o dub, que surgiu nos anos 60, na jamaica, com remixes de músicas de reggae, que valorizavam baixo e bateria, suprimiam parte do vocal e acrescentavam sons como o de sirene. Tornou-se uma espécie de exercício criativo de produtores musicais, que retiravam e acrescentavam faixas e sons ao vivo, criando uma música atmosférica, improvisada e viajante no ritmo do reggae. Hoje, é considerado um estilo. ;Dub é improviso, atmosfera;, diz Riti.
Em 2013, com recursos do FAC, saiu o DVD Dub Central, em que compositores brasilienses como Digão, Japão, Natinho, Ellen Oléria e Frango Kaos cantaram versões dub das próprias músicas. Em 2014, Riti pensou com seus botões: ;Se conseguimos gravar Roubaram meu rim (Galinha Preta), porque não conseguiríamos gravar Paranoid (Black Sabbath), Miss you (Rolling Stones), e In Bloom (Nirvana)?;

Assim, surgiu a coletânea Rockadub, independente, que terá continuação. Em 2017, lançaram um projeto ainda mais ousado: reuniram nove instrumentistas brasilienses para produzir o Dub Central 2, com versões de clássicos da MPB. Dub indubitavelmente brasiliense.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco.

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