Diversão e Arte

Aruc e Portela reafirmam laços de amizade em show na agremiação brasiliense

Shows com nomes da Portela e da Aruc comemoram os 3 anos do consulado da agremiação carioca na cidade

Irlam Rocha Lima
postado em 05/05/2019 06:30

A relação entre a Aruc e a Portela vem desde a década de 1960

A ligação da Aruc com a Portela é tão antiga que tem quase o mesmo tempo da inauguração de Brasília. Em 1962, vindo à capital, Natalino José do Nascimento, o Natal, patrono da escola de Madureira, fez o batismo da agremiação do Cruzeiro Velho. Desde então, essa relação entre elas se acentuou cada vez mais.

Uma prova disso é que, há três anos, a Aruc se tornou o consulado da Portela na capital. Isso será celebrado neste domingo, a partir das 17h, com uma festa na quadra da azul e branco brasiliense, tendo como atração principal um dos nomes mais representativos da maior vencedora do carnaval do Rio de Janeiro, o cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz.

No show que fechará a programação, ele terá a companhia do 7 na Roda, grupo de destaque do samba da cidade, que no final de 2018 se apresentou na Portela. Antes, subirão ao palco a Bateria Furiosa do DF, a Bateria Ritmo Quente (da Aruc), intérpretes, passistas, mestre-sala e porta-bandeira da agremiação cruzeirense. Na oportunidade, haverá o lançamento do tema-enredo e do samba-enredo da escola para o carnaval de 2020.

Moacir Oliveira, o Moa, presidente da campeoníssima do carnaval brasiliense se mostra confiante em relação ao retorno do desfile das escolas de samba na capital, previsto para o próximo ano: ;Há a promessa do governador Ibaneis Rocha da retomada do desfile em 2020, como parte da programação comemorativa dos 60 anos da cidade, que foi reiterada pelo secretário de Cultura, Adão Cândido. Agora em maio, haverá um seminário em que este assunto estará em pauta.;

Vocalista e pandeirista do 7 na Roda, Breno Alves destaca a persistência da Aruc ao manter uma atividade regular em sua sede, mesmo nos anos em que o desfile das escolas de samba deixou de ocorrer. ;O Moa e seus companheiros de diretoria da escola, sabem da importância da Aruc para a cultura de Brasília e, por isso, estão sempre criando projetos e eventos para manter a quAadra em funcionamento. A festa deste domingo está dentro desse contexto;.

O músico diz que vai ser um presente para o 7 na Roda acompanhar Marquinhos de Oswaldo Cruz. ;O Marquinhos é da linhagem de mestres como Monarco, com um trabalho voltado para o samba de raiz, que tem a Velha Guarda da Portela como guardiã. Já tocamos com outros grandes nomes do samba, mas é a primeira vez que estaremos ao lado do Marquinhos no palco;, comemora.

Festa da Portela na Aruc

Hoje, a partir das 17h, na quadra da escola de samba do Cruzeiro Velho. Ingresso: R$ 20. Não recomendado para menores de 16 anos.

Entrevista / Marquinhos de Oswaldo Cruz

Quando a Portela passou a fazer parte de sua vida?

Sou portelense desde sempre. Nasci em Madureira e, aos 12 anos, me mudei para Oswaldo Cruz, onde a Portela surgiu. Lá também nasceram os sambistas que fizeram a história da escola, como Manacea, Candeia, Casquinha, Mijinha, Chico Santana, Argemiro, Jair do Cavaquinho, Alcides Malandro Histórico, Tia Doca, Tia Surica. Adolescente, conheci todos eles, que costumavam fazer compra na loja de material de construção do meu pai, da qual eu era o caixa.

Como o caixeiro se transformou em sambista?

O Manacea, por quem tinha grande admiração, era um dos meus clientes na loja. Ele sempre levava o cavaquinho a tiracolo e acabava tocando e cantando seus sambas. Quando falei que queria ser sambista, ele me desencorajou. Disse que o samba não dava camisa a ninguém. Na verdade, tanto Manacea quanto outros grandes sambistas tinham uma vida sofrida. Mas não desisti e, tendo ele como referência, fui em frente. Aliás, o tomei como padrinho musical.

E o samba lhe deu camisa?

Tive que batalhar bastante, para viabilizar a carreira, atuando como cantor, compositor e produtor, nesses meus 40 anos de samba. Houve época, na década de 1990, que as rádios não tocavam samba. Só dava espaço na programação para o pagode. Aí busquei uma outra alternativa, e em 1996 criei o Trem do Samba, evento que passou a fazer parte das comemorações do Dia Nacional do Samba, celebrado em 2 de dezembro, inspirado no que via em Oswaldo Cruz.

O que vem a ser o Trem do Samba?

É uma roda de samba, com a participação de grandes sambistas, dentro do trem, que faz parte do calendário oficial de eventos do Rio de Janeiro. Sai da Central do Brasil e vai até o subúrbio. Para se ter ideia do sucesso, no ano passado, quando chegamos a Oswaldo Cruz fomos recebidos por mais de 100 mil pessoas, que participavam de outras 20 rodas de samba, entre a Portelinha (antiga sede da escola) e Rua João Vicente.

Quais foram os outros projetos criados por você?

Em 2003, criei com a Velha Guarda da Portela a feijoada da família portelense, que ocorre no primeiro sábado do mês. Cinco anos depois, comecei a promover a Feira das Yabás, inspirada em Tia Ester, Tia Vicentina, Tia Doca e outras pastoras. A feira funciona na Praça Paulo da Portela, onde são instaladas 16 barracas, em torno de um palco, onde comando uma roda de samba, sempre com a participação de convidados. Em geral, conseguimos reunir público superior a 10 mil pessoas. É gente de Oswaldo Cruz, de outros bairros do Rio, de outras cidades do Brasil e até do exterior.

Quantos títulos constam de sua discografia?

Lancei três discos: Uma geografia popular (2000), Memória de minha alma (2006) e Heranças (2014). Agora está sendo lançado o livro O caixeiro e os poetas, que traz um CD encartado. Os arranjos foram criados por Rafael dos Anjos, violonista brasiliense que foi diretor musical da banda de Arlindo Cruz e que produziu o disco mais recente de Diogo Nogueira.

Que relação você tem com Brasília?

Já estive algumas vezes em Brasília. Participei do projeto Gente do Samba, que o saudoso Jorge Ferreira promovia no Feitiço Mineiro; e estarei me apresentando na Aruc, afilhada da Portela, pela segunda vez. Agora vou ser acompanhado pelo grupo 7 na Roda, formado por jovens músicos que conhecem muito de samba.

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