Adriana Izel - Enviada especial
postado em 07/05/2019 13:19
Rio de Janeiro - Mais de um ano depois do lançamento da primeira temporada, a série O mecanismo, de José Padilha, chega à segunda temporada. A sequência, que tem oito episódios, estreia na sexta-feira (10/5), na Netflix.
A produção continua a história ficcional sobre os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que desmembrou um esquema de corrupção no Brasil. A temporada começa com foco na caçada por Ricardo Brecht, um dos empresários do chamado "Clube dos 13" -- uma referência ao empresário Marcelo Odebrecht -- e segue até o impeachment da presidente Janete Ruscov (Sura Berditchevsky) -- referência clara a Dilma Rousseff.
Para divulgar a série, os atores Selton Mello, Enrique Diaz, Caroline Abras, Jonathan Haggensen e Emílio Orciollo Netto e o criador e diretor José Padilha participaram de uma coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (7), no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Aos jornalistas, o elenco e o showrunner falaram sobre a nova leva de episódios de O mecanismo.
A primeira intenção do time foi apontar as mudanças na sequência da série, que foi bastante criticada na primeira temporada por uma postura anti-petista diante de um cenário político acalorado num ano eleitoral. De acordo com Padilha, essa ideia de que apenas o Partido dos Trabalhadores (PT) era citado na primeira temporada teve a ver com o momento histórico demonstrado na série, mas que, desde o início, ele bateu na tecla de que o mecanismo se tratava de algo apartidário e que isso fica ainda mais claro na segunda temporada.
"Sempre falei que o mecanismo não tinha ideologia. A história da Lava-Jato comprova essa tese (com a prisão de pessoas ligadas a outros partidos). A minha opinião que o mecanismo era apartidário continua a mesma", justifica o diretor.
Os atores também fizeram questão de se defender das críticas do público do fato de eles terem feito parte de uma série que tratava de uma questão política num momento crítico do país. "Achei um pouco triste e patético (esse tipo de crítica). Esse é o nosso trabalho: mostrar as dubiedades", comenta Selton Mello, um dos protagonistas da trama.
Selton ainda aproveitou para rebater as críticas sobre a sua narração na série, que foi classificada por algumas pessoas como incompreensível. "Eu não falo baixo, as pessoas que falam alto. (Risos). Foi um problema de mixagem. Mixaram mal", defende o ator, apoiado pelo diretor José Padilha que disse que a mixagem foi feita para cinema.
De volta ao tema político, Enrique Diaz deu sua opinião, mas antes fez questão se posicionar contra as milícias do Rio de Janeiro e soltar um "Lula livre", em referência à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Concordo com Selton Mello, mas entendo perfeitamente a reação das pessoas. Estamos vivendo um momento histórico. Isso também faz parte da liberdade de expressão. (...) Vejo uma mudança (na segunda temporada), ao mesmo tempo que o conceito (de José Padilha) estava claro (desde a primeira temporada). São dois momentos diferentes na dramaturgia. Essa segunda temporada mostra esse lado. O que não tira a marca que a primeira temporada assumiu naquele momento. Acho muito bom que isso se esclareça. Rever uma posição primária, que é confirmar num caso como esse", analisa.
Outra mudança de postura na série é em relação ao personagem do juiz Paulo Rigo (Otto Jr.), inspirado em Sergio Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública, que perde os ares de herói da primeira temporada. A alteração também foi justificada por José Padilha, que comparou a situação com o caso do goleiro Bruno, condenado pelo assassinato de Eliza Samúdio.
Segundo ele, a torcida do Flamengo não podia julgar o goleiro antes de saber do caso: "A mesma coisa vale para Moro. Estou contando a história da Lava-Jato. Ele começa como um herói. O erro do vazamento (do áudio da conversa entre Lula e Dilma Rousseff) foi criticado na segunda temporada. A série segue um caminho histórico". Padilha ainda teceu mais críticas ao ministro: "Saiu de herói nacional para salame fatiado".
Aposta nos dramas pessoais
"Acho que essa temporada está mais ampla", afirma Selton Mello em referência ao maior desenvolvimento dos dramas pessoais dos personagens. "Ruffo já começa (a série) com algo quebrado. Na primeira, ele está tentando lutar (contra isso). A barra foi pesando para ele. É um personagem muito bonito, que está todo errado", analisa o ator sobre o delegado afastado Ruffo, que, na primeira temporada, dá início às investigações contra Ibrahim.
Esse é o mesmo pensamento da atriz Caroline Abras, que interpreta a delegada Verena, que ganha ainda mais destaque na segunda temporada ao ficar à frente da operação. "Enxergo a Verena muito mais agressiva e obstinada. Ela sai do lugar de aprendiz e se coloca no lugar de mestre de Vander (papel do ator Jonathan Haggensen)", comenta.
Outro personagem que tem os dramas pessoais ampliados na sequência é o policial Vander. "O legal é que o Vander começa (a série) ingênuo e com sede de justiça e quando ele se depara com esse sistema percebe que tem que se posicionar. E vive esses dilemas éticos", diz o ator.
Se a primeira temporada de O mecanismo tem como foco o doleiro Ibraim, vivido por Enrique Diaz, a segunda temporada tem outro antagonista. É o empresário Ricardo Brecht, interpretado por Emílio Orciollo Netto. O ator revelou que, para viver o personagem, teve que mudar a rotina alimentar e emagreceu bastante chegando a pesar 65 kg durante os seis meses de gravação.
"Esse é um personagem que qualquer ator gostaria de fazer. Ele lida com o poder de forma gananciosa. Para um ator, o que a gente gosta é de um desafio. Ricardo é um prato cheio, um explosivo contido. Eu gosto de festa, de beber, de comer e Ricardo é o oposto. Esse lance físico, eu me jogava no personagem. Tinha uma entrega muito forte", revela Emílio Orciollo Neto.
Abertura ousada
Mais uma novidade da série é a abertura, que fica mais ousada mostrando momentos e personagens políticos da história do governo ao som da música Reunião de bacana, eternizada pelo trecho "se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão".
Segundo o diretor, a abertura estava pronta para a primeira temporada, no entanto, o receio de questões jurídicas a impediram de ir ao ar. "Essa era a abertura da primeira temporada. Não foi por questões jurídicas. A gente teve menos preocupação na segunda temporada do ponto de vista jurídico", comenta.
A repórter viajou a convite da Netflix