Diversão e Arte

Diretora de 'Meditation Park' revê a condição das mulheres em filme

Reintegração social, libertação, independência financeira e família brotam como temas da fita

Ricardo Daehn
postado em 08/05/2019 06:45
Meditation Park: sempre será tempo de mudança, no filme assinado por Mina Shum

;Sou muito agradecida diante do fato de que pessoas, em todo o mundo, querem ouvir o conto particular e épico da protagonista Maria. Ela foi abraçada em escala internacional, e daí eu estar tão comovida e grata;, comenta, ao Correio, a diretora canadense Mina Shum. Ela é roteirista e produtora do longa Meditation Park, filme independente que trata de feminismo e de crise existencial para uma senhora de origem chinesa. Para explicar a importância do conteúdo de Meditation Park, Mina recorre à emblemática atriz (também candense) Sandra Oh, com a qual trabalha pela terceira vez, em 20 anos, depois de Os dois lados da felicidade (2007) e Vida longa, felicidade & prosperidade (2002): ;Numa entrevista, Sandra disse que o filme era um conto feminista incrivelmente moderno e inovador. Concordo plenamente;.

Integrante da seleção oficial do Festival Internacional de Toronto e atração especial de mostra de cinema em Vancouver, Meditation Park é um filme que valoriza a retomada de ações firmes, em personagem da terceira idade interpretada por Cheng Pei Pei (de O tigre e o dragão e do inédito live-action Mulan). ;A razão pela qual Maria não tem poder, inicialmente, em sua história, ao ser invisível, é exatamente remediada, ao se fazer um filme sobre ela e lançá-lo nos cinemas. Sua história é a de uma super-heroína. E o público está dizendo que queremos ver mais Marias;, observa a realizadora. Reintegração social, libertação, independência financeira e família brotam como temas da fita.

;Estou muito feliz com a disposição de o Brasil e a Colômbia terem abraçado o lançamento do filme. No painel otimista, noto que se toma a narrativa como um remédio. Há um ditado que diz: ;Você tem que ver as coisas, a fim de vivenciá-las;. Todos nós queremos ver toda a humanidade refletida na tela, sem exceções;, reforça Mina Shum, ao tratar do fator inclusivista de Meditation Park. Autoconhecimento e reconsiderações sobre a relação com os parentes levam Maria à radicalização, depois de, aos 60 anos, se dar conta das traições sistemáticas do marido (papel de Tzi Ma).

A diretora, que tem no currículo prêmio de melhor realizadora estreante (pelo Festival de Berlim), espera que Meditation Park se afirme como um conto de fortalecimento, um filme ;esperançoso; diante de legados de impotência. ;De certa forma, você poderia olhar para as lutas humanas como se fossem simples, com o foco singular: vence quem tenha o poder. Eu proponho neste filme a ideia de que temos mais poder do que pensamos. Podemos amadurecer a qualquer momento, mas precisamos encontrar o amor por nós mesmos para fazer isso. No caso de Maria, ela passou a vida inteira pensando nos outros;, comenta a realizadora.

Multifacetados

Interpretado em inglês, cantonês e mandarim, Meditation Park é o quinto longa da carreira de Mina, que já esteve em seleções de festivais como os de Sundance e Berlim. Para além do cinema, ela investe na criação de instalações de arte e ainda escreve artigos para a imprensa estrangeira. Entre elogios que já coletou, na avaliação internacional, Mina Shum foi saudada pelo jornal The New York Times como dona de trabalho ;irônico e sedutor;. Outro talento múltiplo está exposto na telona, com Meditation Park: o ator, escritor e diretor Don McKellar.

Na tela, Don, que é autor do renomado musical A madrinha embriagada (vencedor do prêmio Tony) e que ganhou o Prêmio da Juventude (em Cannes) pela direção do longa A última noite, com elenco recheado por personalidades como David Cronenberg e Genevi;ve Bujold (Ana dos mil dias), dá vida ao papel do vizinho de Maria, um homem que ajuda na etapa de renovação.

E quanto à vencedora de dois prêmios Globo de Ouro (por Grey;s Anatomy e Killing Eve), Sandra Oh? Ela, na tela, é a filha de Maria, sempre assoberbada pelo trabalho e pela criação dos filhos. Claro que, numa avaliação da diretora Mina Shum, Sandra Oh só coleciona elogios. ;Destaco sempre o coração de Sandra, sua bravura, sua habilidade: para conjurar a alma dos personagens que ela habita, Sandra ecoa o melhor de um artista: canaliza nossas mais profundas intuições, e, nisso, nos alerta de que nunca estamos sozinhos;, conclui.

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